Proibição de assistência dispersa grupos organizados de adeptos pelas ruas, onde a autoridade tem todo um novo desafio pela frente. Vigilância e controlo serão apertados e não será só em dia de jogo...
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O segundo episódio de violência protagonizado por claques em Lisboa, em apenas oito dias, durante a contagem decrescente para o reinício do campeonato, faz soar alarmes na sociedade e a Polícia de Segurança Pública (PSP) está a traçar um plano novo de vigilância e controlo fora dos estádios, onde os adeptos - principalmente os membros afetos a claques - vão concentrar-se face à proibição de assistência nos recintos.
"Agora temos outro problema, antigamente só usava cara tapada quem queria, agora andamos todos de cara tapada, todos têm máscara. Antes achava-se estranho um grupo de cara tapada, agora não"
Depois de anteontem um adepto do Sporting pertencente à Juventude Leonina ter sido atacado e esfaqueado por entre 30 a 40 indivíduos identificados pela PSP, que detalhou a ocorrência em comunicado, como membros da claque do Benfica No Name Boys, a necessidade de apertar o cerco passou a obrigação. O JOGO sabe que as forças de autoridade estão a repensar a sua estratégia de controlo e explica com que linhas se vai desenhar.
Segundo informações recolhidas pelo nosso jornal, a preocupação primeira consistirá em mobilizar esforços por forma a vigiar locais estratégicos de concentração, o que não vai suceder somente em dias de jogo. Quer nas imediações de estádios quer noutras zonas definidas pelas autoridades, o controlo promete ser apertado por forma a minimizar a possibilidade de aglomeração e, sobretudo, encontro de grupos organizados de apoio rivais. O plano incidirá primeiramente na capital - onde se têm registado as situações mais graves e num curto espaço de tempo -, mas deverá estender-se a mais cidades do país, em consonância com autoridades municipais. No fundo, trata-se de toda uma nova realidade de acompanhamento e manutenção da ordem a que as forças policiais não estão habituadas.
"Terá de haver alterações, deixamos de ter concentração dentro de uma caixa de segurança e num recinto restrito, o estádio, e passamos a ter pequenos grupos e movimentos fora do perímetro do jogo"
"Vamo-nos reinventar no policiamento destes eventos", revelou a O JOGO Ana Carvalho, subcomissária da PSP. Nem esta frequência de atos violentos é normal, nem tão pouco será a realização de jogos à porta fechada, num cenário que obriga a PSP a adotar uma nova estratégia. "Terá de haver alterações, deixamos de ter concentração dentro de uma caixa de segurança e num recinto restrito, o estádio, e passamos a ter pequenos grupos e movimentos fora do perímetro do jogo. É mais fácil para nós ter as pessoas dentro do estádio - consigo controlar quem lá está dentro -, do que ter as pessoas dispersas, num café, perto de casa ou do estádio", admitiu Ana Carvalho, com a garantia de que "haverá monitorização das casas dos grupos organizados de adeptos, nos locais habituais de encontro antes de um grande jogo". Por outro lado, mesmo que registe um "decréscimo", também não deixará de haver policiamento nos estádios, uma vez que "os adeptos podem tentar aproximar-se para ver as equipas chegar", assim como noutros locais para onde estas se desloquem e se concentrem antes das partidas.
Tal como já foi noticiado, a Liga e a PSP estão a trabalhar esta matéria em conjunto, num "planeamento que ainda não está fechado". "O policiamento é gratificado, são os clubes e Liga que pagam. Se tiver de assegurar o serviço em horário de ordem pública não posso tirar polícias da rua", vincou a subcomissária, que lembra que o "paradigma de trabalho é diferente". "Antes havia um ajuntamento de 30 pessoas e desde que houvesse ordem não havia problema, agora isso não pode suceder. A forma de trabalhar vai ter reajustes", explicou.
Fenómeno merece outro olhar
Sobre as agressões de terça-feira, Ana Carvalho disse que ainda não houve identificações, e enquadrou os recentes episódios de violência. "Em seis meses tivemos dois relatos e não temos campeonato a decorrer. É um fenómeno que carece que olhemos de forma diferente. Temos de tentar perceber por que razão não existiam estes comportamentos e agora, com o aproximar do retomar do campeonato, e em menos de duas semanas, houve dois episódios. Não o tornamos já um problema, mas começamos a olhar para uma coisa que não era normal e começa a acontecer", analisou a subcomissária da PSP.
"Temos de tentar perceber por que razão não existiam antes estes comportamentos e agora, em menos de duas semanas, houve dois episódios"
Ter grupos de adeptos dispersos não é o único desafio com que a PSP tem de contar. "Agora temos outro problema, antigamente só usava cara tapada quem queria, agora andamos todos de cara tapada, todos têm máscara. Antes achava-se estranho um grupo de cara tapada, agora não", explicou a subcomissária Ana Carvalho, ainda sem dados novos sobre as agressões a adeptos do Sporting, no dia 18, no Lumiar. Nessa situação, os envolvidos "usavam máscaras normais". "Até a PSP tem de se adaptar às novas realidades e circunstâncias sociais", admitiu Ana Carvalho.