Futebol, cocaína, traições e escândalos: bem-vindos ao circo da família Caniggia
Os rocambolescos episódios da vida de futebol - e fora dele - da antiga estrela do Benfica e da Argentina
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Claudio Paul Caniggia. Três nomes que, ligados, soam a futebol, Argentina, tentações e escândalo. O antigo jogador, de 52 anos, foi dos mais louvados e controversos futebolistas da sua geração e continua a inundar o seu país e o mundo com notícias chocantes, 15 anos depois do seu último pontapé como profissional.
Ao abrigo do acordo entre o Benfica e a Parmalat, Caniggia surgiu com sensação na Luz após 13 meses de punição pelo consumo de estupefacientes
El Pájaro voou pelos ataques, de River Plate a Boca Juniors, os dois clubes maiores entre os grandes da Argentina, teve uma passagem tão triunfal quanto tóxica por Itália, passou um ano pouco pacífico pelo Benfica e reabilitou-se pela Escócia para terminar no El Dorado do Catar, onde pendurou as chuteiras. Só que a reforma conturbada e o estilo "elegantly wasted" do antigo avançado continuam a persegui-lo e alastraram a toda a família, que se tornou uma espécie de Osbournes da Argentina, com reality shows e escandaleiras sortidas à mistura.
Hoje, Caniggia é acusado pela eterna futura ex-mulher Mariana Nannis (ela própria uma celebridade) de violência doméstica tamanha a ponto de causar um aborto, bem como de continuar a ter um apetite insaciável por sexo e cocaína, além da relação conturbada com os três filhos, todos eles figuras públicas pelas razões mais improváveis ou superficiais. Pelo meio, ainda há um cunhado que faz o "update" das broncas em programas televisivos. As confusões não abrandam e todos os dias há uma nova. Bem-vindo ao mundo louco dos Caniggia... um verdadeiro circo que nem Maradona esteve para aturar.
Era uma vez um pássaro
Claudio Paul vinha de Henderson, pequena cidade remota da província de Buenos Aires e era uma estrela em ascensão no River Plate quando conheceu a aspirante a modelo Mariana Nannis num "boliche" (discoteca) de Buenos Aires. Chamavam-lhe "El Pájaro" (o pássaro) ou "Hijo del viento" (filho do vento).
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Caniggia despontava naquele que era, a léguas, o maior esquadrão argentino de então, entre gente grande como Pumpido, Ruggeri, Gallego, Beto Alonso e Francescoli. Aos 19 anos, já era internacional, ao lado de Maradona. Os cabelos longos domados por uma faixa ou um fio, e o futebol veloz do miúdo que já tinha uma larga coleção de medalhas no atletismo, chamaram a atenção do Calcio.
Com 21 anos e já casado com Mariana, Caniggia, apanhou o avião para Itália. A missão era defender o Hellas Verona. "Cani" fez uma época de estalo e teve o melhor momento da carreira nas três temporadas seguintes, a jogar pela Atalanta. Na mais apetecida liga da altura, o melhor parecia estar para vir quando o avançado se transferiu para a Roma, mas foi aí que a marcação cerrada da cocaína o travou: Caniggia foi apanhado num controlo antidoping em 1993.
Confessou que, num "momento de debilidade" fumara um cigarro contendo cocaína. Para muitos, ficou com o letreiro de drogado escrito na testa para sempre. Despedido da Roma, Claudio - que fora semi-herói no Mundial de 1990 ao despachar o Brasil da prova com um pontapé certeiro de canhota a passe de pé direito de Maradona -, deu por si pedrado e destronado.
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Aquela expulsão de Coroado
e uma estadia de rockeiro no Ritz de Lisboa
Ao abrigo do acordo entre o Benfica e a Parmalat, Caniggia surgiu com sensação na Luz após 13 meses de punição pelo consumo de estupefacientes - era um reforço de sonho... num Benfica de pesadelo. Os encarnados nada venceram nessa época de 1994/95 e terminaram em terceiro na Liga, apesar da boa campanha na Champions, onde só foram travados pelo Milan.
Caniggia deu que falar dentro de campo, claro. E fora também, naturalmente. O sul-americano começou bem a época, mas apagou-se na segunda metade. Famoso ficou o episódio em que o atacante foi expulso por Jorge Coroado após um dérbi perdido para o Sporting.
Caniggia envolveu-se numa picardia e, no meio do salsifré, o juiz lisboeta mostrou-lhe amarelo e logo por cima o vermelho (que considerou ser direto), alegando que o argentino o insultara. O Benfica protestou, defendendo que Coroado se enganara no número de amarelos. O jogo foi repetido (vitória do Benfica por 2-0, no Restelo), mas seria necessária a intervenção da FIFA para anular o segundo desafio, mantendo a vitória leonina.
Fechado no seu mundo de vedeta inalcançável, Caniggia tinha uma relação boa mas distante com os colegas na Luz e, ao melhor estilo dos rockeiros de Los Angeles no Hotel Chateau Marmont, levava uma vida pantagruélica no Hotel Ritz, em Lisboa. A suite onde se instalou foi, alegadamente, deixada em fanicos, depois de ter servido em larga parte para armazenar os quilos de compras que Mariana Nannis fazia diariamente pelas mais exclusivas lojas da capital. Antes, o craque argentino ainda deu uma conferência de imprensa a mostrar um olho à Belenenses por trás dos óculos escuros, após envolver-se numa rixa na noite lisboeta - um episódio, aliás, nunca totalmente explicado.
Após chegar com estrondo, Caniggia saiu do Benfica e de Lisboa silencioso, como um ladrão a escapulir-se pela noite. Só muito depois falou - e bem - da experiência em Portugal (ver vídeo abaixo)
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Maradona em fúria, um suicídio
e as fitas de Mariana Nannis
Era imperdoável para os adeptos do River Plate: Caniggia estava de volta, mas para representar o maior de todos os inimigos: o Boca Juniors. Pior: confessou-se adepto do clube xeneize. Era um crime com direito a pena capital para os millonarios. Cani juntou-se a Maradona e ao técnico Bilardo no Boca e ficou para a posteridade o chocho que El Pájaro e El Pibe deram, justamente num sempre incandescente Boca-River.
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Mas a tragédia subiu ao palco em 1996, quando Nélida Caniggia se atirou para a morte da varanda de um quinto andar no bairro de Belgrano, em Buenos Aires. Era a mãe de Caniggia, vencida pela depressão e pela má relação com Mariana Nannis, a nora que, alegadamente, a impedia de ver os três netos.
Caniggia confessou: "Eu vou carregar este desgosto para sempre." O casal foi acusado pela imprensa cor de rosa argentina pela insularidade até para com a própria família. As coisas nunca melhorariam. Hugo Caniggia, pai do ex-astro, faleceu em 2014 sem nunca chegar a conhecer Charlotte, a neta mais nova.
O duo Maradona-Cannigia não valeu títulos na Bombonera e ficou ferida pelo azedo conflito entre famílias que perdura até hoje. Ainda nos anos 1990, Mariana Nannis disse que os Maradona comiam com talheres de plástico e que eram "grasa" - termo portenho aplicado na Argentina a pessoas pobres que comem alimentos gordurosos. Maradona respondeu: "Adoro Cani, mas a sua mulher não existe; ela é incontrolável. Não falo de Mariana e se Caniggia falar da minha namorada, eu encho-o de porrada."
A relação entre Caniggia e Maradona tornou-se um caminho pedregoso e a cena do beijo na Bombonera motivou a ira de Mariana Nannis: "Isto foi um papelão e não se vai repetir na minha família. Os meus filhos merecem o respeito do pai."
Anos mais tarde, já com a prole das duas famílias crescidinha e os Caniggia mais à frente em matéria de polémica, Maradona soltou a sua língua ácida: "Cada um dá aos filhos a educação que pode. As minhas filhas sabem, pelo menos, o continente em que estão..."
Com Claudio Paul (como a família se lhe refere) no ocaso da carreira na Escócia, o futebol era cada vez menos o tema quando a conversa era Caniggia.
Conheça os mini-Caniggias
Claudio Caniggia e Mariana Nannis têm três filhos. Kevin Axel, o mais velho, gosta do recato. Nunca quis envolver-se no espetáculo degradante em que se tornou a vida dos pais e dos irmãos, mas nem por isso passa despercebido. É um artista plástico de méritos reconhecidos, com exposições um pouco por todo o mundo. "Vivo em Marbella e gosto de coisas simples", disse numa raríssima entrevista.
https://www.instagram.com/alexcaniggia/?hl=pt
Mas os outros dois filhos Alexander e Charlotte são feitos de matéria mais próxima da dos pais. Alexander destaca-se pelas tatuagens e Charlotte pela exuberância.
https://www.instagram.com/p/BwvFHhFp8Hg/
São "media personalities" e protagonistas do bem sucedido reality show "Caniggia Libre", emitido pela MTV Latinoamérica. Charlotte já foi stripper, tem apetência pela provocação, mas não perdoa os desmandos do pai. Alexander foi ao Twitter insultar o progenitor para todo o mundo ler (em baixo):
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Charlotte e Alexander não perdem uma oportunidade para aparecer; Kevin Axel não perde uma oportunidade para desaparecer.
A última tentativa de salvação
Tudo parecia mais tranquilo nos últimos anos entre Claudio e Mariana Nannis. Parecia... Viviam em Marbella, com Caniggia afastado do futebol, à parte de uma ou outra entrevista de vida. Contudo, surgiram notícias de que o casal era "Okupa VIP" expressão do proprietário da mansão onde viviam no sul de Espanha, que os acusava de não pagarem o aluguer. Indiferente, Caniggia dizia que se dividia a desfrutar da vida entre Marbella, Rio de Janeiro, Miami e Buenos Aires, até que há menos de uma semana tudo tornou a explodir.
Mariana Nannis surgiu furiosa nas chegadas de Ezeiza, no Aeroporto de Buenos Aires, acusando o (ainda) marido de render-se à cocaína da qual nunca fugira e de viver com uma prostituta que suga o dinheiro da família. Tem concedido entrevistas diárias (próximo vídeo, abaixo) a expor os podres, pecados e pecadilhos do antigo astro, que reagiu timidamente a lamentar o sucedido.
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Mariana confessou que as vezes em que tentou salvar o marido foram "muchas, muchas, muchas", mas garantiu que esta será a última. No meio do filme, surgiu o analista da crise em tudo que é programa especial sobre as últimas dos Caniggia. É Gonzalo Nannis, cunhado de Claudio Paul. Detesta o ex-internacional argentino com paixão e garante que tudo o que conta a irmã Mariana - com quem não se dá... - é verdade: desde os internamentos forçados em clínicas de desintoxicação, até aos ensaios de porrada.
Cannigia já não é futebol. É sarilhos e nem precisa de os procurar. Os sarilhos sabem sempre onde o achar... e são de família.