Fundado em 2019, o Guarda FC participa, pela primeira vez, no Campeonato de Portugal e não perde há quatro jogos. Interioridade dificulta, mas o treinador acredita na permanência
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Forte, Fria, Farta, Fiel e Formosa são os cinco “efes” que moldam a identidade da Guarda, num Portugal que outrora também era associado a fado, Fátima e... futebol, mas o desporto-rei não tem histórico de grande sucesso na cidade mais alta do país. No entanto, o Guarda FC, fundado em julho de 2019, está a tentar mudar esse paradigma. Após cinco épocas de existência, logrou chegar da II Distrital da Guarda ao Campeonato de Portugal O início foi atribulado, com duas vitórias e seis derrotas nas primeiras oito jornadas, mas desde então tem sido sempre a somar: três triunfos consecutivos e um empate, sem golos, no domingo passado, na receção ao líder Leça FC.
Ricardo Barão, o treinador, explica a melhoria com a estabilidade de uma equipa que começou a jogar com reforços a conta-gotas. “Começámos o pré-época tarde e fomos disputar a Supertaça da Beira Interior, frente ao Alcains, somente com 11 jogadores na ficha de jogo. Até à terceira/quarta jornada andávamos à procura de reforços, assentámos, e a partir daí as coisas começaram a correr como queríamos”, explica. O técnico adaptou-se à realidade de um clube onde “tudo é novo”. “Só existimos há cinco anos. É um clube moderno, mas onde é tudo novo: materiais, fisioterapia, etc... É uma boa aventura, mas as coisas estão a começar a estabilizar”, reforça.
Passar o Natal no oitavo lugar da Série B é uma prenda “completamente merecida” e os atuais 16 pontos eram uma meta pré-estabelecida. “Vamos fazer mais pontos na segunda volta do que na primeira. O nosso objetivo era a permanência, pensámos em acabar a primeira volta [falta uma jornada] com 15 ou 16 pontos, e somar um pouco mais na segunda volta. O objetivo está feito e agora é continuar a pontuar. Não podemos olhar para cima, pois temos de saber quem vem atrás e está perto de nós”, avisa, aludindo aos 16 pontos da equipa, que dista somente um ponto da linha de água.
Nos cinco “efes” que caracterizam a Guarda, o frio começa a apertar por esta altura do ano e por vezes condiciona o dia-a-dia. “Treinamos de manhã e muitas vezes temos de adiar o treino em meia ou uma hora porque temos o campo com gelo e temos de esperar a ver se o gelo derrete. Adaptamos o pré-treino para que os jogadores estejam mais bem preparados para o frio”, elucida sem, todavia, se lamentar. “Ao domingo, os adversários também sentem quando cá chegam e isso passa a ser uma arma para nós”, refere.
Natural de Lisboa, a carreira de Ricardo Barão estava a ser feita nos campeonatos da AF Lisboa até aparecer o Guarda FC. “Foi um passo em frente. Acreditei nas pessoas do clube, estamos a aproveitar jogadores de muita qualidade que andavam nos distritais, apesar de termos dos orçamentos mais baixos e também de termos o segundo plantel da série B com a média de idades mais baixa”, sublinha.
Pai passou-lhe o bichinho e não há chutão na tática
Ricardo Barão é filho de Francisco Barão, antigo jogador de clubes como Sporting, e que como treinador tem uma carreira com mais de 30 anos. “Nasci praticamente dentro do futebol, a gostar e a querer saber mais coisas. Quando nasci, o meu pai jogava no Sporting e quando comecei a jogar à bola ele já era treinador”, recorda. “Sempre queria saber o porquê da técnica, da tática e isso ajudou a que o bichinho aparecesse. Tive algumas lesões que me impossibilitaram de jogar mais tempo, entretanto, o meu filho nasceu e, quando a minha vida estabilizou, apostei na carreira de treinador”, explica. Para Ricardo, as semelhanças com o pai são muitas. “Nem eu, nem ele gostamos de chutão para a frente. É das primeiras pessoas com quem falo depois dos jogos”, revela.