Epopeia de Ronaldo começou há 20 anos: os recordes e os melhores momentos
Foi neste dia, em 2003, que Cristiano Ronaldo somou a primeira internacionalização por Portugal
Corpo do artigo
A 20 de agosto de 2003, numa noite em Chaves, Portugal jogou um daqueles encontros particulares que não provocam grande entusiasmo, contra o Cazaquistão. Depois do 0-0 ao intervalo, Luiz Felipe Scolari faz várias mexidas e uma delas passou pela entrada de Cristiano Ronaldo. O miúdo que começava a abrir bocas de espanto pela maneira como parecia diabólico tirar-lhe a bola, ao ponto de ter sido contratado pelo Manchester United, poucos dias antes, no final de um jogo com o Sporting em que partiu os rins a muitos bons defesas. Ainda assim, só o mais otimista e criativo imaginaria que acabara de começar a ser escrita história na Seleção Nacional - ou talvez apenas o próprio Cristiano Ronaldo agora que o conhecemos todos tão bem.
Em Chaves, um particular contra o Cazaquistão que Portugal venceu por 1-0 viria a tornar-se um jogo marcante. Foi o início de um percurso impressionante e que acumulou múltiplos recordes.
Vinte anos depois, há uma lenda viva construída por 1001 histórias. Jogos épicos, noites para esquecer, o mundo rendido a seus pés e a seguir a enchê-lo de críticas, recordes que caíram em dominó ao ritmo dos golos, em bis, "hat tricks" e póqueres. Polémicas de quem nunca disfarça aquilo que sente, ir lá para dentro no dia em que o pai faleceu, desfazer-se em lágrimas com a Grécia na Luz e com a vitória no Europeu de 2016, em St. Denis, numa final em que começou a avançado e acabou a treinador e a coxear. De Cristiano Ronaldo haverá sempre muito para contar e aos dez momentos que destacamos nestas páginas poderíamos facilmente acrescentar dezenas de outros. Ou centenas, como os 123 golos ou as 200 internacionalizações, apenas um entre muitos números que só ele tem e que até entrou para o livro do Guinness.
16886717
À maneira dos predadores, Ronaldo guarda o melhor para o fim, quando a pressão, que lhe parece vitamínica, aperta. Os períodos em que mais golos somou, 18, foram entre os 76 e 85 minutos e a partir dos 86 até ao apito final. Marcou mais na segunda parte dos jogos (72) do que na primeira (51) e faz estragos de qualquer forma: 67 com o pé direito e 28 de pé esquerdo e de cabeça. Quarenta e sete seleções de todos os continentes foram ao fundo das redes por culpa de Cristiano Ronaldo, mas quando perguntamos o que lhe falta fazer surge daqui um desafio: nunca marcou a Itália e Inglaterra, embora a esta última já tenha feito a cabeça em água e marcado o penálti decisivo num embate no Mundial de 2006.
16886394
Vinte anos depois, há quem diga que o tempo chegou ao fim ou que precisa de ser passado de outra forma. Foi marcante aquela imagem com dezenas de fotógrafos virados para o banco de suplentes, onde Ronaldo, surpreendentemente, estava, no último Mundial. Contudo, a história já está gravada na pedra em letras garrafais e Cristiano Ronaldo não dá o mínimo sinal de a querer terminar em breve. Vinte anos depois.
Recordes de Ronaldo
- Primeiro a atingir 200 jogos por uma seleção
- Maior marcador de sempre de seleções, com 123 golos
- Futebolista com mais participações (5) e golos marcados (14) em Europeus
- Único a marcar em cinco Mundiais: 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022
- Mais presenças (47) e mais golos (22) em fases finais de Europeus e Mundiais
- Primeiro a marcar dez "hat tricks" no futebol internacional masculino
A estreia em Chaves, 20 de agosto de 2003
Já como jogador do Manchester United, depois de uma exibição estrondosa pelo Sporting na inauguração de Alvalade, Cristiano Ronaldo é convocado pela primeira vez para a Seleção Nacional. Num particular em Chaves, contra o Cazaquistão, Luiz Felipe Scolari lança-o ao intervalo, num jogo decidido (1-0) por Simão Sabrosa. Poucos imaginariam que era o início de uma história épica.
Primeiro golo amargo, 12 de junho de 2004
No jogo de abertura do Euro"2004, Portugal perde com a Grécia, no Estádio do Dragão. Cristiano Ronaldo voltou a entrar ao intervalo e assinou o golo de honra de Portugal (2-1), aos 90 minutos, num golpe de cabeça irrepreensível na sequência de um pontapé de canto. Já era tarde para virar o jogo, mas Portugal só parou na final e Ronaldo não voltou a ser suplente, salvo motivos especiais.
Ingleses de rastos, 1 de julho de 2006
No Mundial da Alemanha, Ronaldo já marcara ao Irão e, nos oitavos de final contra a Inglaterra, bateu-se de frente com colegas de equipa no United. Ficou a piscadela de olho a Rooney quando este foi expulso e o penálti decisivo no desempate, com dedicatória para o pai. Falecera meses antes, em dia de jogo de Portugal do qual Cristiano não abdicou
Laranja levou troco, 17 de junho de 2012
Uma vitória colocava Portugal nos quartos de final do Euro"2012 e Cristiano assumiu a despesa, com dois golos que viraram o jogo (2-1) e acertaram contas pessoais. No Mundial de 2006, num jogo que ficou conhecido por "Batalha de Nuremberga", Ronaldo viu-se muito cedo fora de campo por culpa de uma entrada duríssima.
"Hat trick" no Norte, 6 de setembro de 2013
Ronaldo raramente voltava de um período de seleções sem golos e o primeiro "hat trick" chegou na Irlanda do Norte, na qualificação para o Mundial do Brasil. Bruno Alves adiantou Portugal, mas os da casa puseram-se a ganhar por 2-1 antes de Cristiano disparar três vezes sem falhar e virar o encontro do avesso até ao 4-2.
Partir tudo na Suécia, 19 de novembro de 2013
Portugal lutava taco a taco com a Suécia no play-off de acesso ao Mundial do Brasil. Ronaldo abriu o ativo em Estocolmo, mas Ibrahimovic bisou e a situação estava perigosa. Frio como a noite, Cristiano repetiu mais duas vezes o movimento do primeiro golo: ataques à profundidade e finalizações irrepreensíveis, com um recado para o caso de ainda não terem percebido: "Eu estou aqui."
A classe na loucura, 22 de junho de 2016
Num desafio louco e decisivo contra a Hungria, no fecho da fase de grupos do Euro"2016, Ronaldo por fim apareceu. E fê-lo com estrondo depois de algumas críticas, dado que até falhara um penálti contra a Áustria na ronda anterior. Somou um bis e uma assistência, incluindo um golaço de calcanhar, num 3-3 que ajudou Portugal a qualificar-se para a fase a eliminar, ainda que em terceiro.
O dia mais feliz, 10 de julho de 2016
Eis o regresso à final de um Europeu, agora contra a seleção anfitriã, a França. Uma entrada de Payet, cedo no jogo, deixou Ronaldo fora de campo e em lágrimas, que no fim foram de alegria. Éder marcou no prolongamento com o "míster" Cristiano incansável e em estado de nervos na área técnica. Dito pelo próprio, foi o dia mais feliz da vida dele.
Tiros no porta-aviões, 15 de junho de 2018
O maior jogo de Ronaldo num Mundial deu-se na Rússia, contra a Espanha, logo a abrir a fase de grupos. Num elétrico duelo ibérico que acabou 3-3, Cristiano apontou três golos, o último num golaço de livre direto. O feito teve ainda mais impacto por ter sido contra a seleção do país onde jogava. O avançado também marcaria contra Marrocos.
Rumo a outra Taça, 5 de junho de 2019
Portugal joga a final-four da Liga das Nações no Estádio do Dragão e Cristiano Ronaldo volta a chamar a si o protagonismo. Contra a Suíça, o agora avançado da Juventus assina mais um "hat trick" (3-0) que carimba a presença na final. De novo com os Países Baixos pelo caminho, a Seleção Nacional levantou mais um troféu.