Uma árbitra no futebol masculino: "Acho que consigo chegar à I Liga em cinco anos"
Com apenas 23 anos, Eduarda Silva vai dar o salto para os campeonatos masculinos, até à Liga Revelação. Foi chamada para as provas nacionais e ficou em quinto lugar
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Eduarda Silva, da pequena freguesia barcelense de Couto de Cambeses, destaca-se entre os mais promissores talentos nacionais. A árbitra mais nova nos exames de subida de graduação ficou em primeiro lugar no distrito de Braga. Em conversa com O JOGO, contou um pouco da trajetória e as razões que a levaram a apostar na arbitragem como percurso profissional. É licenciada em Gestão e ainda se mantém como personal trainer.
Ligada à arbitragem por causa do pai, a jovem queria fazer parte do espetáculo e decidiu seguir o mesmo caminho. Outras duas mulheres ficaram nos 30 primeiros lugares da tabela geral.
Em que categoria estava, para qual subiu e quais as diferenças entre elas?
-Estava na segunda divisão feminina. Aliás, fiz a minha carreira pelo feminino e, no passado, decidi começar a apostar nos escalões maiores do feminino. Ou seja, tive de começar a fazer as provas e os testes iguais aos dos homens. Consegui ser a primeira classificada no distrito de Braga, na categoria 7, que é a da I Liga feminina. Entretanto, como a Federação permite que se envie sempre uma rapariga para prestar as provas masculinas, fui indicada. Só fomos, neste ano, três mulheres a prestar as provas a nível nacional e fui a melhor classificada. No total, eram 47 árbitros e as mulheres ficaram nos 30 primeiros lugares. Fiquei na quinta posição da tabela geral, o que me permitiu subir aos nacionais masculinos, que engloba todas as camadas jovens, desde os iniciados até à Liga Revelação. Isto como árbitra principal porque, a partir do momento em que subimos ao Nacional, temos de optar pela carreia de assistentes ou de árbitros. Eu estive sempre como árbitra no feminino e mantive-me no masculino.
“Não tinha jeito para jogar e queria estar envolvida no espetáculo”
Porque optou por fazer os testes no grupo dos homens?
-Para conseguir fazer os jogos masculinos. Apesar de o futebol feminino estar em bastante crescimento, o futebol masculino acaba sempre por ser mais exigente em termos de qualidade e de intensidade. Escolhi o desafio mais aliciante.
Quando decidiu escolher este mundo da arbitragem?
-Aos 13 anos. Sempre gostei muito de futebol. Nunca tive jeito para jogar, o meu pai foi árbitro de futsal e acabei por estar ligada à arbitragem. Curiosamente, nunca joguei no clube da minha freguesia, Cambeses, mas um dia fui ver um jogo da Seleção, gostei daquele ambiente e lembrei-me: ‘olha, vou ser árbitra’. Não tinha jeito para jogar e queria estar envolvida no espetáculo de alguma forma.
“Pela qualidade e intensidade do futebol masculino, escolhi o desafio mais aliciante”
Que conselhos recebeu dos seus pais?
-Na altura não acreditavam muito que fosse efetivamente avançar com a ideia, porque nem sequer praticava desporto. Apenas na escola. Só quando comecei a ir para o campo de futebol do Cambeses correr e, depois, a frequentar o centro de treinos dos árbitros e a tirar os cursos, é que passaram a acreditar e apoiaram-me.
Referências: Pinheiro e Frappart
O melhor árbitro da temporada 2023/24 vive a escassos quilómetros de Eduarda Silva. “Uma excelente pessoa”, disse.
Será exagerado dizer-se que Barcelos é um viveiro de bons árbitros, mas não deixa de ser curioso o facto de Eduarda Silva ser uma das três árbitras à porta das competições profissionais de futebol - II e I Ligas - e ter nascido na terra do Galo. A mesma de João Pinheiro, eleito o Árbitro do Ano por três vezes, a última na temporada passada. Aliás, os dois vivem em freguesias próximas, a apenas cinco quilómetros de distância, e Eduarda não deixou de elogiar o juiz da AF Braga. “A níve internacional, a minha maior referência é a francesa Stéphanie Frappart, que conseguiu chegar à Liga dos Campeões masculina. Também o João Pinheiro, que é da minha associação e daqui perto. É um excelente árbitro, mas acima de tudo uma excelente pessoa”, contou Eduarda Silva.
Cinco anos para estar na I Liga
Apontando a colega e amiga da Associação de Futebol de Braga, Andreia Sousa, como a sua “grande referência na arbitragem portuguesa”, Eduarda Silva, que começou o seu percurso nestas andanças com apenas 13 anos, chegou, no entanto, rapidamente a outro nível, estando, agora, aos 23 anos, à porta do futebol profissional. Questionada se tem alguma meta que queira atingir na sua carreira, foi clara. “O meu objetivo é chegar à I Liga masculina e acho que consigo lá chegar, talvez dentro de uns cinco anos”, vincou.