Ex-presidente do Benfica detido no âmbito da Operação Rota do Atlântico por alegada participação em crimes de branqueamento de capitais e de tráfico de influências. Godinho Lopes e Miguel Relvas também estão implicados, conta o Observador.
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Indícios de atividades ilícitas nos negócios com José Veiga estão na origem da detenção, esta quinta-feira, do empresário Manuel Damásio, 75 anos, ex-presidente do Benfica. Depois de a Polícia Judiciária (PJ) ter confirmado, em comunicado, que foi detido no âmbito da Operação Rota do Atlântico, o Observador revelou detalhes dos indícios criminais pelos quais o ex-dirigente do clube da Luz foi constituído arguido e está ainda a ser ouvido no Tribunal Central de Instrução Criminal.
Em causa estará a compra de ações do Hotel Intercontinental (Estoril) e investimentos em apartamentos no complexo Atlântico Estoril Residence. De acordo com o Ministério Público, estas operações tiveram como único propósito o branqueamento de capitais ilícitos da República do Congo.
Damásio é administrador da empresa Margem Encantada, que explora o Hotel Intercontinental, aberto no verão de 2015, depois de um investimento de 15 milhões de euros. O presidente da empresa é Luís Filipe Resnikoff. Ambos estiveram com Veiga em Genebra, em setembro do ano passado, quando este entrou no capital social da empresa, através da Hofelle Limited, uma offshore do Chipre cujo beneficiário económico é o ex-agente de jogadores de futebol e que terá emprestado cerca de dois milhões de euros à sociedade.
Segundo o Observador, é convicção do Ministério Público que o dinheiro utilizado em ambas as operações, a entrada no capital social e o empréstimo, tem origem em atividades ilícitas de José Veiga no Congo Brazaville.
No acordo entre Veiga e os sócios da Margem Encantada ficou previsto que Godinho Lopes, ex-presidente do Sporting, integraria a administração da sociedade; o filho do primeiro, Dani Veiga, passou a vogal da administração.
Godinho Lopes já fora, em 2012, nomeado administrador da Ónus Imobiliário, empresa de Damásio que é, igualmente, sócia da Margem Encantada e que surge na outra operação que o Ministério Público entende corresponder ao crime de branqueamento de capitais: a venda a José Veiga de dois apartamentos no Atlântico Estoril Residence, por 6,9 milhões de euros.
A Ónus vendeu um deles a uma offshore controlada por José Veiga e com conta no Banco Internacional de Cabo Verde; o outro foi adquirido por uma outra empresa de Veiga, a Índice Vencedor, com fundos provenientes da mesma instituição bancária em nome de uma offshore - Felamina, propriedade de Veiga.
Além dos crimes de branqueamento de capitais, Manuel Damásio é suspeito de tentar influenciar o processo de venda do Banco Internacional de Cabo Verde, que Veiga pretendia adquirir - tarefa para a qual terá procurado a ajuda do ex-ministro Miguel Relvas, do PSD. O negócio foi já chumbado, mas, a interferência constitui crime.
Manuel Damásio continua no Tribunal Central de Instrução Criminal, onde ficará a conhecer os indícios criminais que fazem dele arguido na Operação Rota do Atlântico, que já implicara José Veiga e o advogado Paulo Santana Lopes (irmão de Pedro Santana Lopes, antigo Primeiro-Ministro, do PSD).
