A queda de um histórico aos Distritais: "Lutámos contra quem mais nos devia apoiar"
Luís Torres, presidente da SAD do Olhanense, lamenta descida aos Distritais e revela que os algarvios, sem direito a quaisquer subsídios, não tiveram financiadores ou investidores nos últimos anos.
"Um clube desta dimensão não pode descer aos Distritais", desabafa Luís Torres, presidente da SAD. A verdade, porém, é que está consumada a descida do Olhanense, depois da derrota com o Oriental Dragon, por 1-0, na última jornada da Série D do Campeonato de Portugal.
O clube algarvio, com 111 anos de história, participou por 20 vezes no principal escalão do futebol português, as últimas das quais entre 2009/10 e 2013/14, sob a presidência de Isidoro Sousa e com treinadores como Jorge Costa, Daúto Faquirá, Sérgio Conceição (foi em Olhão que o atual timoneiro do FC Porto iniciou a carreira como técnico principal) e Manuel Cajuda, entre outros. A partir daí, porém, foi sempre a descer e em nove anos consumou-se o reverso da medalha.
"Estamos muito tristes e fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, muitas vezes lutando contra quem mais nos devia apoiar, para evitar este cenário. Todos os envolvidos no projeto tentaram, dentro das grandes limitações existentes, que o resultado fosse outro, para honrar a história deste enorme clube", vinca Luís Torres. Entre lamentos e algumas revelações, conta a O JOGO que "ao contrário da maioria dos participantes das competições nacionais da FPF, o Olhanense SAD não dispõe nem nunca dispôs de qualquer subsídio publico ou federativo".
Luís Torres recorda com mágoa a época de 2019/20, quando "o campeonato terminou abruptamente, devido à pandemia, e o Olhanense, apesar de estar em primeiro lugar na sua série, acabou por ir para o quarto escalão, o que levou ao abandono da maioria dos jogadores". Na altura, recorde-se, Arouca e Vizela tinham mais pontos, em séries diferentes, e subiram aos campeonatos profissionais.
"Isso destruiu por completo o projeto desportivo e financeiro - perdemos os jogadores sem compensação económica - e, sobretudo, abalou, e muito, a credibilidade e confiança que os parceiros e financiadores que angariámos depositavam nas instituições desportivas e judiciais em Portugal, tendo em conta que quer a decisão da FPF assim como as decisões sucessórias dos tribunais foram incompreensíveis, sendo até algumas delas contraditórias. Apesar de este ser um tema fechado a nível desportivo ainda não se encontra totalmente encerrado a nível de responsabilidade civil dos intervenientes", explica o dirigente.
"No meio de uma pandemia, com o mundo praticamente parado, tivemos de nos reinventarmos, para não fechar portas no imediato, mas não mais foi possível angariar um parceiro/ investidor credível que nos ajudasse a fazer um projeto desportivo que nos permitisse subir de divisão", prossegue Luís Torres, adiantando que "provavelmente, no final dessa época, a decisão certa era abandonar o projeto, mas esta direção tentou aguentar, mesmo sem qualquer recurso financeiro garantido, para que não fosse o fim do Olhanense".
Insistindo neste ponto, o líder dos algarvios destaca que "nos últimos dois anos não tivemos investidores nem financiadores e em duas ocasiões ainda propusemos ao clube assumir a SAD e a gestão desportiva, mas isso não foi aceite, pelo que continuámos a lutar sozinhos", salienta. "Nesses anos as receitas obtidas pela minha direção foram unicamente através dos poucos patrocinadores e parceiros que, de forma apaixonada e sem objetivo de qualquer retorno, tornaram possível terminar a temporada passada e fazer o projeto desportivo desta temporada. Sabíamos e nunca o escondemos que iríamos ter bastantes dificuldades competitivas, mas, na falta de outra solução, voltámos humildemente a tentar. O objetivo era claro, a permanência, e, caso fosse possível angariar o capital necessário, fazer um projeto credível para levar este clube novamente onde ele merece estar".
Luís Torres deixa uma palavra ao "profissionalismo e dedicação de todos os que fazem e fizeram parte deste projeto, que ainda não terminou, e que deram o melhor de si para que o resultado fosse outro, mas uma equipa construída de raiz, muito tarde, com a maioria dos atletas oriundos da região e ainda com pouca experiência a nível sénior, foram fatores que tiveram um peso enorme no resultado final".
A terminar, "aproveitamos desde já para agradecer a todos os que nos ajudam diariamente e pedir desculpa por não termos conseguido outro desfecho", diz Luís Torres, que prefere "não entrar em guerrilha" com o presidente do clube, Isidoro Sousa, que disse que tudo se deve à incompetência da SAD. "Como o sr. Presidente foi administrador desta SAD até setembro de 2019, será que se está a incluir no grupo?", questiona, pronto a arregaçar as mangas. E conclui: "O momento em causa devia de servir para que as pessoas que gostam do Olhanense e da cidade se unissem e tentassem uma solução que resolvesse os problemas do clube e na SAD, que são muitos, e não tentar mais uma vez cavalgar os insucessos em proveito próprio".