Na primeiro encontro, na Turquia, os adeptos da casa assobiaram durante a entoação da "Marselhesa"
Corpo do artigo
As autoridades francesas estão a precaver-se para a eventual ocorrência de incidentes relacionados com o jogo de segunda-feira entre as seleções de França e da Turquia, a disputar em Saint-Denis e a contar para a fase de apuramento para o Europeu de 2020. Há já cerca de duas semanas que o encontro tinha sido considerado de alto risco, mas o perigo aumentou com o recente desenvolvimento de um contexto político que agravou as já de si tensas relações institucionais entre os dois países.
A afluência elevada de adeptos turcos é a raiz de todas preocupações, uma vez que o Estádio de França, nos arredores de Paris, tem capacidade para 80 mil pessoas, esperando-se a presença de "30 a 40 mil adeptos" da equipa visitante, segundo escreve o "L"Équipe". A partida gera natural entusiasmo entre a comunidade de ascendência turca a residir em França, mas espera-se também que milhares de emigrantes (e descendentes) daquele país viajem desde a Alemanha, Bélgica ou Suíça. Os franceses prepararam um dispositivo de segurança que inclui a participação de 600 polícias e de 1400 assistentes de recintos desportivos. Também foi proibida a venda de álcool nas imediações do recinto.
O historial dos jogos entre estas seleções aconselha igualmente alguma prudência. Em primeiro lugar porque o último duelo realizado em França, em junho de 2009, foi interrompido a cinco minutos do fim na sequência do lançamento, por parte dos adeptos turcos, de artefactos pirotécnicos para dentro do relvado. Por outro lado, já durante esta fase de qualificação, na partida disputada em Konya (Turquia), os adeptos da casa presentearam os adversários com uma assobiadela coletiva no momento em que se ouviu a "Marselhesa" (hino nacional). O presidente francês Emmanuel Macron não gostou do gesto, considerando a atitude "inaceitável".
Mas este não foi o único incidente diplomático entre os dois países, longe disso. Apesar de uma histórica amizade (desde 1536), nos últimos anos as relações têm-se deteriorado, a ponto de esta semana, na revista "Le Point", o escritor Arthur Chevallier ter afirmado que "em menos de 20 anos, Recep Erdogan [presidente turco] destruiu uma aliança preservada durante cinco séculos".
Lembra o "Le Parisien", por outro lado, que a França votou contra a entrada da Turquia na União Europeia, reconheceu oficialmente o genocídio da Arménia e sempre apoiou os combatentes curdos, agora atacados por Erdogan numa ofensiva militar que já provocou cem mil desalojados no nordeste da Síria. Macron também condenou o ataque, exigindo o fim imediato da operação militar. Erdogan, por sua vez, respondeu: "Não vamos ceder às ameaças [do Ocidente]!". Ontem mesmo, em Paris, duas mil pessoas manifestaram-se contra o ataque, mas, em sentido contrário, os jogadores e o staff da seleção turca apoiaram implicitamente a iniciativa, comemorando um golo à Albânia com uma saudação militar. Logo após o encontro, dentro do balneário, o grupo tirou uma fotografia com jogadores e treinadores a fazerem a continência, numa foto depois reproduzida numa página oficial da seleção nas redes sociais.
11401442