ENTREVISTA, PARTE I - Presidente Marián Mouriño assume desejo do Celta ganhar pujança em Portugal e chamar adeptos, apontando também a clube parceiro, algo em vias de se concretizar
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O Celta viveu anos dourados entre 1998 e 2003, inclusive com entrada na Champions. Agora, volta a crescer e a despertar atenções que também chegam a Portugal.
Relação afetiva do Celta com Portugal traduz-se numa viagem de 28 quilómetros de Vigo para Valença do Minho. Já há 30 adeptos portugueses com presença regular no estádio dos Balaídos.
Como este Celta em crescimento olha para a presença de mais portugueses em Balaídos?
-Para nós, Portugal é como nosso irmão. É raro não escutar algum português se andas nas ruas de Vigo, nas luzes de Natal, num jogo do Celta, no Corte Inglês. É complicado cruzares a fronteira e não encontrares galegos. É um mercado importantíssimo. Encantar-nos-ia sermos a equipa de La Liga em Portugal. Que surgisse essa paixão e fosse o Celta a receber esse olhar e apreço de Portugal. Que nos vissem como aqueles irmãos que é natural apoiar, estamos a fazer aproximações, fazendo notar que é a sua casa.
Que aspetos concretos podem ser enaltecidos?
-Temos tentando puxar cordelinhos com campanhas programadas para conhecer potenciais adeptos, quem poderia estar interessado em acompanhar e seguir o Celta. Com o novo estádio e reforma das bancadas não está fácil, porque não temos muitos lugares livres, temos já lista de espera na Galiza. Mas para algo pontual, para alguém se deslocar para ver dois a quatro jogos será possível articular algo. Temos o cartão celtista para quem nos acompanha à distância. Queremos atrair mais portugueses com as bancadas prontas.
O 7-0 ao Benfica ainda é um farol de aproximação?
-A verdade é que esse jogo segue muito vivo na memória coletiva. Não há vez que vá ao Porto ver algum jogo ou fazer algo que as pessoas não me recordem desse 7-0. Acho que conseguimos ganhar muitos adeptos no Porto nesse dia. Alegra-me saber que há mais interesse pelo Celta em Portugal. E quero que sintam que temos as portas abertas, somos irmãos, seja pelo futebol, música ou comida. O nosso gosto vai pelos bons vinhos, temos muito em comum para sermos a equipa favorita de Espanha em Portugal.
“Portugal é muito interessante para o desenvolvimento dos jogadores. Em breve, algo será concretizado”
Como está a busca de um clube parceiro?
-A nossa estratégia passa por crescermos no mundo do futebol ladeados por outros clubes e Portugal, nesse âmbito, é um mercado muito interessante para investirmos no desenvolvimento de jogadores. Isso é o que mais nos interessa para o projeto de cantera. Estamos lado a lado, algo em Portugal será concretizado em breve.
Do Paços ao Chaves, que clube será esse?
-O Paços foi um dos clubes que estivemos a ver, noutros também tivemos negociações, que continuam. Vamos chegar a um acordo. Estamos a procurar na II Liga porque o conceito é desenvolver jovens jogadores canteranos. Temos lugares limitados no nosso plantel principal e, ao mesmo tempo, temos muitos jogadores para controlar a sua evolução, que não queres cortar do radar. Ter esse parceiro em Portugal seria um complemento importante, permitia um intercâmbio de ideias. Entrar pela II Liga seria perfeito antes de darmos um salto à Primeira.
“É complicado para homens e mulheres”
Questões de género não apoquentam Marián Mouriño.
Ser um exemplo de mulher a comandar o futebol, em Espanha, na Galiza e em La Liga, é também animador?
-O futebol é complicado para homens e mulheres. Não me questiono, sempre me preparei para os desafios que me tocaram profissional e pessoalmente. Tive uma trajetória empresarial longa, rodeada de homens, no México em negócios de gasolineiras e petrolíferas. Não penso se existem diferenças e complicações, qualquer mulher está preparada para assumir um cargo diretivo. Isso vem da preparação, do saber gerir, ser disciplinada, saber o setor onde está e saber mover-se. O futebol tem uma complexidade diferente mas não coloquei barreiras. Talvez o ser “filha de” e não tanto o “ser mulher” tenha gerado perguntas se vai aguentar com isto. Mas sei o que quero para o Celta!
E lançou as “Celtas”, projeto que já cobre a cidade, gerando fervor...
-Era uma dívida do Celta. Estou encantada pelo que fiz, foi por convicção, oferecendo identidade, um nome forte, todo o apoio por detrás, todos os meios para crescer. Também com cantera, pois temos quatro categorias jovens. Queremos que as nossas meninas se desenvolvam aqui. Há um antes e depois, queremos dar-lhes a mesma relevância de marketing, redes sociais, implicando os médicos, nutricionistas. Estão debaixo dos mesmos cuidados, não as quisemos ter só por ter. É para crescer sem estigmas.
Como mulher gestora, como analisa os pedidos de maior igualdade salarial entre homens e mulheres?
-O futebol feminino tem de ir crescendo. O masculino ganhou muito com direitos televisivos e vieram receitas consolidadas de muitos anos. Os jogadores cobram o que cobram por causa disso, o futebol feminino tem dado passos bons e gerando mais receitas. Os salários vão ficar mais igualados no futuro.