O quinteto do Benfica que joga em terrenos mais interiores não pôde construir nem se aguentou nos duelos. O empate em Guimarães (0-0) fez o Benfica perder os primeiros pontos da época, numa exibição muito (e bem) condicionada pela equipa de Moreno, que "apagou" os pontos fortes encarnados.
Corpo do artigo
Ao 14.º jogo sob a bandeira do comandante Roger Schmidt o Benfica foi travado, com um nulo em Guimarães frente a um Vitória que conseguiu puxar o travão de uma equipa que, até sábado à noite, só ganhara e que também vinha habituada a dominar e marcar muitos golos.
Os méritos da equipa liderada por Moreno são tão elevados quanto os deméritos de um conjunto encarnado que protagonizou, talvez, a mais pálida exibição com o técnico alemão, numa noite onde os minhotos fecharam com engenho o coração das águias, o corredor central, e deitaram fora a chave.
Uma estratégia que, como analisa aqui O JOGO, "secou" o normal caudal ofensivo do Benfica ao minguar o rendimento das peças que normalmente controlam o jogo interior dos lisboetas: Florentino, Enzo Fernández, David Neres, João Mário e Rafa.
Os números confirmam aquilo que, intuitivamente, já parecia sobressair após os 90 minutos do Vitória de Guimarães-Benfica: do meio-campo para a frente e sem exceção todos os pilares das águias tremeram e afundaram-se em relação ao seu rendimento habitual.
Ao nível do passe, seja em termos globais, como para o terço final do campo e na vertente longa, todos os atletas que mais constroem ou mais desequilibram nas zonas de decisão, estiveram em sub-rendimento, muito devido ao trabalho estratégico aplicado pelo Vitória. No caso de Rafa, e nos passes para o último terço e passes longos, a eficácia de cem por cento tem uma explicação: o avançado fez apenas um passe e acertado em cada vertente, o que também comprova ter estado pouco ativo nestas ações.
A verdade é que sem conseguir atingir um patamar bom de construção (em termos coletivos a eficácia de passe de toda a equipa foi de 83,7 % quando a média da época com Schmidt é de 88 %) toda a capacidade atacante do Benfica se ressentiu, o que ajuda a entender melhor os escassos seis remates tentados pelos encarnados em Guimarães (o pior registo em 2022/23).
Desses, apenas um seguiu na direção das redes defendidas por Bruno Varela, outro pior registo para a equipa de Schmidt que tinha como desempenho mais fraco cinco tiros na direção da baliza do Boavista. Em passes para a frente houve uma queda dos 80,3 % para 67,1 %, o pior da temporada.
Voltando aos desempenhos individuais mas no plano defensivo, também muita coisa correu mal. Nos duelos, o quinteto que pisa as áreas do corredor central das águias, teve quase todo um sinal menos, em particular Enzo Fernández (eficácia de 30 % quando a sua média é 57 %), João Mário (43 % contra 60,7 %) e Rafa (25 % para 56,1 %). A exceção aqui foi David Neres que, apesar de apagado no ataque, nos duelos defensivos até foi mais eficaz do que o habitual.
Ainda no capítulo defensivo, saliente-se, houve uma quebra nas interceções e nas recuperações.
Seis peças com poucos fios de ligação
Todos os jogadores do Benfica que começaram de início frente ao V. Guimarães nas seis posições à frente da defesa revelaram menor capacidade de se "ligarem" e fazerem frente ao Vitória. Também aí, há um dado indicador de problemas causados pela estratégia de pressão e posicionamentos dos minhotos no plano de Roger Schmidt.
Florentino, Enzo Fernández, David Neres, João Mário, Rafa e Gonçalo Ramos nunca receberam tão poucos passes de colegas em 2022/23. O caso mais gritante é o do camisola 88, que recebeu apenas cinco passes nos 70 minutos que jogou, quando em média recebe mais de 12. Já Rafa recebeu apenas 11 (a sua média é de 27) e David Neres 20 (média de 38,2). O que mostra bem como os maiores decisores se viram bem fechados na "caixa" vimaranense. Quem mais passes recebeu em Guimarães foi Enzo, 62, mas também ficou abaixo da média (75,4 por partida).