"No Canelas há um ADN próprio, todos têm uma fome de vencer enorme"

"No Canelas há um ADN próprio, todos têm uma fome de vencer enorme"
André Bastos

Paulo Silva treina pela primeira vez uma equipa sénior e só está a um ponto dos primeiros, o Varzim e o Vilaverdense. Com passagens na formação de Feirense, Boavista e Naval, entre outros, Paulo Silva, 31 anos, foi adjunto no Oleiros e team manager na Oliveirense antes do maior desafio na carreira desportiva.

Aos 31 anos, Paulo Silva está a realizar o sonho de ser treinador principal de uma equipa sénior, e logo da Liga 3, ao serviço do Canelas. Um convite irrecusável para quem na época passada ajudou na subida da Oliveirense à Liga SABSEG, como team manager, e que ardentemente desejava ser técnico principal a este nível.

Após vários trabalhos em escalões de formação, Paulo esteve perto de orientar o Oliveira do Hospital, mas a entrada de novos investidores, levou à escolha de Nuno Pedro. Depois, entrou em cena o Canelas e um novo desafio.

O Canelas soma três vitórias e uma derrota, estando apenas a um ponto dos líderes primeiros, contava ter este arranque?
-É evidente que trabalhamos para ganhar os jogos a cada semana. É um início bastante interessante, com três vitórias e apenas uma derrota, contra um candidato à subida [Braga B]. O caminho, até agora, deixa-nos felizes, mas não há classificações finais à quarta jornada.

O Paulo chegou à Liga 3 quase como um desconhecido, como surgiu esta oportunidade?
-Já são alguns anos no futebol como treinador, embora no ano passado tenha estado noutras funções na Oliveirense, e já passei por diversos contextos a nível de formação e seniores. A oportunidade apareceu, em conjunto com algumas pessoas [Felipe Veras e Ronnie, da Brasil Soccer Academy], que me referenciaram à estrutura do clube. Era uma oportunidade que ainda não tivera. Pensei que poderia ir para o Campeonato de Portugal, mas sinto-me um privilegiado por me poder mostrar na Liga 3.

É um dos treinadores mais jovens e menos experientes na prova, sente que começa a ganhar mais mediatismo?
-Vou sentindo, até pela importância que hoje têm as redes sociais, mas não dou muito valor a isso. É sempre motivo de orgulho ver o trabalho reconhecido, não só por mim mas por todos os que trabalham comigo, mas são só quatro jornadas e uma eliminatória da Taça, ainda há muito caminho a percorrer e no futebol é tudo muito efémero. De repente, perdem-se dois ou três jogos e o Paulo Silva, que é o segundo treinador mais jovem, já não é destaque nenhum ou é-o pelos piores motivos. O importante é manter o equilíbrio e ter capacidade para lidar com momentos menos bons.

O registo de cinco golos marcados e dois sofridos significa que o Canelas é uma equipa que ataca pela certa e defende bem?
-O registo é um bocadinho enganador, principalmente nos jogos que ganhámos em casa. Podíamos ter sofrido mais golos e marcado mais alguns, mas isso premeia a nossa organização defensiva. Somos uma equipa que privilegia a posse, consegue criar oportunidades e tenta ter uma ideia bem vincada, com uma estratégia definida para cada jogo.

Há uns anos, o Canelas era apontado como demasiado agressivo nos jogos. Essa imagem mudou?
-Claramente! Cada vez é menos um tema em debate. O Canelas é um clube como qualquer outro da Liga 3, com as suas dificuldades logísticas, orçamentais, com poucos apoios, que trabalha com muita gente séria e profissional e não há qualquer tipo de agressividade. Há um ADN próprio, pois todas as pessoas envolvidas têm uma fome de vencer enorme.

A bagagem que trouxe da Oliveirense ajudou-o na adaptação ou são realidades diferentes?
-Ajudou bastante. São realidades distintas, embora a competição fosse a mesma. Na Oliveirense, até pela tradição do clube, as obrigações eram outras, o Canelas é um novato nestas andanças. Foi uma experiência importantíssima, estive noutras funções e cresci imenso. Estar numa parte mais logística, faz-nos dar o devido valor a outras coisas. E a convivência também me fez evoluir.

Quais foram os objetivos que a Direção lhe pediu para atingir esta temporada?
-O objetivo é semana a semana. Não queremos fugir a qualquer responsabilidade, mas não a temos, ao contrário de outras equipas que têm como objetivo a subida de divisão, com grandes orçamentos e história. O Canelas tem crescido e sólido nos campeonatos nacionais. A manutenção é uma meta muito difícil, até porque este ano descem quatro equipas, e esse tem de ser o primeiro objetivo concretizado.

Licenciado em Comunicação teve Mourinho e o FM como inspiração

Paulo Silva é licenciado em Comunicação Social, mas nunca trabalhou na área, à exceção do estágio na secção de desporto do Diário As Beiras, tendo desde adolescente "o sonho de ser treinador".

"O aparecimento do José Mourinho, que é de longe a minha referência, foi quando me comecei a apaixonar", conta a O JOGO, acrescentando que o jogo Football Manager também o influenciou.

"Foram muitas horas perdidas a jogar, deixei de querer ser jogador e passei a ter o sonho de ser treinador. Aos 18 anos comecei o curso de nível I", revela quem alterou o percurso devido à covid-19.

"Em 2020/21 estava como adjunto no Oleiros, mas saí devido à pandemia e ao facto de a minha namorada estar grávida. Fui trabalhar em recursos humanos e na época passada voltei ao futebol, para a Oliveirense, a convite do Fábio Pereira", resume.