"No Canelas há um ADN próprio, todos têm uma fome de vencer enorme"
Paulo Silva treina pela primeira vez uma equipa sénior e só está a um ponto dos primeiros, o Varzim e o Vilaverdense. Com passagens na formação de Feirense, Boavista e Naval, entre outros, Paulo Silva, 31 anos, foi adjunto no Oleiros e team manager na Oliveirense antes do maior desafio na carreira desportiva.
Aos 31 anos, Paulo Silva está a realizar o sonho de ser treinador principal de uma equipa sénior, e logo da Liga 3, ao serviço do Canelas. Um convite irrecusável para quem na época passada ajudou na subida da Oliveirense à Liga SABSEG, como team manager, e que ardentemente desejava ser técnico principal a este nível.
Após vários trabalhos em escalões de formação, Paulo esteve perto de orientar o Oliveira do Hospital, mas a entrada de novos investidores, levou à escolha de Nuno Pedro. Depois, entrou em cena o Canelas e um novo desafio.
O Canelas soma três vitórias e uma derrota, estando apenas a um ponto dos líderes primeiros, contava ter este arranque?
-É evidente que trabalhamos para ganhar os jogos a cada semana. É um início bastante interessante, com três vitórias e apenas uma derrota, contra um candidato à subida [Braga B]. O caminho, até agora, deixa-nos felizes, mas não há classificações finais à quarta jornada.
O Paulo chegou à Liga 3 quase como um desconhecido, como surgiu esta oportunidade?
-Já são alguns anos no futebol como treinador, embora no ano passado tenha estado noutras funções na Oliveirense, e já passei por diversos contextos a nível de formação e seniores. A oportunidade apareceu, em conjunto com algumas pessoas [Felipe Veras e Ronnie, da Brasil Soccer Academy], que me referenciaram à estrutura do clube. Era uma oportunidade que ainda não tivera. Pensei que poderia ir para o Campeonato de Portugal, mas sinto-me um privilegiado por me poder mostrar na Liga 3.
É um dos treinadores mais jovens e menos experientes na prova, sente que começa a ganhar mais mediatismo?
-Vou sentindo, até pela importância que hoje têm as redes sociais, mas não dou muito valor a isso. É sempre motivo de orgulho ver o trabalho reconhecido, não só por mim mas por todos os que trabalham comigo, mas são só quatro jornadas e uma eliminatória da Taça, ainda há muito caminho a percorrer e no futebol é tudo muito efémero. De repente, perdem-se dois ou três jogos e o Paulo Silva, que é o segundo treinador mais jovem, já não é destaque nenhum ou é-o pelos piores motivos. O importante é manter o equilíbrio e ter capacidade para lidar com momentos menos bons.
O registo de cinco golos marcados e dois sofridos significa que o Canelas é uma equipa que ataca pela certa e defende bem?
-O registo é um bocadinho enganador, principalmente nos jogos que ganhámos em casa. Podíamos ter sofrido mais golos e marcado mais alguns, mas isso premeia a nossa organização defensiva. Somos uma equipa que privilegia a posse, consegue criar oportunidades e tenta ter uma ideia bem vincada, com uma estratégia definida para cada jogo.
Há uns anos, o Canelas era apontado como demasiado agressivo nos jogos. Essa imagem mudou?
-Claramente! Cada vez é menos um tema em debate. O Canelas é um clube como qualquer outro da Liga 3, com as suas dificuldades logísticas, orçamentais, com poucos apoios, que trabalha com muita gente séria e profissional e não há qualquer tipo de agressividade. Há um ADN próprio, pois todas as pessoas envolvidas têm uma fome de vencer enorme.
A bagagem que trouxe da Oliveirense ajudou-o na adaptação ou são realidades diferentes?
-Ajudou bastante. São realidades distintas, embora a competição fosse a mesma. Na Oliveirense, até pela tradição do clube, as obrigações eram outras, o Canelas é um novato nestas andanças. Foi uma experiência importantíssima, estive noutras funções e cresci imenso. Estar numa parte mais logística, faz-nos dar o devido valor a outras coisas. E a convivência também me fez evoluir.
Quais foram os objetivos que a Direção lhe pediu para atingir esta temporada?
-O objetivo é semana a semana. Não queremos fugir a qualquer responsabilidade, mas não a temos, ao contrário de outras equipas que têm como objetivo a subida de divisão, com grandes orçamentos e história. O Canelas tem crescido e sólido nos campeonatos nacionais. A manutenção é uma meta muito difícil, até porque este ano descem quatro equipas, e esse tem de ser o primeiro objetivo concretizado.
Licenciado em Comunicação teve Mourinho e o FM como inspiração
Paulo Silva é licenciado em Comunicação Social, mas nunca trabalhou na área, à exceção do estágio na secção de desporto do Diário As Beiras, tendo desde adolescente "o sonho de ser treinador".
"O aparecimento do José Mourinho, que é de longe a minha referência, foi quando me comecei a apaixonar", conta a O JOGO, acrescentando que o jogo Football Manager também o influenciou.
"Foram muitas horas perdidas a jogar, deixei de querer ser jogador e passei a ter o sonho de ser treinador. Aos 18 anos comecei o curso de nível I", revela quem alterou o percurso devido à covid-19.
"Em 2020/21 estava como adjunto no Oleiros, mas saí devido à pandemia e ao facto de a minha namorada estar grávida. Fui trabalhar em recursos humanos e na época passada voltei ao futebol, para a Oliveirense, a convite do Fábio Pereira", resume.