Yusupha deixou o Boavista guiado por um contrato no Catar, levando-o no coração e reconhecendo aprendizagens e discórdias com Petit, mesmo tendo feito a melhor época da carreira.
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Yusupha despediu-se do Boavista com a melhor época de sempre, fazendo 14 golos em 32 jogos, num registo muito superior ao conseguido em qualquer uma das cinco temporadas anteriores. O avançado gambiano, de 29 anos, foi um dos jogadores com existência mais longa na pantera desde que se deu o regresso ao convívio dos grandes, gerando sentimentos, muitas vezes contraditórios, entre os adeptos axadrezados. Muito apreciado por uns, criticado severamente por outros, Yusupha convocou o consenso em 2022/23, contribuindo para muitas vitórias do Boavista.
Apesar de associado ao Vitória de Guimarães nos meses que antecediam o fim do contrato, o africano acabou por aceitar, sim, a oferta do Al Markhiya, do Catar. "A confiança esteve sempre presente, mas, é claro, sabendo que o meu contrato estava a terminar, precisava de um novo desafio e isso fez-me batalhar com mais força", conta Yusupha, que deixou uma marca de 36 golos pelas panteras, após ter chegado com 23 anos, oriundo de Marrocos. "Sempre me lembrarei dos meus anos no Boavista, é algo que nunca poderei ignorar. Tive momentos bons, grandes golos ao Benfica, Braga e Aves, e outros mais tristes. Não posso esconder que esta última temporada trouxe maior felicidade, mas houve alturas mais complicadas, em que não joguei tanto como julgo que deveria ter jogado", argumenta o avançado, deixando uma avaliação agridoce sobre Petit. "Foi um prazer ter caminhado com ele, nem sempre concordámos. O futebol é assim e faz-nos aprender. O treinador que melhor me compreendeu foi o Jorge Simão", invoca Yusupha, com memória de situações mais difíceis que obstaram um salto.
Foi falado para os grandes de Portugal e chegou a ter tudo certo para reforçar o Reims, vestindo até a camisola dos franceses. No entanto, reprovou nos exames médicos. "Foi muito difícil lidar com isso, porque nem eu sei porque as coisas não se confirmaram. Queria muito e não se proporcionou", desabafa o gambiano, agora pronto a conquistar outros adeptos. Desmente o rumor que o ligou ao V. Guimarães, cenário que deixaria a nação axadrezada em polvorosa. "Não posso dizer que foi a melhor saída, mas acho que é uma decisão certa nesta altura do meu trajeto. Vou lutar pelo acesso à Champions da Ásia. Não soube nada do Vitória, fiquei surpreso", relata Yusupha, descrevendo a relação com o Boavista, até pelos julgamentos das bancadas, quando a falta de confiança abraçava a falta de minutos. "Foi difícil, sempre lutei para provar que podia ajudar a equipa a ganhar jogos. Pensava sempre na felicidade dos adeptos, no amor ao clube, e no apoio que me davam. Mas é certo que nem todos vão gostar de ti. Isso nunca muda, como nunca deixei de acreditar nas minhas qualidades", reage.
Biri Biri: orgulho e inspiração
Três anos passaram sobre a morte de Biri Biri, pai de Yusupha e um herói africano pelo sucesso em Espanha na década de 70, estrela do Sevilha na subida de 1974/75. Foi o primeiro negro no Sánchez Pizjuán e o respeito ficou perpetuado até hoje com uma claque organizada com o seu nome. "Foi difícil lidar com a sua morte. Ele foi pai, amigo e conselheiro. Tínhamos muitas conversas sobre futebol e senti falta disso. As suas palavras e conselhos fizeram-me seguir em frente, são a razão do orgulho de o ter tido como pai. Uma grande inspiração."
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