A despedida de Samu é difícil, após uma descida que chamuscou uma aventura de cinco anos pontuada por êxitos vários e um destino maravilhoso chamado I Liga
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Figura incontornável do Vizela, Samu deixa o nome na história do clube pelas subidas, por uma permanência inédita na I Liga e pelo facto de ser, agora, o líder de jogos no escalão maior. A despedida foi particularmente custosa, pela descida, mas ficam memórias únicas em 165 jogos pelos minhotos, 95 deles em três épocas seguidas no convívio dos grandes.
A grande história em Vizela não devia acabar assim...
-O desfecho não foi o pretendido, mas ficam as melhores recordações de vários anos em Vizela. Cheguei e encontrei o nível de ambição e profissionalismo de que gosto, estivemos sempre alinhados. Correu tudo bem e vieram as subidas como momentos mais marcantes. Mas o que fica ainda mais é a grande relação que consegui criar com toda a gente e, sobretudo, com os adeptos.
Como classifica os degraus que subiu desde que chegou ao Vizela, ainda estava o clube no CdP?
-A aventura começa no Campeonato de Portugal (CdP)e cedo as coisas correram bem, com duas subidas seguidas. Depois, houve uma permanência histórica na I Liga. Foi um desafio interessante que me permitiu a afirmação no principal escalão português. Surgiram algumas coisas nos mercados, mas nunca suficientes para me fazer mudar de ares.
Como capitão, que visão crítica tem da época e razões que fizeram fracassar os objetivos?
-Demos o máximo. Como peça influente, tentei passar uma mensagem e palavras no balneário; tentei dar o exemplo como líder, do que devia acontecer dentro e fora do campo. A sorte não esteve do nosso lado em alguns jogos, ficámos uma longa série sem conhecer o sabor da vitória. Isso deixou-nos numa situação complicada, e sabemos como é difícil sair do fundo quando lá se cai...
Que impressão ficou de quem o comandou, Villar e Rúben de la Barrera?
-Faltou a pontinha de sorte, basta ver que nos últimos jogos conseguimos marcar nas primeiras oportunidades. Nas alturas da época em que mais precisávamos disso o golo não chegou. Foram-se perdendo pontos, a situação foi ficando mais difícil e, por muito que déssemos o nosso melhor, as coisas não mudavam. Tenho uma imagem positiva dos dois treinadores, a relação foi normal. Fomos vítimas de circunstâncias atípicas.
Para quem está de fora pareceram existir alguns sinais de que a harmonia interna se foi deteriorando e se quebrou algum ânimo a partir da saída de Álvaro Pacheco?
-Não diria isso, existiram diferenças, pois a ligação que tínhamos com o Álvaro Pacheco e o anterior presidente da SAD era muito forte, estavam connosco há algum tempo. Foi uma mudança visível e há uma ligação que demora a construir ,mas entendo que o ruído foi mais fruto da intranquilidade e dos resultados. Pessoalmente, nunca me senti desrespeitado pelos adeptos, levo isso comigo: o grande sentimento que nos uniu.
Com o fervor que sentiam das bancadas, dos adeptos, esta despromoção dói mais ainda, pensando neles?
-Claro que compreendemos que o desfecho dói muito a todos os verdadeiros vizelenses. Vamos seguir diferentes caminhos, mas o clube estará sempre no meu coração, nada vai mudar isso. Muitas vezes parecia que jogávamos em casa fora de portas. Ficou provado que é um clube de primeira, com adeptos de primeira.
Prazer maior frente a Moutinho
Samu não esquece um grande golo ao Benfica na Taça de Portugal, que elege como “o melhor” pelo Vizela, ainda no CdP. Já sobre um jogador rival predileto com quem tenha medido forças, a resposta sai rápida. “Foi o João Moutinho, largos anos a referência, desde pequeno. Foi um prazer jogar contra ele, por tudo o que significou para mim e por poder perceber a grande qualidade dele tão perto”, notou. “ Sobre os rivais, posso dizer, com orgulho, que sempre fizemos grandes jogos em nossa casa contra os grandes. Olhava para os desafios sem diferenças”.
“Teria todo o gosto em voltar a estar com ele”
Com o técnico que marcou a sua carreira já a trabalhar no Vasco da Gama, o médio analisa o percurso do treinador no Vitória, até pela proximidade que mantiveram nos últimos meses. “Teve um impacto muito positivo e uma simbiose perfeita em Guimarães, algo muito semelhante a Vizela, numa diferente escala . Não sabemos o dia de amanhã mas teria todo o prazer em voltar a trabalhar com ele”, disse o médio.
Momento de dar o salto
Aos 28 anos, Samu tem perspetivas sorridentes para a carreira, olhando para diversos pretendentes e condições acenadas. “Pretendo dar um passo em frente em termos desportivos, tenho propostas para continuar em Portugal e para rumar ao estrangeiro. Quero atingir outro patamar, estou preparado”, confessa. “É uma fase de analisar tudo, o ideal seria conciliar o interesse desportivo com o financeiro. Estou no melhor momento da carreira, a parte desportiva tem peso e confio em mim”, ilustrou, balançando expectativas. “A ideia passa por lutar pela Europa em Portugal ou jogar por títulos lá fora. Qualquer jogador que sonha com um salto desportivo, mas sempre realista, pensa em atingir as provas europeias”, declarou, admitindo que Espanha tem o campeonato “de eleição”, mas não será prioridade em detrimento de outros.
O treinador que soube valorizá-lo
Samu não tem dúvidas de que foi Álvaro Pacheco (na foto) quem retirou o melhor que tinha para dar e mais convenientemente soube explorar o seu jogo e as suas capacidades. “Deu-me ferramentas que eu não tinha e fez com que fosse consistente ao longo dos anos. Não foi muito de palavras, fez-me dar passos em frente dentro do jogo, que me tornaram mais completo. Foi uma evolução positiva em que o momento mais marcante passou pelo 2.º lugar na II Liga e uma sequência de imensos jogos sem perdermos. Foi a fase em que me senti mais valorizado e andava mais alegre”, recorda o médio.