ENTREVISTA A ANDRÉ SILVA (PARTE 3) - Em vontade de vencer, ninguém é mais forte do que Portugal, garante o goleador. Os rivais parecem acessíveis, mas fica o alerta: estavam em grupos com seleções fortíssimas e conseguiram apurar. Portugal joga em casa e o avançado do Sevilha só pensa em festejar o primeiro título importante. Apesar disso, não sente a equipa favorita.
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André Silva estreou-se há pouco mais de dois anos pela Seleção Nacional (tinha 20 anos, nove meses e 26 dias) e vive um conto de fadas só interrompido pelo momento mais importante: o Mundial, para o qual partiu como favorito a jogar, mas foi preterido do onze por Fernando Santos. Recuperou com três golos em quatro jogos na Liga das Nações (15 golos em 31 internacionalizações) e aponta agora a um sucesso retumbante no verão, na final-four que Portugal organiza.
"Sinto-me importante na seleção e a equipa sente-se bem comigo lá"
- Em 2018 houve Mundial, mas não correu bem nem do ponto de vista coletivo nem individual. Assume que saiu frustrado da prova?
- Não lhe chamo frustração, mas não foi tão bom como poderia ter sido. Mas foi o momento que me fez perceber que há muito caminho pela frente. Não estava bem no Milan e talvez tenha sido por isso que as coisas não me correram bem.
- O Fernando Santos explicou-lhe porque jogou sempre no apuramento e foi suplente no Mundial?
- Nesta fase, os jogadores já não precisam que lhes expliquem as coisas. Os treinadores estão lá porque merecem e sabem o que fazer. Não somos crianças e ninguém tem de nos explicar. É preciso continuar e esperar que a oportunidade volte.
- Segue-se a final-four da Liga das Nações e, nesta forma, não há grandes dúvidas de que o André vai jogar...
- Primeiro, tenho de dizer que não é certo que vá à seleção e jogue [risos]...
- À seleção irá e se estiver com estes números deve ser para jogar...
- Trabalho para ser assim. Nessa prova tudo tem corrido bem e tenho sentido um papel importante. Sinto também que a equipa se sente bem comigo lá. Mas é preciso continuar para superarmos o nível.
- Não ganhar ou chegar à final da Liga das Nações será um fracasso?
- É uma frustração, porque ninguém gosta de perder e ainda por cima estamos a jogar em casa. Também o será para as outras seleções. Mas nós queremos ganhar tanto ou mais do que as outras.
- Mas concorda que Portugal, a jogar em casa e com este alinhamento [defronta a Suíça nas meias-finais], é favorito?
- Não sei se é favorito, porque as outras disputaram a fase de grupos com seleções grandes, que até estão acima de nós no ranking da FIFA e passaram à fase final... Não sei se somos favoritos, mas fomos uma das seleções que mais fizeram para chegar à fase final.
"O Mundial"2018 foi o momento que me fez perceber que há muito caminho pela frente"
"Sem CR7 também correu bem"
A maior figura da fase de grupos da Liga das Nações deve voltar a ter CR7 ao lado na final-four. Um regresso que André deseja. Os elogios do jogador da Juventus e uma parceria que ia da seleção ao... imaginário do Real Madrid. Um orgulho, garante.
- Nos primeiros tempos de seleção ouviu muitos elogios de Cristiano Ronaldo e este aprovou a parceria. Entretanto, na Liga das Nações fez o apuramento sozinho, mas agora CR7 deve voltar. Está a contar com isso ou é-lhe indiferente?
-Todas as seleções querem o melhor jogador do mundo e nós não fugimos à regra. Jogar com o Cristiano é outra coisa. É o melhor e todos querem jogar com o melhor ao lado. Mas não esteve e sem ele também estivemos bem.
- Falou-se de uma dupla com ele no Real Madrid. Isso já não vai acontecer, mas chegou a imaginar?
- Nunca me chegou aos ouvidos, nunca soube de nada, mas se algum dia o Cristiano me tivesse sugerido ao Real, teria ficado muito satisfeito porque era bom sinal.
"Na seleção, o principal foco é não sofrer golos"
A primeira fase da Liga das Nações denunciou uma Seleção de Portugal mais alegre e ofensiva por comparação com aquela que esteve no Mundial"2018 e até a que foi campeã europeia em 2016. Mudança de paradigma? "Isso já é melhor falar com o míster Fernando...", riu André Silva, ainda que reconheça que "principalmente na Polónia isso se notou". "Podíamos ter feito mais golos e acabamos a sofrer dois. O nosso objetivo é sempre marcar mais um golo do que o adversário, mas não sofrer é o principal foco", acabou por confessar, muito esperançado no futuro: "Há muito talento e um grupo grande de jogadores com muito para dar."