A incrível história de Pedro Correia, um central nascido em Portugal na final da Taça Asiática
Defesa nascido em Portugal defende a camisola do Catar e pode conquistar a Taça Asiática .A O JOGO explica o segredo da seleção.
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Pedro Miguel Carvalho Deus Correia, mais conhecido no mundo do futebol por Ró-Ró, nasceu em Portugal a 6 de agosto de 1990 e foi criado em Mem Martins. Descendente de cabo-verdianos, este defesa, hoje com 28 anos, estreou-se como sénior pelo Farense em 2009, mas no ano seguinte mudou-se para o Aljustrelense, de onde partiu para uma aventura que lhe mudaria a vida. Em 2010, recebeu uma proposta para jogar no Al-Ahli do Catar e cinco anos e meio depois, já ao serviço do Al-Sadd (onde trabalha às ordens de Jesualdo Ferreira) recebeu um convite da federação catari para se naturalizar e representar a seleção. Agora, o defesa-central é um dos indiscutíveis da equipa que está a fazer sensação na Taça Asiática e hoje pode ajudar o Catar a vencer pela primeira vez o título continental, na final contra o Japão. A O JOGO, recorda o seu percurso e antecipa um desafio que pode ser histórico.
O Catar está na final da Taça Asiática após golear, por 4-0, o anfitrião Emirados Árabes Unidos. Como descreve esse feito?
-Não tenho palavras para descrever, é incrível. É fantástico fazer parte deste momento histórico do futebol do Catar, que nunca chegara tão longe na Taça Asiática, nem aos quartos de final. Agora, temos de pensar também no jogo decisivo que será muito difícil.
A equipa completou seis jogos sem sofrer golos, algo inédito na competição. Como explica essa solidez defensiva?
-Sim, é um feito. Estamos a trabalhar há muito tempo no duro, sobretudo desde julho, na preparação desta Taça Asiática. Trabalhámos todos os sectores e não só a defesa. É verdade que na defesa, onde jogo, temos sido muito eficazes, mas toda a equipa tem tido um elevado rendimento, também no ataque. Naturalmente estamos muito felizes por ainda não termos consentido qualquer golo, tem sido muito importante para nós.
Pelo historial e palmarés, o Japão é considerado favorito. Concorda?
-O Japão é uma seleção com grande história, temos de os respeitar muito. Mas temos de ir para a frente, jogar com todo este moral que conquistámos até aqui e apresentando o nosso futebol, a nossa identidade. Somos uma família dentro de campo, temos de nos entreajudar todos, é a única forma de podermos ganhar a final. O Japão tem grande equipa, grandes jogadores, mas estamos a preparar intensamente a final.
De que forma chegou à seleção do Catar?
-Já estou há nove anos no Catar e quando me mudei para o Al-Sadd, após cinco anos e meio aqui, o presidente da federação apresentou-me um convite para me naturalizar. Foi uma conversa normal e aceitei a oportunidade porque abria-me a possibilidade de disputar competições importantes como esta Taça Asiática, a Taça do Golfo, no final desta época a Copa América e, espero eu, o próximo Mundial que se joga no Catar.
Nasceu em Portugal, tem raízes cabo-verdianas, nunca surgiram oportunidades nestas seleções?
-Cheguei a jogar por Cabo Verde quando era júnior, disputei e ganhei o ouro nos Jogos Lusófonos disputados em Portugal. Depois, vim para o Catar e Cabo Verde nunca mais me convocou, enquanto por Portugal nunca houve qualquer hipótese ou contacto. Mas, graças a Deus, agora estou aqui, muito feliz nesta seleção do Catar e isso é o mais importante.
Sente que em Portugal não recebeu a atenção devida dos clubes por onde passou ou de outros?
-Não sinto nada disso, nem rancor. São oportunidades que aparecem. O Catar foi a minha oportunidade que não tive aí, se calhar porque havia outros miúdos com mais talento do que eu. Estou feliz, estou bem e continuo a desejar o melhor para Portugal e Cabo Verde, quero vê-los ganhar.
Em nove anos que leva no país a qualidade do futebol catari mudou muito?
-Desde que cheguei, evoluí imenso. Os jogadores estrangeiros ajudaram imenso a evoluir e a fazer crescer os mais jovens, alguns com grande talento. A nossa equipa é ainda muito jovem, com muitos jogadores saídos das academias que foram criadas. Estão a fazer um trabalho muito bom para preparar e apresentar uma equipa competitiva no campeonato do mundo de 2022. Houve uma grande evolução.