<strong>Uma reportagem O JOGO</strong>. Ricardo, Francisco Ramos e Luís Neto são filhos de ex-jogadores, têm em comum um avô e a paixão pela bola. Os três futebolistas seguiram os passos dos progenitores Quim, Vitoriano e José Neto, mas ganharam uma outra força mediática, porque os tempos também são outros
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A expressão "Poveirinhos pela Graça de Deus", celebrizada numa viagem marítima de D. Luís I, personifica o espírito de uma família tradicionalmente ligada ao futebol, poveira e varzinista, cujos craques, na atualidade, são o guarda-redes Ricardo e o médio Francisco Ramos, do FC Porto, e o central Luís Neto, do Zenit, da Rússia. No passado, os craques foram os seus pais, Quim "Brasileiro", Vitoriano Ramos e José Neto, cada um à sua medida.
Tudo começou no avô dos três jovens futebolistas, Augusto Neto, guarda-redes do Varzim na década de 50, passando depois o bichinho da bola para as gerações seguintes. Luís Neto, de 28 anos, teve o pai, antigo central, como inspiração, assim como o tio e padrinho Quim Nunes, que jogou na mesma posição, representando Varzim, Gil Vicente, Braga e Leixões, além de ter sido seu treinador nos poveiros. Ricardo Nunes jogava na frente e foi influenciado pelo tio Dias Graça, ex-guarda-redes de Varzim e Benfica, para assumir uma posição na baliza nas escolinhas varzinistas, onde foi levado pela mão do pai. O guardião do FC Porto, de 33 anos, tem ainda no irmão João Nunes, três anos mais novo, um companheiro de posição, já que defende a baliza do Vieira, assim como o primo Nuno, o filho de Dias Graça, que é treinador de guarda-redes na formação do Varzim.
Francisco Ramos, 21 anos, é o mais novo dos primos e, além do pai, Vitoriano Ramos, antigo lateral-direito de Varzim e FC Porto e atual treinador adjunto dos alvinegros, tem ainda como ajuda, lá em casa, o irmão Hernâni, defesa que representou a equipa B varzinista na última época. "É uma herança de família passada entre gerações recheadas de experiências a nível futebolístico", explica Ricardo Nunes, recordando os tempos em que "entrava em campo de mão dada" com o pai, quando este jogava no Varzim. "Ia-me buscar à bancada e isso vai ficando entranhado na nossa vida. O meu filho tem três anos e vê os meus jogos, além de conhecer todos os emblemas da I Liga e de só querer brincar com a bola", adiantou quem se tornou guarda-redes por influência do tio Dias Graça. "Nas brincadeiras da praia, ensinava-me os truques para defender. Noutras vezes, quando ele jogava no Benfica, eu ia de férias para Lisboa e ficava admirado quando entrava no Estádio da Luz. Tudo teve influência", disse o guarda-redes, que ajudou Luís Neto quando se estreou como sénior no Varzim e foi ainda parceiro de quarto de Francisco Ramos, a época passada, no estágio do FC Porto.
Francisco Ramos quer "chegar ao patamar" dos primos com quem diz ter "aprendido muito desde miúdo", elegendo como "momento marcante" o golo de baliza a baliza que Ricardo marcou a Palatsi, num Varzim-Moreirense. "Lembro-me também de grandes exibições do Luís Neto e de, quando ele foi transferido, pensar que um dia gostava de chegar ao mesmo nível", revelou o médio do FC Porto, adiantando que "o futebol está sempre presente" na vida familiar. "Nos jantares ou nas festas, a bola está presente e, com o vinho à mistura, torna-se muito divertido ouvir as histórias", concluiu o caçula de uma família que respira futebol e onde todos são adeptos uns dos outros, porque primeiro está mesmo a família.