Sonhos driblados: visita guiada pelo triunfo e pelos fracassos da formação em Portugal

Sonhos driblados: visita guiada pelo triunfo e pelos fracassos da formação em Portugal

37.º aniversário d' O JOGO - Pegamos no tema da moda para explicar como cresceu a formação e contar as histórias menos conhecidas, do estrelato que ficou por concretizar. Uma viagem pela adolescência do futebol.

O Sporting de 2020/21 e o FC Porto de 2021/22 são sucessos da formação, empurrados pelas crises económicas dos clubes e pelo aumento da concorrência nos mercados latino-americanos. Nascido em 1985, O JOGO coincidiu com a grande explosão da formação em Portugal, primeiro pela via dos títulos internacionais - com Carlos Queiroz - e depois pela evolução, passo a passo, da chegada dos licenciados às equipas técnicas até à construção dos grandes centros de treino.

Nesta edição especial, vamos explicar como se deu esse processo, numa espécie de viagem guiada pelo antigo selecionador Agostinho Oliveira, figura transversal aos principais momentos da transformação, mas o ponto forte do nosso trabalho são os cinco testemunhos de ex-jogadores, de talento mais do que reconhecido, que não chegaram a cumprir as altas expectativas que alimentavam enquanto juvenis e juniores.

O objetivo é percebermos as inúmeras variáveis que se atravessam no caminho de cada jovem futebolista, das lesões ao aconselhamento, passando pela trivial decisão de ter, ou não, um agente, ou mesmo do problema que uma alegada vantagem como a polivalência pode significar.

A formação é tão fundamental como suscetível à demagogia dos dirigentes e à ingenuidade dos adeptos. Mostramos como Portugal brilha mais no estrangeiro do que em casa, exportando mais do que utilizando, ao ponto de estar na cauda europeia entre as equipas que menos jogadores formados no clube utilizam. Em simultâneo, há indícios sólidos de que essa é uma tendência global, não só nas 31 maiores ligas da Europa como também em cada estrato, a começar nas Big5 e acabar, com maior ênfase ainda, nos campeonatos menos relevantes.

Num futebol de mercado, a formação transformou-se em mercadoria, e depois em mercadoria de luxo à medida que vamos baixando para os patamares mais pobres. Aí, o desafio já é manter alguns talentos até aos seniores, porque as debilidades económicas tornaram os escalões jovens presas fáceis para os clubes das cinco grandes ligas, que se vão abastecendo com crescente facilidade mesmo em competições médias como a portuguesa.

Infraestruturas: dos pelados ao treino de luxo
Nos anos 1980, ninguém acreditaria que um dia haveria centros de treino com hotel permanente, vários ginásios, oito relvados, sintéticos cobertos e até instalações para treino eletrónico da rapidez de reação, muito menos acreditariam em equipas técnicas multidisciplinares nos escalões de formação, em contraste com a velha dupla treinador/adjunto (quando havia adjunto) dos pelados que, nos anos 1990, eram tudo que as equipas de juniores, juvenis e iniciados conheciam.

5 histórias que pode ler na edição impressa e que serão publicas ao longo do dia na edição online

Luís Miguel
Na sombra da geração dourada
Um nome perdido para as novas gerações, mas do qual os quarentões ainda se lembrarão. Extremo potente, campeão do Mundo em 1991, apesar de uma lesão que o atormentaria até à desistência.​​​​​

Márcio Sousa
O peso de Maradona às costas

Campeão europeu de sub-17 e figura maior de uma seleção que tinha João Moutinho como suplente, Márcio Sousa viu a carreira barrada pela super FC Porto de Mourinho e, se calhar, pela falta de um empresário. Sem mágoas.

Reisinho
Um pé direito lendário

Nos bastidores, é frequente ouvir-se falar de Reisinho, personagem da geração de Sérgio Conceição com um pé direito lendário que a I Liga praticamente não chegou a conhecer. Acabou no Luxemburgo, em part-time.

Vitor Cardoso
Conforto valeu nega ao FC Porto

Uma carreira iniciada no Espinho, que o levou a um Mundial de sub-20, sofreu uma travagem brusca com duas negas, ao FC Porto e ao Boavista. Restou "uma casa e um carro". "Pelo menos, não carrego essas dívidas."

Adriano
A pancada depois da saturação

Os jornalistas que cobriram as seleções da formação nos anos 90 conhecem o nome. A técnica impressionava os colegas e juntava-lhe o físico, mas uma pancada num tornozelo desviou-lhe a carreira. Da fisioterapia para a fisioterapia.