Terra de tradição romana, de águas quentes termais, e de uma das sete maravilhas doces de Portugal, Vizela é igualmente terra de futebol, que nesta semana capta a atenção e conversas de todos
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Pela primeira vez o relvado do estádio do Vizela vai receber um grande. A festa da prova rainha guia o Benfica à cidade e a azáfama já se sente. No estádio, sobranceiro à cidade, isso vê-se no número de jornalistas presentes e no "voar" de bilhetes (por esta altura restam 1000 dos 6000 ingressos).
"Não podia estar mais orgulhoso de defrontar um grande, ainda por cima em nossa casa. Há uma excitação clara na cidade, a própria Câmara também tem ajudado a proporcionar a festa", conta Diogo Godinho, presidente da SAD do Vizela, líder da Série A do Campeonato de Portugal. Para a festa já começaram a chegar os cachecóis, com o nome das duas equipas.
Godinho "acredita" que o adversário vai fazer "algumas poupanças", mas isso não significa desvalorizar o Vizela. "Creio que o Benfica já sabe da nossa qualidade, apesar de um jogador deles pagar vários do Vizela", aponta.
Equipa da Série A do Campeonato de Portugal recebe o Benfica no sábado, às 20h45 (RTP1). Clube e cidade preparam-se para a festa da Taça
"Jogar em casa é uma motivação extra e com o nosso público estamos sempre mais perto de ter resultados positivos. Vencer o Benfica era muito bom. Todos vamos ter de ser um e no fim tentar fazer o impossível", deseja o avançado Kiko Bondoso.
Na cidade a animação não é menor. Na Praça da República, onde a Bica Quente lembra que ali estão enterrados os vestígios do balneário termal romano, há quem veja no futebol o mesmo benefício que nas maravilhas das águas. "Estas águas são boas para tudo, são as melhores. Isto está sempre cheio de espanhóis! Mas o futebol também trouxe muita gente e no sábado será igual", prevê Francisco Félix, ao balcão da sua drogaria, embora mostre desagrado pelo facto de o Vizela andar "há dois anos a tentar subir e a morrer na praia". "A subida de divisão é o objetivo e foi com desagrado que não o conseguimos nestes últimos dois anos", concorda Diogo Godinho, não se desviando contudo desse objetivo também esta temporada.
Na praça central, há uma loja oficial do clube e as varandas ostentam o orgulho no concelho com bandeiras, numa memória ainda viva das lutas pela independência autárquica, recuperada em 1998. Tudo à volta evidencia o apego das gentes locais à terra e o seu brio identitário. Ainda assim, não muito afastado do centro, há uma Casa do Benfica, inaugurada em 2005. Há igualmente uma Casa do FC Porto, mas de boca em boca o destaque é para o Vizela. "Eu quero é saber do meu Vizela", lembra Francisco Félix.
"Dá na tv", ouve-se numa mesa da Adega Avelino. "Sim, mas a bancada vai estar cheia", replicam, quando entra na sala um jogador do Vizela para almoçar. Na divisão ao lado, o quadro com o emblema do Vizela rivaliza com as fotografias e os recortes de notícias de jornais. Quando a televisão da sala faz ecoar notícias da Taça de Portugal os talheres param e o assunto volta ao centro da mesa.
À boleia do futebol, até o bolinhol, uma das sete maravilhas doces de Portugal, espera vender em maior quantidade.
Treinador espera estar no banco
O último jogo do campeonato (0-0 com o S. Martinho) trouxe um ónus ingrato para o treinador Álvaro Pacheco, que foi expulso, garante, sem ter feito nada para tal. "Não tive nada a ver com a confusão, mas como as novas leis dizem que quando o árbitro não consegue identificar as pessoas é o treinador que paga, fui eu expulso. Espero que o Conselho de Disciplina tenha o bom senso de perceber e não me tirar deste jogo, um jogo de Taça em que toda a gente gosta de estar", apela o treinador que chegou nesta temporada a Vizela.
Presidente conta com a "amizade"
É habitual em jogos de Taça de Portugal, que as equipas apelidadas de "grandes" doem a sua parte da receita de bilheteira ao clube tido como "mais pequeno". Para o Vizela-Benfica ainda não há essa indicação, mas Diogo Godinho, líder da SAD, conta com a generosidade dos encarnados.
"Vai ser um grande jogo dentro e fora das quatro linhas. Espero que o Benfica seja nosso amigo (na cedência da receita). É um jogo com muitos custos, mas acredito que dê algum lucro. A grande diferença é a nível de segurança, que obviamente se justifica", explica o dirigente.
Godinho aponta a "obrigação do Benfica em ganhar, mas entramos sempre para ganhar e este jogo não será exceção", avisa o líder, que trocava, sem hesitação, ser tomba-gigante na Taça para subir de divisão, o grande objetivo da sua equipa de trabalho.
Experiência que pede prémio
Embora a militar no campeonato de Portugal, este é um grupo com muita experiência. No plantel 65 por cento (15 jogadores) já passaram por provas profissionais. É o caso de Ericson (na foto), que passou pela I e II Liga e sabe o que significa um jogo com o Benfica. "Há muito talento aqui e é uma oportunidade de se mostrarem. Estes jogos são para desfrutar ao máximo. Temos de fazer o que treinamos", aponta o trinco de 31 anos. O presidente não estipulou prémio, mas Ericson garante que "dava jeito", e acredita que "pode acontecer". "Espero bem que sim!".