
epa08266683 Sevilla's former Portuguese defender Daniel Carrico looks at UEFA Europa League trophies during an event in his honor in Seville, Spain, 03 March 2020. Daniel Carrico left Spanish La Liga soccer club Sevilla FC to join Chinese club Wuhan Zall FC. EPA/RAUL CARO
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Daniel Carriço considera que o futebol tem de ficar para segundo plano neste momento e que a prioridade é a saúde. Em Lisboa, aguarda pelo visto para se juntar à restante equipa que viajou ontem para Shenzen
Daniel Carriço vai mudar-se para Wuhan Zall, clube da cidade que foi o epicentro da pandemia Covid-19. Vai em busca de um novo desafio e sem medo, porque hoje, admite, é na Europa que a situação está mais complicada. Aguarda por visto para se juntar à equipa que partiu para Shenzen.
Preocupado com o Covid-19, o defesa que trocou o Sevilha pelo Wuhan Zall, crê que a doença está mais controlada onde tudo começou do que na Europa
Até que ponto está preocupado com a pandemia do coronavírus?
-É uma situação que deve preocupar não só a mim, mas ao mundo inteiro. Começou na China, mas agora já é uma questão global. É um momento para todas as pessoas tomarem cuidados e fazerem prevenção para evitar o contágio, sobretudo para que aqui na Europa a doença não continue a avançar. Temos de tentar evitar o pânico.
Concorda que se justificam as medidas que estão a ser tomadas, nomeadamente a paragem das competições um pouco por toda a Europa?
-É fundamental travar a progressão do vírus. Parece-me uma boa decisão, a saúde é o mais importante. Jogos à porta fechada ajudavam, mas há também a saúde dos jogadores, equipas... O futebol tem de ficar para segundo plano perante esta urgência.
A sua nova equipa, o Wuhan Zall, sediada na cidade chinesa onde esta crise começou, tem estado a trabalhar em Espanha, um país onde o Covid-19 tem vindo a propagar-se e já sob quarentena. O que vão fazer a seguir?
-A equipa está na Europa desde janeiro. As coisas na China estão a acalmar, o número de casos tem vido a diminuir e por isso regressa à China hoje (ontem), não para Wuhan, mas para Shenzen, que é uma cidade costeira (perto de Hong Kong) que não registou qualquer caso. Eles vão voltar porque temem que em breve não o possam fazer face ao alastrar do coronavírus na Europa. Eu ainda não tenho o visto e por isso não posso viajar já com a equipa. Fico por agora em Lisboa.
Não teme viajar para a China, se entretanto receber o visto?
-O problema maior está agora aqui. Estive a treinar com a equipa na zona de Marbelha e Málaga, esperando que a situação se resolva para, com tranquilidade, podermos ir para Wuhan e seguir com as nossas vidas. Nesta altura, a situação na China já é menos preocupante que no resto do mundo, aos poucos estão a regressar a alguma normalidade. Espero que tudo corra bem.
O que o levou a acertar a proposta do Wuhan Zall, sendo que quando assinou já tinha começado a epidemia do coronavírus?
-Estava a entrar em final de contrato com o Sevilha e a partir de dezembro vários clubes chineses mostraram-se interessados. O Wuhan Zall foi o que mostrou maior interesse. Depois, em janeiro, soube-se disto do coronavírus, o que motivou alguns receios e a mim naturalmente também. Não sabíamos o que se estava a passar em Wuhan. Antes de assinar, informei-me e também sobre os planos da equipa. Garantiram-me, desde logo, que estava tudo pensado para garantir a segurança e que a equipa continuaria a realizar a pré-temporada em Espanha, até porque o início do campeonato foi adiado. Disseram-me que o clube só regressaria à China quando tudo voltasse à normalidade. E mesmo com este regresso, como disse, a equipa não vai já para Wuhan.
De que forma foi convencido a aceitar este desafio?
-O Zall tem uma equipa técnica totalmente espanhola, liderada pelo José González. O interesse foi sobretudo do treinador, que me conhece muito bem e há muitos anos da liga espanhola. Falou comigo, foi muito claro que me desejava muito na equipa. Também os dirigentes que me abordaram mostraram que me desejam o quanto antes nos trabalhos da pré-época, logo em fevereiro, porque tinham a expetativa de que a liga chinesa pudesse começar em março. Tanto que aceitaram pagar ao Sevilha a minha transferência. Foi esse forte interesse que me levou a aceitar o desafio.
Disseram-lhe o que esperam de si?
-Na liga chinesa só podem estar quatro estrangeiros em campo e cinco no plantel. Contrataram-me para terem um jogador experiente na defesa e serei eu esse jogador, porque os outros estrangeiros são um médio e três avançados.
E para si qual é o atrativo principal de ir jogar para a China?
-Já estava há muitos anos no Sevilha e sentia que precisava de um novo desafio. Por outro lado, vou fazer 32 anos, e sabendo que a carreira é curta tenho de pensar no meu futuro. Na China, para contratarem jogadores estrangeiros, têm de oferecer outro tipo de condições financeiras e os jogadores são aliciados pelo fator económico. Mas não foi só por isso, queria conhecer outra realidade, outra cultura e estou ansioso para que tudo volte à normalidade para conhecer um novo país, uma nova competição e desafio.
"Assinei por dois anos e outro de opção e quero desfrutar"
Carriço vai celebrar 32 anos em agosto e não faz grandes planos quanto à carreira que lhe resta. Para já, revela, assinou contrato com o Wuhan Zall por "dois anos com mais um de opção" com um objetivo de "desfrutar", sem equacionar se o emblema chinês será ou não o último que vai representar.
"Nesta altura, penso que é aproveitar ano a ano, dia a dia estes meus últimos anos de futebolista. Sei que, a partir desta idade, continuar a jogar depende muito do corpo de cada um e também da nossa cabeça... É ver o que o futuro nos reserva e aproveitar e desfrutar até ao final da carreira."
