
Pedro Castanheira e Cunha / Slideshow / Global Imagens
O único sobrevivente da subida do Caldas fala a O JOGO.
Corpo do artigo
Poucos se lembrarão, mas este emblema que hoje discute um lugar no Jamor já andou a jogar taco a taco com os maiores. Uma vitória em casa do Belenenses, um empate com o FC Porto ou um triunfo sobre o Benfica, neste mesmo Campo da Mata, foram algumas das melhores páginas do Caldas, que subiu em 1955 e esteve quatro épocas na I Divisão. Do grupo de jogadores que na altura subiu de escalão, já só está vivo Amaro da Silva, lateral-direito que antes tinha jogado três épocas no Sporting com os famosos Cinco Violinos.
"O Passos metia na esquerda para o Albano, este centrava e... golo. Ou então metia na esquerda para o Jesus Correia, que corria com a bola, vinha para o meio, rematava e golo. Era assim que o Sporting jogava", lembrou dos tempos de Alvalade este jovem de 92 anos. "Saí do Sporting porque pagava pouco. Os internacionais ganhavam 1500 escudos por mês, mas eu só ganhava 500. No Montemor ofereceram-me mais e fui para lá. Só treinava lá à quinta-feira e depois ia jogar ao domingo. Na época a seguir é que vim para o Caldas, ganhar também 1500 escudos", acrescentou.
"A equipa era o Carlos Gomes na baliza, eu na direita, o Passos a central e o Caldeira na esquerda. No meio-campo era o Canário e o Juca. Na frente era o Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano. O Travassos é que fazia a ligação com o meio-campo e era o melhor daquela altura. Mas o Vasques agarrava a bola no meio-campo, ia por ali fora, fintava toda a gente e marcava", complementa.
Em relação à atual equipa leonina não parece tão entusiasmado: "Não gosto do sistema do Jorge Jesus. Eles querem entrar pela baliza dentro. É só toquezinhos, toques e mais toques. Devia ser um jogo mais direto e deviam marcar golos como o do Herrera ao Benfica. Gosto do Bas Dost, que não tem bons pés, mas é bom nas alturas e do Gelson, que tem muita velocidade."
Sobre um dos momentos que o marcaram, lembra que o Caldas foi a primeira equipa a ganhar no Estádio do Restelo. "Jogavam lá o Matateu e o Vicente. Marcámos de penálti, mas se tivéssemos perdido por quatro ou cinco não era de espantar. Eles remataram muito e nós defendemos quase sempre, mas tivemos sorte", lembrou.
"O Caldas era bom. Chegou a ficar em quinto lugar e tudo. Na baliza jogava o Rita. Na defesa era eu, o Leandro e o Fragateiro, que veio do Estoril. No meio jogava o Anacleto, o Bispo e o César, que foi do Palmense comigo para o Sporting e depois veio também comigo para aqui. Na frente jogava o Pedro Lavega, que era espanhol, o Ben Bareck, que tinha esse nome porque era muito moreno e o extremo esquerdo era o Lénine, do Casa Pia", conta, deixando depois uma mensagem para a equipa que hoje defronta o Aves: "Estou convencido que o Caldas não perde. Até pode ser eliminado, mas acho que não perde. O que peço à equipa é que façam das tripas coração e que joguem bem. Se ganharem talvez eu ainda vá ao Jamor."
Amaro ainda conduz, trabalha "duas horas de manhã e um pouco mais de tempo da parte da tarde" e, apesar de alguns problemas de saúde, tem um objetivo: "Queria bater o recorde de 106 anos do Manuel de Oliveira, mas não sei se consigo", disse um antigo lateral ao jeito de um atleta do atual plantel leonino: "Eu era do género do Coentrão. Se era melhor não sei, os tempos são outros. Eu fazia o corredor todo. Agarrava na bola, ia por ali fora e depois endossava a um companheiro."
