Uma gaita de foles no regresso do Belenenses: "Passei a tocar religiosamente o hino..."
REPORTAGEM >> Escalada do Belenenses suportada numa máxima nas Salésias, um ditado popular renascido na gaita de Vasco Alves
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O Belenenses de Matateu, de Vicente... de Jaime ou Mladenov, de Zé António ou Filgueira, o campeão de 1945/46, o poderoso embaixador das Salésias ressurge com toda a alma, uma fúria azul de apego a valores, distante de crises de identidade ou alienações patrimoniais, protegendo-se de ganâncias estruturais ou modernices emprestadas pelas maquinais subserviências ao sistema dominante.
Um Belenenses de profunda coragem e maior sucesso, agrafando subidas, degrau a degrau trepando com os seus recursos e valentia a alta montanha do futebol luso, dos confins da distrital, ao sabor do reconhecimento nacional, reentrando na ansiada esfera profissional. De prego a fundo, cinco subidas em série! Falamos de sonhos renascidos e uma lição de independência da ditadura das SAD, de querer e ser fiel às origens e resgatar um campeão perdido e despido de brilho.
Contam subidas e estimulam-se sonhos garridos, enumeram-se heróis, arquitetos da ascensão mais firme e soberana, decididamente apaixonante. Um Belenenses de Liga 2 é um candidato a muito mais, envolvido por um clamor e por uma juventude reconquistada pela guerra de valores. São sons da frente que acompanham esta aura triunfal, havendo quem tenha criado uma nova paisagem sonora para elevar a confiança e afinar a sintonia dos adeptos com a equipa. A mítica deixa dos 15 minutos à Belenenses ganhou renovada aragem neste trajeto, havendo um responsável principal, encontrando pelo O JOGO.
Vasco Alves, de 37 anos, aprovou as resoluções do clube no divórcio da SAD e decidiu ser mais do que um espetador a partir da 3º escalão da AF Lisboa. Muniu-se de uma gaita de foles, recriou o hino do clube e, abraçado pela Fúria Azul, viu a música e o seu ritmo contagiarem o Restelo. Alguém gritou..."são os novos 15 minutos à Belenenses!" E o peso da frase ficou... tocando na nostalgia os mais velhos, injetando nos mais novos uma adrenalina incontrolável. São vitórias enleantes e musicadas. É Vasco quem tem a pauta e uma multidão, por trás, canta devota. A sede de primeira está no ar.
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"Aconteceu! Trouxe a gaita, começo a tocar o hino, algo nervoso, e, rapidamente, todos à minha volta cantam e pedem mais. Dei umas quantas voltas, alguém filmou, o vídeo ganhou vida nas redes e alguém deu a ideia que eram os novos 15 minutos à Belenenses!", precisa. "Passei a tocar religiosamente o hino no último quarto de hora de cada jogo. A Fúria Azul coordenou, havia silêncio e cachecóis no ar", relata: "Os jogadores apercebiam-se e, como era algo que apelava à identidade do clube, foram-se agarrando com unhas e dentes. Assim se mostrava a força e raça do que é ser Belenenses. E foram surgindo outras músicas a reclamar da história que nos queriam roubar. Um amigo, o André Pires, também começou a vir e a tocar", nota, fazendo história.
"Os 15 minutos à Belenenses têm origem num jogo de 1928 contra o Benfica, nas Amoreiras. Perdíamos 4-2 até ao minuto 74 e conseguimos chegar ao empate a quatro aos 90. Dá-se ainda um penálti que o Pepe converte no 5-4. Vieram mais remontadas com muito barulho, ouviam-se panelas, apitos, sócios a gritar. Foi algo que ficou na memória coletiva, assim contou o meu avô, mas foi perdendo significado a partir dos anos 60", testemunha Vasco Alves, herdeiro de memórias e arquivos valiosos de toda a vibração que chegava ao mítico campo das Salésias. O seu bisavô foi atleta do clube em quadro modalidades e, mais tarde, árbitro de futebol.
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