Imbatível no Palmeiras, Abel Ferreira supera Jorge Jesus e tem melhor arranque de todos os técnicos portugueses no Brasil
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Talvez, nem o próprio Abel Ferreira pudesse imaginar um arranque tão promissor no Brasil. Há menos de duas semanas no país, o treinador português já soma quatro vitórias pelo Palmeiras. Mais do que isso: vê seus comandados acumularem boas exibições e assiste à equipa a apresentar boa evolução jogo a jogo. Não em vão, desde já, é recorrentemente elogiado pela imprensa brasileira. O início promissor já faz Abel Ferreira ter o melhor arranque entre todos os treinador portugueses no Brasil.
Manter eternamente os 100% de aproveitamento é irreal para uma equipa que enfrenta simultaneamente competições tão distintas e difíceis, como o Brasileirão e as Taças do Brasil e a continental Libertadores
As comparações com a emblemática e recente passagem de Jorge Jesus pelo Flamengo são inevitáveis. Afinal, foi o treinador, atualmente à frente do Benfica, o português de maior sucesso no país até aqui. Em 13 meses, conquistou cinco títulos relevantes. Atingiu um aproveitamento de 81,6%. Mas o começo, não foi fácil. E aí podemos apontar, por que não, uma vantagem neste início de trabalho de Abel Ferreira.
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Os quatro primeiros jogos de JJ no Flamengo vieram com três empates e uma vitória. Aproveitamento de 50%. Metade do que Abel no Verdão. Além disso, outra coincidência: assim como Jesus, Abel também se estreou na Taça do Brasil. A diferença entre os dois é que o Palmeiras, nos oitavos de final, eliminou o RB Bragantino, enquanto o Flamengo foi eliminado nos penáltis pelo Athetico-PR, em pleno Maracanã.
Obviamente é muito precipitado apontar qualquer projeção de que o Abel Ferreira pode ter mais sucesso que o compatriota na América do Sul. Manter eternamente os 100% de aproveitamento é irreal para uma equipa que enfrenta simultaneamente competições tão distintas e difíceis, como o Brasileirão e as Taças do Brasil e a continental Libertadores, esta última uma prova na qual Abel vai estrear-se a 25 de novembro, contra o modesto Delfín, do Equador.
A lista de feitos de Jesus é imensa. São os títulos da Libertadores de 2019, Campeonato Brasileiro de 2019, Supercopa do Brasil de 2020, Recopa Sul-Americana 2020 e Carioca de 2020. Não se pode, nem se deve, colocar um peso assim às costas de Abel Ferreira desde já. Sobretudo para um treinador de apenas 41, com um futuro promissor, mas que jamais levantou um título profissional na carreira.
O que faz crescer os olhos ao arranque de Abel são os números aliados ao bom futebol. Vitórias impositivas sobre Bragantino (1-0), Vasco (1-0), Ceará (3-0) e Fluminense (2-0), com gradativa evolução da equipa, acabam dando ânimo a qualquer projeção. Principalmente quando o recorte vem da comparação com a experiência de outros estrangeiros, que provaram das dificuldades para se adaptar ao futebol brasileiro.
No Santos, o experiente Jesualdo Ferreira sentiu essa adaptação na pele. Atrapalhado pela pandemia, viu o trabalho ficar sem sequência. Não se adaptou ao sistema brasileiro. Teve um arranque razoável, com um empate, duas vitórias e uma derrota: 58% de aproveitamento. No total, o português de 74 anos não resistiu aos maus resultados e à eliminação precoce no Campeonato Paulista. Foram 15 jogos, com seis vitórias, quatro empates e cinco derrotas: 48% de aproveitamento.
Com um plantel bem mais inferior em mãos, Ricardo Sá Pinto, o português à frente do Vasco, arrancou com uma vitória, uma derrota e dois empates: início de 41,7%. Ciente das limitações da equipa, sabe que vai lutar apenas para evitar a despromoção vascaína. A inspiração de Abel pode estar nos argentinos. Estrangeiros que deram e estão dando certo no Brasil.
À frente do Atlético-MG, Jorge Sampaoli é o líder do Brasileirão com 38 pontos - quatro à frente do Palmeiras, 5º qualificado. O arranque pela equipa mineira veio com três vitórias e um empate, bem próximo ao feito de Abel no Palmeiras. Porém, Sampaoli já vinha de um vice-campeonato pelo Santos, que ficou apenas atrás do Flamengo de JJ em 2019.
O mesmo vinha fazendo o técnico Eduardo Coudet, que deixou o então líder do campeonato, o Internacional, para assumir o Celta de Vigo, da Espanha. Na equipa gaúcha, o argentino começou com três vitórias e um empate.
Inspiração que se soma aos exemplos, positivos e negativos, que Abel pode tomar para seguir com os pés no chão e firme no trabalho que tende a ser bom no Brasil. Não se sabe, entretanto, se tão bom para seguir ou superar as expectativas que o "estrago" provocado pelo furacão Jorge Jesus deixou no país do futebol.