O JOGO visitou a formação do Andorinha, da AA Bela Vista e do União Micaelense
EDIÇÃO ESPECIAL ANIVERSÁRIO - O JOGO auscultou o país real e os problemas dos clubes amadores.
400 querem seguir os passos do CR7
Além de Cristiano Ronaldo, os madeirenses do Andorinha também veem com grande entusiasmo a afirmação do avançado Henrique Araújo, que passou pela formação do clube.
Vinte e oito anos depois de ter visto Cristiano Ronaldo, que se tornou no maior futebolista português de todos os tempos, sair para o Nacional, o Clube Futebol Andorinha continua a trilhar o papel de formador. Com todos os escalões etários em atividade, a formação reúne "quase 400 atletas", conta Duarte Santos, presidente do clube, a O JOGO. "O Andorinha é um dos melhores clubes formadores da Madeira. Todos os anos saem atletas para as equipas do Marítimo e do Nacional, que se limitam a vir buscar aos clubes formadores para serem campeões", diz com orgulho, mas também com mágoa à mistura. Com sede e instalações na freguesia mais populosa da Madeira, apenas alguns quilómetros acima das oficinas do Marítimo, o Andorinha prossegue, apesar das dificuldades, a missão de formar. "O Andorinha e a freguesia de Santo António são um viveiro de jogadores", constata o dirigente, lamentando, porém, que esta capacidade para criar jogadores "não tenha mais reflexo nos escalões seniores, pois o Marítimo e o Nacional acabam por estragar o trabalho de base dos clubes formadores".
Além de Cristiano Ronaldo, o Andorinha também faz parte da caminhada de sucesso de Henrique Araújo, madeirense que está emprestado pelo Benfica ao Watford. "Tivemos o Henrique Araújo na nossa formação durante quatro anos", recorda.
Os gastos com o futebol jovem são muitos e as verbas recebidas do Governo Regional já não chegam. "Todos os nossos atletas pagam 25 euros mensais. O apoio do Governo Regional é para as infraestruturas, futebol sénior e formação. No total, cerca de 50 mil euros por ano. Todas as despesas são do clube, pois a infraestrutura é nossa, mais gás, luz, água, treinadores e carrinhas", resume. Ainda no capítulo das finanças, Duarte Santos diz que o Andorinha "nunca recebeu um cêntimo pela formação do Ronaldo", já que, defende, "o Sporting deveria ter pago 100 mil euros na altura do primeiro contrato". No entanto, CR7 saiu para o Nacional quando tinha 10 anos, pelo que, regulamentarmente, não garante direitos de formação ao Andorinha.
Falta de espaço dá dores de cabeça
Clube do Parchal, no concelho de Lagoa, tem 170 miúdos, das escolinhas à competição. Os resultados desportivos "são o menos importante", garante o dirigente Carlos Sequeira
São seis equipas de competição, mais as de recreação, num total de 170 miúdos, dirigidos por 16 técnicos. Os números da Associação Académica da Bela Vista, sediada no Parchal, no concelho de Lagoa, paredes-meias com Portimão, espelham uma vitalidade crescente, que, todavia, está agora presa num "colete de forças", sem espaço para albergar mais atletas, como revela Carlos Sequeira, diretor da entidade formadora e alma de um projeto que se iniciou há 14 anos, com a criação da Escola de Futebol Os Pongas, destinada precisamente aos petizes que logo a partir dos quatro anos queriam mostrar as suas habilidades. "Os miúdos foram crescendo e continuam connosco, perfeitamente identificados com uma filosofia em que os resultados desportivos são o menos importante. O objetivo é prepará-los para a vida, seguindo o dia a dia, através do futebol, claro, mas à frente de tudo está o respeito de todos e para todos", releva Carlos Sequeira, lamentando que a evidente falta de espaço "não permita receber mais jovens".
É este o grande obstáculo no percurso da Associação da Bela Vista, que apresentou já um dossiê à Câmara de Lagoa no sentido de poder usufruir de mais espaço, inclusivamente numa área multidisciplinar e unicamente para as equipas (traquinas e petizes) de recreação. "Estamos num colete de forças e não conseguimos crescer mais. Cada grupo de competição tem mais de 20 miúdos e às vezes só dispomos de meio-campo para treinar", queixa-se o dirigente.
Problemas à parte, o Municipal da Bela Vista e o campo de Estômbar refletem, de segunda a sexta, a alegria de quem tem paixão pelo treino e pela bola. A competição só se iniciou há sete anos - hoje há três equipas de benjamins, duas de infantis e uma de juvenis - e uma das maiores satisfações, considera Carlos Sequeira, reside no facto de mais de 70 por cento dos juvenis terem começado nas escolinhas. "O nosso foco é este, o de construir equipas desde a base".
A Associação Académica da Bela Vista não tem juniores e muito menos seniores. Nem sonha ter estes escalões. "O sonho? É mesmo dispor de mais espaço para receber mais crianças".
"Formar homens" é a grande missão
É o clube mais antigo da ilha de São Miguel e o segundo dos Açores. O União Micaelense nasceu a 7 de maio de 1911 e, mais do que desenvolver jogadores, tem como missão "formar homens".
"É um motivo de orgulho termos contribuído para a formação de um engenheiro, de um médico ou de outro profissional qualquer, porque essa é, de facto, a nossa principal função: ajudá-los na sua formação enquanto homens", explica o diretor-geral Arsénio Furtado, realçando que muitos dos que deixam o clube para prosseguir o ensino superior "não perdem o cordão umbilical" ao União. "Esse é o nosso ADN. Temos muitos casos assim. Enche-nos de orgulho que eles tenham atingido outras profissões. Quem aqui jogou orgulha-se de ter passado por esta instituição centenária", realça.
A equipa sénior compete no Campeonato dos Açores e tem oito jogadores da formação, número que o dirigente entende que podia ser ser maior se muitos não optassem por prosseguir os estudos. Mas a prioridade nunca se altera para o clube da Rua dos Mercadores. "Temos a nossa pirâmide bem definida, que é encabeçada pela formação". Desde Pedro Pauleta, passando por Diogo Fonseca, ex-futebolista e agora diretor-desportivo da B SAD, e João Pedro, avançado dos gregos do Panetolikos, são muitas as referências do futebol açoriano que vestiram as cores do União.
Outro motivo de orgulho do clube micaelense é a organização do International Football Tournament Azores Under-11, "o maior torneio infantil dos Açores", que este ano se realiza de 5 a 8 de abril. "Orgulhamo-nos de organizar a maior festa do futebol infantil açoriana, que se realiza sempre na semana da Páscoa. Este ano temos quatro continentes representados por oito países. O mais importante nem é vertente competitiva, mas sim a social, a de podermos aproximar povos", destaca o diretor-geral do projeto. Na competição, para além dos três "grandes" portugueses, também PSV Eindhoven, Marselha e Avaí, entre muitos outros, já a disputaram. Neste ano, na 15.ª edição, o destaque vai para os italianos do Parma e para a estreia de uma equipa proveniente do Cazaquistão, o Arlander FC. "Os Açores são falados nos quatro cantos do Mundo devido a este torneio", afirma satisfeito.