Daniel Carriço considera que o futebol tem de ficar para segundo plano neste momento e que a prioridade é a saúde. Em Lisboa, aguarda pelo visto para se juntar à restante equipa que viajou ontem para Shenzen
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Daniel Carriço vai mudar-se para Wuhan Zall, clube da cidade que foi o epicentro da pandemia Covid-19. Vai em busca de um novo desafio e sem medo, porque hoje, admite, é na Europa que a situação está mais complicada. Aguarda por visto para se juntar à equipa que partiu para Shenzen.
Preocupado com o Covid-19, o defesa que trocou o Sevilha pelo Wuhan Zall, crê que a doença está mais controlada onde tudo começou do que na Europa
Até que ponto está preocupado com a pandemia do coronavírus?
-É uma situação que deve preocupar não só a mim, mas ao mundo inteiro. Começou na China, mas agora já é uma questão global. É um momento para todas as pessoas tomarem cuidados e fazerem prevenção para evitar o contágio, sobretudo para que aqui na Europa a doença não continue a avançar. Temos de tentar evitar o pânico.
Concorda que se justificam as medidas que estão a ser tomadas, nomeadamente a paragem das competições um pouco por toda a Europa?
-É fundamental travar a progressão do vírus. Parece-me uma boa decisão, a saúde é o mais importante. Jogos à porta fechada ajudavam, mas há também a saúde dos jogadores, equipas... O futebol tem de ficar para segundo plano perante esta urgência.
A sua nova equipa, o Wuhan Zall, sediada na cidade chinesa onde esta crise começou, tem estado a trabalhar em Espanha, um país onde o Covid-19 tem vindo a propagar-se e já sob quarentena. O que vão fazer a seguir?
-A equipa está na Europa desde janeiro. As coisas na China estão a acalmar, o número de casos tem vido a diminuir e por isso regressa à China hoje (ontem), não para Wuhan, mas para Shenzen, que é uma cidade costeira (perto de Hong Kong) que não registou qualquer caso. Eles vão voltar porque temem que em breve não o possam fazer face ao alastrar do coronavírus na Europa. Eu ainda não tenho o visto e por isso não posso viajar já com a equipa. Fico por agora em Lisboa.
Não teme viajar para a China, se entretanto receber o visto?
-O problema maior está agora aqui. Estive a treinar com a equipa na zona de Marbelha e Málaga, esperando que a situação se resolva para, com tranquilidade, podermos ir para Wuhan e seguir com as nossas vidas. Nesta altura, a situação na China já é menos preocupante que no resto do mundo, aos poucos estão a regressar a alguma normalidade. Espero que tudo corra bem.
O que o levou a acertar a proposta do Wuhan Zall, sendo que quando assinou já tinha começado a epidemia do coronavírus?
-Estava a entrar em final de contrato com o Sevilha e a partir de dezembro vários clubes chineses mostraram-se interessados. O Wuhan Zall foi o que mostrou maior interesse. Depois, em janeiro, soube-se disto do coronavírus, o que motivou alguns receios e a mim naturalmente também. Não sabíamos o que se estava a passar em Wuhan. Antes de assinar, informei-me e também sobre os planos da equipa. Garantiram-me, desde logo, que estava tudo pensado para garantir a segurança e que a equipa continuaria a realizar a pré-temporada em Espanha, até porque o início do campeonato foi adiado. Disseram-me que o clube só regressaria à China quando tudo voltasse à normalidade. E mesmo com este regresso, como disse, a equipa não vai já para Wuhan.
De que forma foi convencido a aceitar este desafio?
-O Zall tem uma equipa técnica totalmente espanhola, liderada pelo José González. O interesse foi sobretudo do treinador, que me conhece muito bem e há muitos anos da liga espanhola. Falou comigo, foi muito claro que me desejava muito na equipa. Também os dirigentes que me abordaram mostraram que me desejam o quanto antes nos trabalhos da pré-época, logo em fevereiro, porque tinham a expetativa de que a liga chinesa pudesse começar em março. Tanto que aceitaram pagar ao Sevilha a minha transferência. Foi esse forte interesse que me levou a aceitar o desafio.
Disseram-lhe o que esperam de si?
-Na liga chinesa só podem estar quatro estrangeiros em campo e cinco no plantel. Contrataram-me para terem um jogador experiente na defesa e serei eu esse jogador, porque os outros estrangeiros são um médio e três avançados.
E para si qual é o atrativo principal de ir jogar para a China?
-Já estava há muitos anos no Sevilha e sentia que precisava de um novo desafio. Por outro lado, vou fazer 32 anos, e sabendo que a carreira é curta tenho de pensar no meu futuro. Na China, para contratarem jogadores estrangeiros, têm de oferecer outro tipo de condições financeiras e os jogadores são aliciados pelo fator económico. Mas não foi só por isso, queria conhecer outra realidade, outra cultura e estou ansioso para que tudo volte à normalidade para conhecer um novo país, uma nova competição e desafio.
"Assinei por dois anos e outro de opção e quero desfrutar"
Carriço vai celebrar 32 anos em agosto e não faz grandes planos quanto à carreira que lhe resta. Para já, revela, assinou contrato com o Wuhan Zall por "dois anos com mais um de opção" com um objetivo de "desfrutar", sem equacionar se o emblema chinês será ou não o último que vai representar.
"Nesta altura, penso que é aproveitar ano a ano, dia a dia estes meus últimos anos de futebolista. Sei que, a partir desta idade, continuar a jogar depende muito do corpo de cada um e também da nossa cabeça... É ver o que o futuro nos reserva e aproveitar e desfrutar até ao final da carreira."