Com a vitória sobre o U. Santarém, a equipa subiu à liderança, mas o experiente Vítor Bruno não quer euforia
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Aos 34 anos, Vítor Bruno aceitou o convite da histórica Académica depois de uma surpreendente saída do Alverca, clube que ajudou a devolver às provas profissionais. Chegou a uma Briosa em crise de resultados, que só tinha uma vitória e ganhou estabilidade com a entrada de António Barbosa. Em seis jogos, o treinador somou cinco vitórias e um empate, que empurraram a equipa para a liderança partilhada da Série B da Liga 3, com o Atlético.
Começou a época no Alverca. Por que motivo aceitou baixar de escalão?
-Foi uma decisão do Alverca. Estava a jogar e fui apanhado de surpresa, em setembro, por o clube não contar comigo, mas faz parte, respeito. O importante foi ter levado o Alverca para as competições profissionais. Depois apareceram clubes da Liga 3 e, felizmente, um deles foi a Académica. Não me arrependo da escolha! É um histórico, é um prazer e um orgulho imenso fazer parte deste clube.
Chegou numa fase de instabilidade, só com uma vitória e com o Pedro Machado de saída. Temeu ter feito um má opção?
-Não senti que fosse uma má escolha. Obviamente que o início não foi fácil, o clube estava a atravessar uma fase de instabilidade de resultados. Depois chegaram jogadores que vieram dar outra capacidade. O Leandro, o Amadou Ba-Sy e eu. Era um plantel todo novo, houve jogadores importantes que saíram, como o André Amaro, o Stich, o Juan Perea, e é normal que as equipas passem por um período menos favorável, mas temos de ter confiança que as coisas se vão inverter e mudar.
Como inverteram essa espiral negativa?
-Todos sentimos que a equipa tinha qualidade e que era uma questão de conseguir a primeira vitória e recuperar os níveis de confiança, que não estavam no seu melhor. Temos miúdos que estão a aparecer e têm potencial, outros mais experiência que podem aportar qualidade. O plantel foi bem formado. Agora é fácil dizê-lo, porque estamos numa lógica de bons resultados, mas sempre achei que a equipa tinha qualidade e era importante fechar o grupo porque tínhamos muito campeonato para jogar. Na época passada, no Alverca, também tivemos uma fase intermitente e, no entanto, fomos campeões.
Com a última vitória a Académica saltou para a liderança, acreditavam que era possível?
-Já na semana passada podíamos ter chegado à liderança se tivéssemos ganho ao Oliveira do Hospital [2-2]. É uma questão de continuar, focarmo-nos no que há a fazer. Felizmente, agora ganhámos e conseguimos chegar aos 23 pontos, mas nada está conquistado. Estar em primeiro ou segundo nada quer dizer porque ainda há muitas batalhas. O importante é caminharmos e ficarmos no top quatro, que é o primeiro grande objetivo de todos, será sinal que conseguimos a permanência. Depois sim, pensaremos na fase final.
O que mudou com António Barbosa, que em seis jogos tem cinco vitórias?
-É uma pessoa muito tranquila, que desde o início passou uma mensagem de confiança e crença. Obviamente que há diferenças [relativamente a Pedro Machado], todos somos diferentes, mas a principal diferença que os jogadores sentiram foi uma abordagem muito serena de que iríamos inverter aquele ciclo. O importante era conseguir a primeira vitória e caminhar a partir daí.
Foi campeão da Liga 3 pelo Alverca. Há condições para repetir na Académica?
-Vou passo a passo, porque a Liga 3 é muito instável. O primeiro grande objetivo é o acesso à fase final. É lógico que qualquer jogador sonha logo em subir de divisão, ser campeão, mas temos de estar bem cientes da responsabilidade e dimensão disso. Temos de ser exigentes e ambiciosos, mas também equilibrados. Só se é campeão em maio, não em dezembro. O foco tem de ser o próximo jogo, com o Sporting B.
Que sonhos ainda tem por concretizar?
-Gostava de ser bicampeão da Liga 3 e continuar a desfrutar, porque com 34 anos não posso pedir muito nem ter muitos mais sonhos. Já consegui concretizar alguns que tinha no início de carreira e tenho a noção que se olha muito para o cartão de cidadão. Gostava de continuar a desfrutar deste símbolo ao peito porque é um prazer jogar num clube e num estádio com tanta envolvência e história.
Os alas mais difíceis, Feirense no coração e um título na Roménia
Natural de Vila do Conde, Vítor Bruno passou pela formação do FC Porto e estreou-se na I Liga com a camisola do Penafiel. No principal escalão, o lateral-esquerdo, de 34 anos, representou também o Boavista e o Feirense, sendo este último o emblema que mais o marcou “por toda a ligação que se criou, fruto de duas passagens distintas”. Jogou também na Roménia, onde ao serviço do Cluj conquistou a Taça do país. Com uma larga carreira também na II Liga, Vítor apontou quais os adversários que lhe deram mais dores de cabeça. “Os alas mais difíceis foram Corona, Quaresma, Pardo e Raphinha. No fundo, quando se joga num patamar superior, é preciso ter preparação e atenção redobradas. Qualquer erro paga-se caro e há mais possibilidades de sofrer golos”, explicou.