O melhor do andebol português ainda está para vir, mas treinadores deixam alerta
Treinadores portugueses consideram que a Seleção Nacional de andebol pode ir mais longe, mas chamam a atenção para o que falta fazer
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O sexto lugar não foi surpresa para vários dos melhores treinadores portugueses, que disseram a O JOGO ser este o reflexo do trabalho de anos. Aproveitar este momento é a preocupação de todos.
Ricardo Costa (Internacional e treinador do FC Gaia): "Os nossos atletas já estão lá em cima, mas ainda falta ter peso na modalidade"
"Devo registar o seguinte: antes de começar o Europeu, em conversas com os meus jogadores, incluindo o Humberto, já dizia que Portugal ia ficar nos seis primeiros lugares", disparou Jorge Rito, treinador do ABC, logo em início de conversa. Os técnicos nacionais não ficaram surpreendidos com o desempenho na Noruega e Suécia, considerando que o inédito sexto lugar no Europeu foi um reflexo da evolução da modalidade, e até esperam mais. "Temos tudo para fazer melhor, que isto não foi obra do acaso, mas sim do trabalho de muita gente - clubes, jogadores, treinadores e dirigentes - nos últimos dez anos", concorda Ricardo Costa, treinador do FC Gaia.
A verdade é que exemplos anteriores, noutras modalidades coletivas, não foram animadores. Em 2007, tanto o basquetebol como o râguebi conseguiram resultados históricos que não tiveram sequência. O nono lugar no EuroBasket que se jogou em Espanha ainda ajudou no crescimento do número de praticantes - os federados eram menos de 20 mil e dois anos depois já estavam nos 40 mil, que se foram mantendo até hoje -, mas o profissionalismo da Liga terminou e a Seleção Nacional de basquetebol foi descendo até ao 61.º lugar no ranking mundial. No râguebi, a presença na fase final do mundial de França pouco aumentou o número de praticantes e os próprios lobos passaram por anos de crise dos quais agora recuperam, sendo 24.ºs na tabela mundial.
Paulo Faria (Internacional e técnico): "Se mantivermos estas prestações, as medalhas poderão aparecer, mas a concorrência é muito elevada"
"Este Europeu teve pela primeira vez 24 equipas, foi alargado a mais seleções. Mas espero que seja o princípio de uma fantástica história, desde que a humildade e o respeito por passado e futuro não se percam. Não gostei de ver um jogador afirmar que, por terem ficado em sexto, já eram a melhor geração de sempre", alertou Paulo Faria, central da anterior geração de ouro, que foi sétima no Europeu de 2000, e tendo, entretanto, já treinado Sporting e Águas Santas. Hugo Canela, último técnico português dos leões, também lembra: "Se, por um lado, temos margem para fazer melhor, por outro surpreender será mais difícil."
"Não me admirava nada que o FC Porto fosse à final-four da Champions. Têm gente experiente, com um traquejo e um à-vontade internacional que não tínhamos há uns anos. Este sexto lugar, e depois de ver os jogos, até soube a pouco. Estivemos com níveis exibicionais fantásticos, grande eficácia e depois baixámos contra a Eslovénia, o que nos tirou o apuramento para as meias-finais", considera Jorge Rito, com uma conclusão positiva: "Isto não é o fim de nada, mas sim o início de alguma coisa de muito melhor para o andebol português."
Jorge Rito (treinador do ABC): "Não me surpreende este sexto lugar. Depois de ver os jogos, até soube a pouco"
"O importante é estarmos presentes", diz Ricardo Costa, sabendo das dificuldades de apuramento, enquanto Paulo Faria faz uma análise interna muito séria: "A federação deve fazer o que defendo há muitos anos - olhar para as organizações dos clubes e proativamente construir um modelo de organização para que todos sejam o mais profissionais possível. Clubes como ABC, Águas Santas, Belenenses e outros, que são responsáveis pela formação de alguns dos melhores jogadores portugueses, como Miguel Martins, Luís Frade, Rui Silva, Fábio Magalhães, André Gomes, Fábio Vidrago ou Diogo Branquinho, estão nos últimos anos com muitas dificuldades e em risco de, a qualquer momento, acabarem".
Hugo Canela (treinador): "Há margem para fazer melhor e um longo caminho na divulgação do andebol"
Colocar o andebol na televisão
"O andebol deve tentar ganhar mais influência junto dos diretores de jornais desportivos e televisões, além de maior influência na federação europeia", diz Paulo Faria, com Ricardo Costa a destacar também a necessidade de "gente de poder na EHF" e de "investir na promoção do campeonato". A visibilidade interna é um problema a superar e Hugo Canela coloca o dedo na ferida: "Temos um longo caminho de divulgação da modalidade. Repare-se que fizemos uma prova fantástica e deu um jogo na TV aberta. Isso não pode ser. A Federação e o andebol têm de trabalhar muito essa visibilidade. O futsal aparece em horário nobre na RTP 1 e nós tivemos um único jogo na RTP 2..."
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