João Henriques esteve várias vezes perto de rumar ao futebol sueco, mas numa delas não quis esperar duas semanas e aceitou o desafio de treinar no Funchal. Uma opção tomada no momento errado, assume
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Além da ligação ao futebol polaco, também tem uma grande ligação ao futebol sueco. Como é que surgiu esse gosto?
—Essa ligação começou pela minha amizade com Stefan Schwarz [ex-jogador do Benfica], que sempre me disse que era um campeonato muito interessante e que gostava de ver-me treinar algumas equipas na Suécia. E depois, naturalmente, com a minha proximidade e quase a fechar alguns contratos, os clubes foram sempre estando interessados e perguntaram sempre por mim em determinadas alturas. Nunca foi possível chegar a acordo final, mas estivemos muitas vezes perto. E é um campeonato também muito interessante.
Disse que esteve quase para ser fechado algumas vezes, mas nunca conseguiu. O que é que se deveu esse quase?
—Uma delas foi uma questão de timing. O AIK de Estocolmo queria que fosse o treinador, mas teria que esperar algum tempo. Pelo meio, surgiu um convite do Marítimo. E eu dei prioridade ao AIK de Estocolmo, mas sem garantias nenhumas, que não me puderam dar na altura. Optei pelo seguro, de ir para o Marítimo, que era uma proposta concreta, em cima da mesa, com tudo para fechar, no espaço de 24 horas. No caso do AIK de Estocolmo, era uma situação que eu teria que esperar mais duas, três semanas para se concretizar. Depois, até perguntaram se já tinha fechado ou não, e eu quando disse que estava no Marítimo… pronto, não se concretizou. Outras situações acabaram por não acontecer, por alguns desacordos em termos de estrutura. Estive por duas vezes na “shortlist” e era um dos treinadores que foi entrevistado, estive nos clubes. Mas acabaram por optar por treinadores escandinavos, porque eles sentiam que tinham mais experiência daqueles campeonatos. Foi essa a lógica.
Arrependeu-se de ter assinado pelo Marítimo?
—Arrependi-me por tudo o que aconteceu a posteriori, não pelo clube que é o Marítimo. Na situação em que estava, arrependi-me. Deveria ter esperado essas duas, três semanas e ido para a AIK de Estocolmo, mas não aconteceu. São aquelas decisões que se tomam e, depois, percebemos que não foi a melhor de todas. Volto a reforçar, o Marítimo é um grande clube, todos nós ambicionamos passar por clubes desta dimensão como o Marítimo, mas o momento não era o melhor. Sabia, sim, que o clube não tinha pontos na altura em que fui e assumi esse risco. Mas não houve só as questões pontuais, foram outras questões, em termos de estrutura, que fizeram com que eu percebesse que foi o momento errado para entrar no Marítimo. E arrependi-me.
“Gosto de ser aventureiro”
Técnico lamenta falta de paciência em Portugal e destaca o Santa Clara, que dá estabilidade
Esta temporada houve um recorde de despedimentos de treinadores em Portugal. Sente que há cada vez menos paciência?
—Sem dúvida. Acho que é uma boa lição para todos perceberem que os clubes que não mudaram de treinador foram aqueles em que as coisas correram melhor. E tiveram alturas em que houve algumas dúvidas e questões sobre os treinadores que estavam. Falo do Estoril, que não começou extraordinariamente bem a época, mas acabou muito bem. Falo do Nacional, que não começou muito bem, mas assegurou a permanência e esteve bem. Nestes três casos, não mudaram de treinador, justificaram a paciência que tiveram com eles. Estou completamente de acordo com isso. Os trabalhos devem ter um princípio, meio e fim e devem ser avaliados no fim, obviamente. Acho que foi um exagero e as decisões, muitas delas, foram precipitadas. É um ponto negativo desta época.
Um dos clubes que tem demonstrado maior estabilidade é o Santa Clara, onde também já esteve. É uma prova do sucesso?
—Sem dúvida. Foi um clube que, no tempo em que lá estive, deu a mesma estabilidade. Prosseguiu depois de eu sair e atingir as competições europeias e, atualmente, está a fazer novamente um trabalho com grande estabilidade para o treinador, para os jogadores e, naturalmente, depois, isso vê-se na tabela classificativa, nas exibições e nas transferências que vai tendo.
Prefere treinar no estrangeiro ou um dia vê-se a voltar para Portugal?
—Portugal é sempre um destino que gosto. Estou sempre aberto a propostas ambiciosas e que, de acordo com a altura da minha carreira, sejam interessantes. Mas fora, somos muito mais reconhecidos pelo nosso trabalho. Gosto de ser aventureiro e ir à procura de campeonatos e projetos estimulantes, como o Radomiak.