"Um jogador nunca chegou a jogar no clube, mas foi indemnizado como tendo sido"
Pela primeira vez, duas listas disputam o Paços de Ferreira. Paulo Meneses lidera a Lista A. Corre por um segundo mandato com Carlos Barbosa, o antecessor, com quem esteve nos melhores anos do clube
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A primeira questão que este ato eleitoral suscita é o que provocou a cisão de uma equipa diretiva de sucesso e conduziu ao aparecimento inédito de duas listas. "O que levou a que não houvesse uma única lista conjunta é que na vida há uma coisa que não se vende: valores. Para que pudesse haver uma só lista, teria que vender valores", explica Paulo Meneses, advogado e o atual presidente do clube, em conversa com O JOGO. Em causa estão a "coerência e responsabilidade com que se deve estar à frente de um clube" e que não encontra no adversário. Ilustra a "falta de elementos e de critério na elaboração da lista" com a escolha de uma das filhas para o Conselho Fiscal (CF): "A minha preocupação foi encontrar quem desse garantias de rigor e isenção, não a mim, mas aos sócios. Não consigo perceber que essa não seja uma preocupação transversal ao candidato adversário. Coloca-se no CF, órgão fiscalizador da Direção, a filha do presidente da Direção. Um familiar direto no CF que terá de assinar, aprovando ou rejeitando, as contas da Direção apresentadas pelo candidato."
Outro "handicap" que aponta à candidatura de Carlos Barbosa tem a ver com a "relação de especial complexidade" que existirá com a empresa do filho, que representa jogadores "ao nível da formação". "Ele sabe que essa é uma preocupação dos sócios. Mas, porventura, não será a maior", e promete "alertá-los", na sessão de esclarecimento marcada para hoje (21 horas, Museu Municipal).
Com apenas meia dúzia de dias entre a entrega das listas e a eleição, que é já depois de amanhã, as redes sociais têm sido o canal privilegiado para a troca de argumentos. A Lista B acusa o atual executivo de falta de visão na gestão do futebol. Meneses não se revê no reparo e contra-ataca. "Porventura, Carlos Barbosa será a única pessoa crítica neste concelho relativamente à atuação desta Direção", comenta, e reivindica o mérito dos sucessos recentes da formação, a começar por Diogo Jota (transferido para o Atlético de Madrid), que diz "bandeira" do adversário. "Estranho imenso, porque fez o primeiro jogo oficial no Paços de Ferreira na era de Paulo Meneses", tal como "Andrezinho, Francisco, Sousa": "Não recordo assim tantos, na era de Carlos Barbosa". A mesma equipa conseguiu que "Paulo Fonseca regressasse ao clube", lembra.
"A propósito da tal visão de gestão", Paulo Meneses diz orgulhar-se de, na gestão dele, não ter sido paga "indemnização alguma" e garante que "poderia elencar uma dúzia de jogadores contratados por Carlos Barbosa com indemnizações pagas, e algumas delas chorudas", e cita alguns. "Samuel, Bruno di Paula, Amond, Lucas, Reinaldo Lobo, Sassá, Jaime Poulson, Duarte Duarte" estão nesse lote. "Se quiser um critério da escolha, falarei em jogadores como o Carlos Renan, Diarra, Michel Lugo, Santiago Silva, Angulo, Grégory, Degra, Buval, Carlão, Rui Miguel, jogadores que foram o que foram no Paços de Ferreira", diz, a propósito de apostas falhadas, e vai mais longe: "Há um jogador que nunca chegou a jogar no Paços de Ferreira, mas que foi indemnizado como tendo sido jogador do clube. Todos estes foram sendo indemnizados e saíram. Se isto é ter visão e critério, estamos conversados quanto à visão do candidato Carlos Barbosa."
Paulo Meneses entende que estes três anos à frente do clube, com a liderança da SDUQ - os candidatos estão de acordo quanto ao tipo de sociedade para o futebol profissional - entregue a Rui Seabra, mostraram que o Paços de Ferreira "pode beneficiar muito com uma gestão a dois", que é "compatível com pessoas que não procuram protagonismo". "Este clube é gerido por dois presidentes solidários nas decisões. Não quer dizer que estejam em sintonia, sempre, porque isso é que faz crescer o clube", que "tem hoje uma imagem de credibilidade e transparência" que pretende consolidar, depois deste ato eleitoral singular na história do Paços de Ferreira.