João Pereira em 30 anos e orienta o Amora, líder da Série B, que no último fim de semana acabou com a invencibilidade do Caldas. Natural de Coimbra, o técnico passou pela formação do FC Porto e do Braga, onde trabalhou com nomes como Vitinha, Fábio Vieira e Rodrigo Gomes, que, na altura, já eram "diferentes".
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João Pereira é, desde o início de temporada, o treinador de um Amora que está a surpreender na Série B da Liga 3. Se a época não começou bem, com duas derrotas seguidas, desde então o emblema da margem sul só empatou mais uma vez e ganhou as restantes partidas. Conclusão: lidera a prova, a par de Belenenses e Caldas, com 16 pontos, e acabou com a invencibilidade dos caldenses no fim de semana passado.
Estar em primeiro numa série constituída por vários históricos supera as expectativas?
-Não se trata de superar expectativas. Temos os nossos objetivos definidos, que é quase um cliché, mas que é jogo a jogo e crescer jornada após jornada. Eu disse, após a segunda jornada, que isto não é como começa, mas como acaba, e isto está longe de terminar. Primeiro lugar? Agora vem a tarefa mais difícil, que é conseguirmos manter-nos nos quatro primeiros lugares. Estamos na série mais competitiva da Liga 3 e tudo pode mudar rapidamente.
O que lhe pediram, quando o contactaram?
-Pediram-me fundamentalmente que a equipa fosse competitiva, numa ligação de baixo para cima, que existe. O meu adjunto é coordenador técnico da formação, já estreámos dois jogadores da formação e está em vista a estreia de um terceiro. O que estamos a fazer não é uma obrigação nem um favor a ninguém. Esta aposta na formação colide com algo que já vivi e que faz mais sentido nestes projetos da Liga 3, pois é algo que pode ser uma fonte de rendimento para o clube.
O convite para se iniciar como treinador principal de uma equipa sénior era, de alguma fora, expectável?
-Estava ligado ao Amora na época passada, tive alguns convites para o estrangeiro mas não era minha intenção trabalhar fora de Portugal. Quem acaba por me convencer é o presidente do clube, José Maria Galego, com quem tenho uma grande identificação de ideias. Pensa fora da caixa, é uma pessoa altamente correta e gosta de inovar, empreender. Identifico-me com isso.
Não perdem desde a segunda jornada, é difícil bater o Amora nesta altura?
-Qualquer equipa é difícil de bater e não estou a dar música. Quem não pensar jogo a jogo estará com um mau princípio para encarar cada uma das semanas. O campeonato está a ter muitas interrupções e, no nosso caso, acabamos por beneficiar disso devido à quantidade de lesões. Estamos a tentar criar a imagem que se o Amora não ganha em casa, então ninguém ganha; fora de portas queremos que as equipas nos respeitem. Com vitórias, tudo é mais fácil.
O que mudou depois de duas derrotas a abrir o campeonato?
-Jogámos com o Alverca, que tem dos melhores plantéis e perdemos o jogo no último minuto. Com a Académica foi um detalhe no último minuto, um erro individual, mas não conseguimos inverter o resultado e, a partir daí, foram detalhes, algumas vitórias sofridas, outras mais confortáveis. Nenhum jogador questionou o processo depois da segunda jornada.
Voltar ao campo da Medideira, que esteve em obras, torna-vos mais fortes?
-Acrescentará bastante à competitividade da equipa, à imagem do clube e será uma motivação extra jogar na Medideira. Andarmos com a casa às costas em Rio Maior e no Carla Sacramento não nos deixa 100 por cento confortáveis; hoje sentimo-nos em casa.
Têm um grupo com muita juventude. Algum destes nomes vai surgir nos campeonatos profissionais num futuro próximo?
-Vejo coisas nestes jogadores que outros que treinei, como Romário Baró, Vitinha, Fábio Vieira, André Amaro e Rodrigo Gomes, também tinham. Estes estão um pouco atrasados em relação a esses jogadores, mas o Diogo Ferreira, o Zé Mário, o Paulinho e o Guilherme Magalhães estão num bom caminho. Espero que vivam o presente sem estarem obcecados com o futuro.
Como gere o eventual excesso de confiança num momento como este?
-É simplesmente uma fase e tudo pode mudar muito rapidamente. O que estamos a fazer é insuficiente e não nos devemos contentar com o que está a acontecer. Hoje somos os maiores e amanhã deixamos de o ser. O mais difícil é manter o registo.
Treinou Vitinha, Fábio Vieira, João Mário, no fundo parte da geração campeã da Youth League. Na altura, quem o impressionava?
-O que mais me impressionava era o Romário Baró, mas o Vitinha e o Fábio Vieira já tinham bons indicadores, embora sem a regularidade em termos de rendimento, mas tinham ações diferentes dos demais. O Baró tinha mais sucesso, pela capacidade física, mas também havia a irreverência do Afonso Sousa e do João Mário.
Ainda fala com eles?
-Pontualmente, também falo com o André Amaro [treinou-o na Académica], que vai ser um central de Seleção Nacional, bem como o Rodrigo Gomes [Braga].
Aceita que digam que também o treinador está a promover-se no Amora?
-O treinador está a fazer o trabalho dele, a fazer o que lhe pedem, e está feliz. Tenho de viver o presente e não pensar muito no futuro, porque tudo muda rapidamente na sociedade, especialmente no futebol.