Clube com nome mais longo do mundo e a parceira com La Liga: "Benéfico quanto à venda de camisolas"
"Queremos vender muitas camisolas e continuar a existir para a nossa comunidade", diz o Samantha Jones Smith, presidente do Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch FC, a propósito do contrato com La Liga.
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Foi notícia de ontem o patrocínio oferecido pela La Liga ao clube com o nome mais extenso do mundo, escondido num idílico sossego do País de Gales, recanto plantado na ilha de Anglesey. Uma jogada de marketing estampada em bonitas camisolas azuis, de primeiro equipamento, e brancas, de segundo, procurando aliar o pensamento global relativo aos maiores nomes do mundo, um pela incomparável reputação e outro pela singular nomenclatura.
Tudo começa em Llanfairpwllgwyngyll. Um linguístico atrevimento galês de cerca de três mil habitantes, a primeira comunidade de Anglesey, mal se atravessam as duas pontes que ligam Bangor a essa firme extensão de terra de 714 quilómetros quadrados, cercada por água, a que se chama estreito de Menai. Nomes difíceis de pronunciar, escritos na forma nativa, abundam por Gales, sobretudo a norte, onde o uso do galês - Cymraeg - assume importância vital no que é a defesa cultural da região e a expressão duma convicção.
Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch, origem de uma estação ferroviária, acrescido de Football Club, é a evidência de um clube diferenciado, que não autoriza qualquer acerto na difusão da sua fonia. Pela oportunidade que já me foi dada de conhecer o estádio e a realidade desde clube agora submerso nos últimos escalões de Gales, Divisão 1 da Costa Oeste do Norte de Gales, apesar de já ter disputado anos a fio um escalão equivalente à Liga 2 de Portugal, este momento mereceu uma breve conversa com Samantha Jones Smith, presidente do emblema e mulher do jogador mais lendário da casa, Steve Smith.
"Foi um dia especial termos a chance de celebrar esta parceria. Ficamos imensamente honrados por se terem aproximado de nós com esta ideia de juntar os maiores nomes do futebol, um no que toca a suporte e seguidores, outro pela alusão ao nome em si. Esperamos, sobretudo, que esta iniciativa atraia muitos mais espetadores ao futebol de raiz, que acompanhem ainda mais as equipas nas suas divisões. Para nós será, mais que tudo, benéfico quanto à venda de camisolas. Esperamos que seja algo único e que nos ajude a continuarmos a existir e a oferecer futebol à comunidade", explicou a dirigente.
O JOGO apurou que esta é uma ação inédita da La Liga com um clube específico, outras parcerias foram apenas feitas ao nível de comunidades e com projetos mormente de cariz solidário. Os contactos que resultaram nesta divulgação tão impactante remontam a Junho, tendo sido uma agência de marketing a intermediar as conversações. "Foi-nos dito tratar-se de um apoio de uma grande empresa mas durante muito tempo não sabíamos de quem se tratava e estivemos muito céticos em aceitar o negócio, até sabermos realmente que era La Liga o parceiro", confidenciou a dirigente, descrevendo como "fantástica" esta ligação de um ano com La Liga, que irá percorrer vários campos modestos do País de Gales. "Estamos naturalmente excitados com estes novos tempos e com esta oportunidade."
Quanto à delirante loucura da estação de 58 carateres, que deu nome à cidade e se plasmou no clube da terra, há mais exercícios a fazer na tradução de galês para inglês: «St Mary church in the hollow of the white hazel near a rapid whirlpool and the church of St Tysilio of the red cave»...Entenda-se agora em português: «Igreja de Santa Maria no fundo da aveleira branca perto de um redemoinho rápido e da Igreja de São Tisílio da gruta vermelha». Ode completa ao non sense, imaginário místico avassalador.
"Também sei que não faz grande sentido, não quer dizer nada, na realidade. É quase uma charada. Mas somos falados por todo o lado à custa disto. Foi uma forma de atrair turismo que resultou. Há muita gente de fora que chega e questiona os locais, desloca-se à estação só para ver o nome escrito. Houve uma altura que as nossas crianças, dentro de carros, cantavam o nome da terra, na estação, para ganhar uns trocos para doces", expressou Steve Smith. "Quanto ao futebol isto começou em 2012 e depressa vimos a história reproduzida em vários países, Portugal, Espanha, Brasil e por toda a América Latina...", acrescentou Steve Smith, homem de muitos jogos no Maes Eillian, que conta com singela bancada de 50 lugares, repleta na sua dimensão, de fervor e calor, mas com impraticável grito de apoio. "Nem os adeptos podem puxar por nós com esse nome. Gritam mais Llanfairpwll FC ou Llanfairpwll. O nome até se aprende dedicando um dia à fonética. Mas não é fácil. Muitos querem aprender e desistem."
Steve Smith empresta-nos a cábula para que se façam progressos: lan-vire-pooll-guin-gill-go-ger-u-chwurn-drob-ooll-llantus-ilio-gogo-goch.