Yago lembra incidente contra o V. Guimarães: "Jamais festejarei assim, tratei o mal com o mal"
ENTREVISTA - Yago Cariello chegou este ano à Liga principal e começou logo a marcar, quiçá com a bênção do "Imperador", o compatriota que idolatra e cujos golos continua a ver em vídeo antes de entrar em campo. Comemoração dos "tiros" para os adeptos do V. Guimarães foi uma precipitação, um grande erro.
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Tem 23 anos e é a mais recente aposta do Portimonense num jogador oriundo dos escalões inferiores. Ponta-de-lança forte e possante, cabeceia como poucos e vai vivendo momentos únicos, o que é natural para quem há poucos meses ainda atuava no União de Santarém. As confissões de Yago a O JOGO revelam também o lado humano de um jovem brasileiro cuja família não tinha condições para o inscrever numa escola de futebol.
No dia da sua apresentação, disse que era um sonho ter trocado a Liga 3 pela Liga Bwin. Agora, que é uma realidade, que já jogou e marcou, quais os sentimentos?
-É uma coisa muito boa...como disse na altura, trabalhei muito para chegar aqui, acho que cheguei bem e sinto-me já realizado por tudo o que tem sucedido e pelo que consegui alcançar.
Esperava ser logo titular no início do campeonato?
-Quando um jogador chega a um clube novo, o objetivo é começar logo a jogar. Fiz uma pré-época boa, trabalhei muito, sempre no máximo, depois o míster deu-me a oportunidade, fui feliz, gostei e estou a aproveitar bem.
Como se sentiu nos primeiros jogos?
-No primeiro jogo, na nossa casa, perante um clima tão bom, senti-me mesmo realizado. Foi a tal concretização do sonho, que se foi repetindo nos outros jogos, sempre a desfrutar e a tentar evoluir.
E os golos... de qual gostou mais?
-Tratou-se de uma emoção única, um momento único. Em Paços de Ferreira estava um pouco debilitado, mas fui na raça e na vontade e foi muito bom. Sem palavras. De qual gostei mais? Sem dúvida o segundo, contra o Vitória de Guimarães, também por ter sido aos 88 minutos e representar a vitória, ainda mais coroando a reviravolta. Foram os dois de cabeça. Já tinha dito, no dia da apresentação, que não importa como se marca, mas de cabeça é o meu ponto forte.
A lesão é que chegou na pior altura...
-Foi muito chato! Lesionei-me logo no primeiro jogo, com o Boavista, fui forçando, sempre a jogar, mas depois tive que parar porque o músculo da perna direita podia romper e seria pior. Mas já passou, espero bem que sim.
O treinador Paulo Sérgio, que também foi ponta-de-lança, tem dado muitas dicas?
-Nos treinos, logo de início, cobrava bastante, pedindo para não sair da zona da área e estar sempre ligado ao jogo, que a bola havia de chegar. Incentivou-me a procurar a finalização e ensaiámos muitos cruzamentos para cabecear. Fui aproveitando todos os ensinamentos e esta preparação, em termos coletivos, tem dado frutos.
Tem algum ídolo?
-Sim, tenho, é o Adriano, o "Imperador", que já parou de jogar. As características são as mesmas, pé esquerdo, cabeceamento, força e velocidade. O Adriano é a minha inspiração e ainda hoje, antes de entrar em campo, vejo os vídeos e os golos dele, no Inter, na seleção brasileira, no Flamengo. É como eu, não tinha nada e conseguiu conquistar o mundo.
"Só aos 17 anos é que iniciei a minha carreira"
"O brasileiro cresce com a bola na mão, mas quando era miúdo não tive oportunidade de jogar num clube. Só aos 17 anos iniciei a minha carreira, no América do Rio, um sonho adiado até esse dia", revela Yago, numa curta viagem ao passado não muito distante. "Para jogar nas escolinhas era preciso pagar e a minha família não tinha dinheiro para isso. Jogava na rua, em projetos de bairro, caso do Quintino, com o professor Fernando China, com quem mantenho contacto. Foi através desse projeto que dei nas vistas".
"Jamais repetirei aqueles festejos"
O gesto de Yago, que comemorou um golo a ensaiar tiros para os adeptos vimaranenses, é sinónimo de arrependimento.
Voltava a repetir os festejos do golo ao Vitória de Guimarães?
-Jamais festejarei assim. Foi no calor do jogo, acabei por me precipitar na comemoração. Não sou assim. Quem estava no jogo viu o que aconteceu, tratei o mal com o mal e fui igual a eles. O mal trata-se com o bem. Estou muito arrependido, mas não tenho como voltar atrás. Aprendi com o erro e nunca mais vou repetir, não é isso que quero para a minha vida, toda aquela repercussão foi mesmo coisa feia.
O futebol tem de ser uma festa...
-E um exemplo para as crianças, que vêm com as famílias ver os jogos. Há muitos miúdos que querem ser jogadores e eu abro os braços para os receber.