Villas-Boas aborda situação financeira e a internacionalização da marca FC Porto
André Villas-Boas e Michele Montesi, presidente e Chief Strategy Officer do FC Porto, respetivamente, estiveram à conversa num evento durante o Mundial de Clubes, em junho, que foi agora disponibilizada pela Columbia Business School
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Clube de sócios e plano de expansão: “Como somos um clube de sócios, acabamos sempre por ir à 'carteira das pessoas'. Somos um clube 'político' e há resistência dos sócios quando aumentas a quota que têm de pagar mensalmente. É um desafio comercial, em que temos de medir o impacto político das decisões, como aumentar, por exemplo, o preço dos lugares anuais. No fim de contas, eles são os teus clientes e tens de aumentar a receita, mas há essa resistência. A outra parte é a internacionalização da marca, tocar nos emigrantes portugueses que, por exemplo, estão em Nova Iorque e ter a certeza de que encurtamos a distância que existe, que asseguramos que continuam a ser portistas 75% dos nossos sócios estão na região do Porto e temos de conseguir mais sócios pelo Mundo fora. É a estratégia que queremos implementar. O Michele [Montesi] desenhou um plano estratégico para cinco anos que nos permita continuar a crescer à escala mundial.”
Situação financeira do FC Porto: “Foi um período muito difícil [quando chegámos]. Quando tomámos posse, havia oito mil euros em todas as contas do FC Porto. Tínhamos duas semanas para pagar 12 milhões de euros e conseguimos amealhar 15 M€ através de um empréstimo. As pessoas emprestaram dinheiro num empréstimo a seis meses, com taxa de juro de 5% até ao final do ano. Salvaram as nossas operações e permitiram-nos investir um pouco na equipa. Depois, via JP Morgan, concluímos a operação Dragon Notes e angariámos 115 M€, baseado nas receitas do estádio. Criámos a Porto Stadco, que basicamente engloba todo o valor comercial do clube e ativos do estádio. Angariámos 115 M€ aí para os próximos 25 anos a 5%. E vendemos 30% dessa empresa por 60 M€. Em 12 meses, angariámos 200 M€ em transferências de jogadores, portanto desinvestimos na equipa – e por isso terminámos em terceiro lugar -, mas salvámos o clube da bancarrota total. Demos satisfações a estes senhores [responsáveis pelo controlo financeiro presentes na plateia] e demos razões para acreditarem na credibilidade da nossa equipa. O FC Porto estava sob ameaça de suspensão das provas da UEFA, porque não conseguiu atingir o breakeven e teve resultados negativos ao longo dos anos e estamos a um ano de sair dessa ameaça de suspensão. Estabilizámos as operações. O que temos de fazer? Investirmos em novas infraestruturas para continuarmos a desenvolver jovens jogadores, que, no fim de contas, será sempre o nosso mercado principal. Há 90 M€ em dívida a agentes, via comissões, que temos de saldar. Encontrámos estabilidade e vamos continuar a saldar esta dívida ao longo do tempo, de forma a tentar trazê-la para 250 M€, que me parece um valor aceitável, que operacionalmente poderá dar-nos condições de operar.”