Gérard Armand continua a garantir que foi dador, mas há um processo reaberto depois de se conhecer uma escuta em que o então presidente do Barcelona diz ter comprado, no mercado negro, um fígado para o jogador
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O caso chocou o mundo do futebol em 2011. Eric Abidal, do Barcelona, padecia de cancro hepático. Fez tratamento, recuperou, ganhou a Champions no mesmo ano, mas no seguinte voltou a ser-lhe detetado um tumor no fígado. Nessa altura necessitava de um transplante urgente, porque tinha bem mais do que a carreira em risco.
O processo clínico correu a tramitação normal e a vida de Abidal foi salva - quase em tempo recorde - porque um primo se ofereceu para lhe ceder uma parte do fígado, de modo a ser feito um transplante (é assim que funciona o transplante entre vivos), e a intervenção clínica foi um sucesso.
A recuperação foi morosa, mas 402 dias depois era reintegrado no plantel do Barça. Na época 2012/13 fez apenas quatro jogos pelo emblema catalão e, apesar de ter renovado contrato em janeiro de 2013, no final da época anunciou a saída. Jogou depois uma época no Mónaco e retirou-se em 2014 no Olympiacos, da Grécia. Saiu de cena aos 35 anos e apontado como exemplo de dedicação e persistência.
A história de sucesso foi ensombrada em 2017, quando Sandro Rosell, presidente do Barcelona ao tempo da doença de Abidal, estava a ser investigado por crimes fiscais e foi apanhado numa escuta a dizer a um funcionário do clube que tinha comprado, no mercado negro, um fígado para o internacional francês.
Abidal desmentiu tal possibilidade e até publicou fotos em que ele e o primo (que corroborou a história) apareciam lado a lado no hospital.
O caso chegou à justiça mas foi encerrado na altura. Em janeiro deste ano foi reaberto, porque prevalece a suspeita de se estar perante um caso de tráfico de órgãos. Segundo os magistrados que investigam o caso, não consta do Hospital Clínico de Barcelona qualquer documento de identificação do dador, nem a sua autorização de residência.
Dez meses depois da reabertura do caso, Gérard Armand, o primo de Abidal apresentado como dador, deu uma entrevista em que semeia dúvidas. Tem uma certeza: foi ele quem doou o fígado. Se alguém fez negócio, desconhece, mas espera que Abidal não esteja metido num esquema fraudulento. "Eu acho que algo aconteceu, espero que o Eric não tenha nada a ver com isso", disse ao "El Confidencial".
Gérard Armand garante ter ficado surpreendido e petrificado quando soube das conversas entre Sandro Rosell e Juanjo Castillo, empregado do Barcelona. "Não entendi nada. Fui eu quem doou o órgão ao Eric. Fiquei um mês e meio no hospital e a minha família veio visitar-me. Quando soube disto, até fiquei atordoado. Ria-me e perguntava-me: "O que diz essa gente?""
Sobre as notícias que se seguiram, respondeu que continuava "sem perceber nada" e com o passar dos meses pergunta a si próprio "se será possível que alguém tenha lucrado" com o seu corpo.
O primo confia que Abidal esteja inocente. "Agora, com o tempo, começo a fazer perguntas e creio que pode ter acontecido alguma coisa. Espero que o Eric não tenha nada a ver com isso, senão a coisa vai ficar muito feia." Mas repete que nada cobrou pela doação e diz-se um homem sério e honrado.
Na mesma entrevista, Gérard revela não ter agora "nenhum tipo de relação" com Abidal, quando antes da operação tinham "um relacionamento muito bom". Depois, pouco a pouco ele foi desligando. "Há oito ou nove meses que não falo com ele, não tenho notícias dele, mas tudo o que quero é retomar minha vida normalmente."
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Os cancros e as curas
Eric Abidal usava o número 22 na camisola e tinha uma explicação curiosa: "O número da esquerda representa quantas vezes tive cancro. O número da direita representa quantas vezes o venci."
Momento: depois do primeiro tumor, na final da Champions de 2011, Carles Puyol entregou-lhe a braçadeira de capitão para ser ele a receber o troféu.