Vitória a celebrar contrato com 70 jogadores? "Há um mês, Nélson da Luz seria visto como um erro"
Miguel Pinto Lisboa em entrevista à Rádio Fundação
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A fuga de talentos: "Numa fase inicial, tivemos que contratar alguns jogadores para os escalões de formação porque se tinha verificado uma fuga grande de talentos para os nossos principais rivais. Tivemos ainda que formalizar contratos profissionais com atletas da nossa formação para evitar que essa fuga de talentos se prolongasse. O nosso projeto, desde o início, sempre foi formação e prospeção. De resto, todas as operações foram comunicadas. O Vitória é um clube sério e sem opacidade. Não me sinto visado pelas críticas".
Política linear: "Não tivemos duas épocas desportivas completas. A planificação da época 2019/20 não foi da nossa responsabilidade; na seguinte e nesta, sim, tivemos responsabilidade completa. E a política foi sempre linear".
Os empréstimos de Pedro Henrique e Rafa Soares: "O Rafa Soares foi emprestado em 2019/20, no mercado de inverno, e tratou-se de uma opção técnica. Não foi mais do que isso. E o próprio jogador manifestou a vontade de jogar no estrangeiro. Houve uma conjugação de vontades. Aliás, nessa altura, o Rafa Soares não era titular absoluto na equipa. Já o Pedro Henrique foi emprestado no início da época 2020/21, também por opção técnica. E voltou a ser emprestado no começo desta época, depois de termos renovado o seu contrato porque já estava em fim de ligação ao clube, e acabámos por alienar os direitos económicos do jogador já neste mercado de inverno".
Apenas três reforços para esta época: Borevkovic, Alfa Semedo e Tiago Silva: "O Vitória tem uma política linear: desde o início aposta na formação e na prospeção de jovens. São jogadores indicados pela prospeção do clube, com potencial para alcançarem a primeira equipa e que podem tornaram-se mais-valias. No passado, contratámos jogadores portugueses e estrangeiros tal como nesta época".
A aposta falhada em Tiago Mendes: "Ao contrário do que já ouvi dizer por aí, não se tratou de um impulso ou algo do género. Foi uma aposta pensada. Tivemos conversas com o Tiago Mendes durante vários meses, a época desportiva de 2020/21 foi feita com ele. Ele tem características que nos pareciam ser adequadas. É um jovem treinador e tinha aqui um projeto de futuro. Na verdade, o Tiago, por diversos motivos, entendeu que não devia continuar no Vitória e tivemos que dar o passo seguinte. Mas foi uma aposta pensada. É um treinador jovem e tem características de liderança que faziam sentido para nós. Não resultou. O Tiago entendeu que não estaria em condições de liderar o projeto e apresentou a demissão".
Nos últimos três anos, o Vitória celebrou contratos com 70 jogadores: "O Vitória fez contratos profissionais com 70 jogadores, não contratou 70 jogadores. Alguns desses jogadores já cá estavam, como são os casos do André Amaro, Hélder Sá, entre outros... Admito, no entanto, que podem ter sido cometidos erros na vinda de alguns atletas do estrangeiro, mas o futebol está sujeito a mais erros do que outras indústrias. E o que pode ser um erro nesta altura pode deixar de ser daqui por algum tempo. Há um mês, o Nélson da Luz seria visto como um erro e, na verdade, já ninguém tem essa visão. É preciso tempo para enquadrar os atletas. O Marcus Edwards e o Mumin são casos de sucesso; o Nélson da Luz está agora a ser um caso de sucesso. Outros não são, mas tratam-se de jogadores internacionais. Veja-se o caso do Elias Abouchabaka: quando foi contratado, foi sempre referido que se tratava de um jovem internacional alemão com potencial. No entanto, na primeira época, fez um jogo pela equipa principal; na segunda, poucos jogos fez pelos bês. E agora está a ter algum sucesso nos sub-23. Pode ser considerado um erro de casting, mas enquadra-se numa política bem definida".
Venda de Edwards: "Não sei se o Edwards foi a segunda maior venda do clube ou não. Estamos a falar de uma alienação de 50 por cento dos direitos desportivos, com jogadores incorporados no negócio que também têm a sua valia. O Edwards e o Tapsoba foram dois grandes negócios do Vitória e definem o rumo da política desta direção. Os jogadores do Vitória saíram num enquadramento financeiro diferente em relação ao que acontecia no passado".
Transferência de Tapsoba alvo de inquérito judicial: "Sim, é verdade que nas últimas buscas à SAD, que visavam negócios de jogadores com o FC Porto e o Benfica, também a transferência de Tapsoba foi objeto de análise por conta de uma denúncia anónima que o DCIAP recebeu. E quando há denúncias anónimas, tem de se abrir uma investigação, mas estamos perfeitamente confortáveis no negócio do Tapsoba. Quando esta direção chegou, o Tapsoba tinha uma cláusula de rescisão de 10 milhões de euros e o Vitória detinha 75 por cento dos direitos económicos e um mandato de representação de 25 por cento conferido à empresa D20. Os outros 25 por cento dos direitos económicos eram do Leixões, com o Vitória a ter direito a comprar 20 por cento desses direitos por um valor fixado de um milhão de euros. A nossa direção entendeu que o Tapsoba era um jogador invulgar e que poderia atingir valores superiores à cláusula de rescisão e, por isso, entendemos que devíamos renovar o contrato dele, elevando-lhe a cláusula. E para nos assessor nessa operação entendemos que devíamos estar com os principais players do mercado e assim foi. Renovámos o contrato do Tapsoba, aumentámos-lhe a cláusula para 50 milhões de euros e fomos a assessorados pela empresa Gestifute para alavancar o valor do atleta. E comprámos e estabelecemos um princípio de acordo para a compra dos 25 por cento da D20 porque entendíamos que ficava mais defendida a posição do Vitória, achando-se esse acordo para a posição do que deixar esses 20 por cento sem um preço definido. Não só juridicamente como financeiramente entendemos que era o melhor para o Vitória. Foi fixado o preço de um 1,8 milhões de euros para qualquer receita acima dos oitos milhões de euros para a compra dessa posição e foi isso que depois foi pago quando o jogador é alienado por 18 milhões de euros ao Bayer Leverkusen, numa operação que resulta depois de uma sequência de ofertas e de operações que valorizaram o jogador. Até parece que alguém chegou aqui um dia e ofereceu 18 milhões. Não. Houve ofertas pelo Tapsoba de um milhão, dez, 12, 13, 15, 16... até se fixar essa operação final de 18 milhões, com 15 por cento de mais-valias futuras. Houve uma boa assessoria da empresa Gestifute, que teve a respetiva comissão. O Vitória só foi representado pela Gestifute, o jogador é que era representado pela D20. Essa investigação do Ministério Público partiu de uma denúncia anónima e não tivemos mais notícias dela. Os documentos que foram recolhidos já estavam do lado da Autoridade Tributária porque nós já tínhamos solicitado a devolução do IVA e, por isso já tínhamos entregue toda a documentação relativa a essa operação".