Alexandre Santos pode fazer história em Angola: "Vão ser 180 minutos de sofrimento"
Treinador português joga este sábado pelo Petro de Luanda a primeira mão da meia-final da Liga dos Campeões Africana e revela a O JOGO que o trajeto tem sido "memorável" e a confiança tem subido gradualmente.
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Alexandre Santos comanda o Petro de Luanda, que este sábado entra em campo frente ao Wydad Casablanca na esperança de somar um bom resultado na primeira mão da Liga dos Campeões Africana. O peso da história está na comitiva: é que nunca uma equipa angolana chegou à final da prova.
O técnico português revela a O JOGO a confiança, sabendo da dificuldade que se avizinha, revelando também que os resultados refletem o bom futebol implementado.
Está às portas da final da Liga dos Campeões Africana. Era um objetivo seu quando abraçou o projeto do Petro de Luanda em 2021?
-Não conhecia bem a Liga dos Campeões Africana quando cheguei. Sabia que era a melhor competição, mas não sabia onde podíamos chegar. O primeiro objetivo era atingir a fase de grupos. Tínhamos uma semana de trabalho quando começámos a competir, depois tivemos tempo para trabalhar a segunda fase. Até final de janeiro tivemos chance de passar por muita coisa. Passámos um certo patamar. E percebemos que, ao empatarmos no campo do Zamalek, uma equipa com história na prova, seria possível disputar a prova. Foi uma prova pensada para evoluirmos, mas só tendo perdido um jogo, o último da fase de grupos, começámos a vê-la de outra forma.
O que espera encontrar nesta meia-final frente ao Wydad Casablanca?
-Já conhecemos bem o adversário. Será difícil e equilibrado: podemos ganhar, perder ou empatar. É possível chegar à final, temos essa convicção, que é muito forte, e ajuda-nos o que nos aconteceu com o Wydad. Quando lá fomos, no segundo jogo da fase de grupos, não esperávamos sair de lá com uma derrota por 5-1. Foi muito bom. Percebemos que não podemos errar, que as coisas ficam difíceis quando tudo fica resolvido aos 30 minutos. Sofremos cinco golos nesse jogo, tantos quantos os que sofremos nos outros cinco embates. E sabemos que marcámos golos em todos os jogos fora da Liga dos Campeões. O que é importante porque contam a dobrar nesta fase a eliminar. E o Wydad perdeu em Luanda: foi a única partida que perderam. Vão ser 180 minutos de sofrimento para ambos. É possível estarmos na final.
Sente-se um treinador especial por estar a fazer esta caminhada, que pode até fazer com que pela primeira vez um clube angolano esteja na final?
-Os adeptos só falam disso, claro. Temos consciência da importância do jogo para o clube e para o país. Nunca houve uma equipa angolana na final. A equipa está convicta de que quer mais, sabendo que será muito difícil e que tem de ser fortíssima nas duas mãos. Com a ambição que temos tido e com muita inteligência é possível chegar à final. Sou treinador principal, de forma contínua, desde 2018. Sinto acima de tudo que esta é uma época muito especial. Já o é. Ainda mais será se concretizarmos os nossos objetivos. Poderemos juntar uma final desta competição ao Girabola e à final que aí vem pela Taça de Angola. Sinto-me muito contente. Viemos realizar um grande trabalho. Sinto-me especial fundamentalmente porque os jogadores acreditaram no que fui definindo, na forma como os fui provocando no bom sentido. Jogamos um jogo diferente de outros anos do Petro de Luanda. Isso dá-me muita satisfação, porque sentimos que estamos bem nos resultados porque evidenciamos uma superior qualidade de futebol. Os resultados da Liga dos Campeões derivam disso.
"Sucesso deriva do trabalho de Bruno Vicente"
Alexandre Santos foi contratado pelo aconselhamento de Bruno Vicente, diretor desportivo que esteve no Vilafranquense e abraçou o desafio em Angola em 2021, ajudando o clube a conquistar a Taça de Angola. O técnico presta elogios ao dirigente, que aconselha os líderes do clube: "Para ter sucesso são precisos muitos fatores. Às vezes temos a melhor equipa e faltam outras coisas. A formulação do plantel foi bem feita e o sucesso da época deriva do trabalho do Bruno Vicente, que começou a construir o grupo de trabalho".
"Adeptos sentem que título no Girabola é dado adquirido"
Líder do Girabola com oito pontos de avanço sobre o Sagrada Esperança, que tem mais um jogo disputado, o Petro só precisa de somar quatro pontos em cinco jogos para ser campeão. Alexandre Santos elogia a seriedade dos atletas neste contexto de domínio.
O percurso na Liga dos Campeões tem ofuscado o domínio absoluto no Girabola?
-Os angolanos sentem que o Girabola é um dado adquirido, mas bastava termos perdido pontos para que as coisas tivessem mudado rapidamente. Com as duas vitórias conquistadas em jogos em atraso, ficámos a quatro pontos de garantir, matematicamente, o título. Não creio que os adeptos deixem de sair à rua para fazer a festa, mesmo que neste momento estejam eufóricos com a Champions.
Arriscam-se a conquistar o título horas antes da viagem para Portugal. É o cenário desejável?
-O calendário permite que joguemos na terça-feira [Académica do Lobito] sabendo do resultado do Sagrada Esperança, no fim de semana. Sabemos que isso pode acontecer caso eles percam. Não acredito que os meus jogadores, se puderem ser campeões, queiram deixar para outro dia. Se formos campeões nessa altura, a pena é não podermos festejar porque quarta-feira vamos para Portugal.
Tem sido fácil reagendar os jogos em atraso?
-Temos conseguido gerir. Houve uma boa relação entre clubes, sabendo da importância da Liga dos Campeões.
"Clube permite-me ganhar títulos"
Alexandre Santos renovou por até 2023 com o Petro, prova de confiança para a época que vai fazendo, e explica a naturalidade da decisão.
A renovação de contrato dá confiança para esta fase final da temporada?
-Logo no momento em que começámos as negociações, o clube fez-me uma abordagem muito forte para que continuasse. Deu-me boas perspetivas para lutar por títulos. Não foi difícil querer continuar. Estou longe da família, mas gosto de cá estar. Conjugando os aspectos desportivos e financeiros, não me passava pela cabeça não renovar. Espero que consigamos os objetivos, a renovação é reflexo de satisfação mútua.
Considera que vai ter argumentos para manter o êxito em 2022/23?
-Queremos fazer uma boa Liga dos Campeões. Há o esforço para manter a equipa. Há a preocupação de conseguirmos ter um plantel forte para lutar pelo título. E os jogadores estão agradados, porque a Champions é uma montra importante.