Liga tem uma distância limite de 100 km para recintos alternativos, mas essa regra nem sempre é cumprida
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Entre dúvidas nalguns estádios, sujeitos a obras em contrarrelógio, e certezas ditadas por problemas de última hora, este arranque de época tem sido marcado por trocas de locais de jogo. O Casa Pia é um exemplo à parte, por ser um deslocado de longa duração, sem fim à vista, e o Tondela é o caso mais recente entre os clubes que andam com a casa às costas. É também a mais marcante das situações nos emblemas que disputam I Liga, II e Liga 3, considerando a distância que os adeptos tondelenses terão de percorrer. No total, são 215 os quilómetros (mais de duas horas) a separar o Estádio João Cardoso, temporariamente indisponível devido a problemas no relvado, e o Municipal de Rio Maior, eleito casa provisória dos beirões, que aí jogarão amanhã, diante do Famalicão.
Essa distância é mais de duas vezes superior ao limite máximo estabelecido pelos regulamentos da Liga para os estádios alternativos que os clubes podem indicar para o caso de não conseguirem utilizar o principal. Assim o diz o ponto 2 do artigo 29º do Regulamento de Competições (RC): “Os clubes devem indicar, até 20 dias antes do primeiro jogo das competições organizadas pela Liga Portugal em que participam, um ou dois estádios, sendo um destes obrigatoriamente o principal e o outro alternativo, o qual terá que se situar a uma distância máxima de 100 km do estádio principal, sobre os quais detenham título legítimo de utilização, em que se realizarão os jogos por si disputados na condição de visitado”. Uma regra aparentemente atropelada neste caso, porque, justificaram os beirões, não haveria nas proximidades nenhum disponível – e citaram Leiria, Aveiro e Coimbra – que atendesse aos critérios das regras da Liga para jogos do primeiro escalão. Aqui, a regra terá sido sagrada. O ponto 7 desse mesmo artigo do RC sublinha ser “admitida a alteração temporária de estádio no caso de obras exigidas pela Liga Portugal ou outra autoridade nos termos regulamentares e legais, cuja realização impossibilite a utilização desse equipamento desportivo ou de alguma das suas partes integrantes (o relvado, designadamente)”. Sem mais acrescentos aqui, sendo omisso a esclarecer se as distâncias limite são as mesmas do ponto 2.
Importa sublinhar, sabe O JOGO, que o Tondela não tinha indicado antes Rio Maior como estádio alternativo. A primeira “receção” dos tondelenses na I Liga acontece, assim, bem longe de casa, e não se sabe ainda se outras estarão em causa. Ontem, Ian Cathro, treinador do Estoril, até brincou com o assunto. “Já marcámos quatro hotéis porque não sabemos onde é que vamos jogar com o Tondela”, afirmou o escocês, projetando a visita da 4.ª jornada. O Casa Pia, que apresentou à Liga Rio Maior como casa principal e não alternativa, vive de arrendamento há quatro épocas. O Estádio Pina Manique nunca teve condições para disputar jogos da primeira divisão, o que tem obrigado os gansos a deslocações quinzenais de 85 quilómetros.
“Adeptos deviam ser indemnizados”
No meio destas andanças ficam os adeptos, que são quem mais sofre com as alterações. Extinto o Provedor do Adepto da Liga, que dava voz às queixas que estes tinham – e durante a vigência do cargo foram muitos os que lamentaram os horários tardios dos jogos em dias de semana, por exemplo -, o que existe agora é a hipótese de serem reportadas situações de desagrado, e outros reparos sobre vários domínios, no site da Liga, sem se saber ao certo o efeito prático disso, que, diga-se, também com o Provedor era limitado. A Associação Portuguesa da Defesa do Adepto (APDA) é a alternativa.Em declarações a O JOGO, Matha Gens, presidente da APDA, contou que, até ao momento, só recebeu queixas de adeptos sportinguistas, descontentes com o facto de o Troféu Cinco Violinos ter sido disputado no Jamor, uma vez que as obras em Alvalade não estavam concluídas. Estes casos de clubes deslocados é uma circunstância que condena. “É uma situação que implica maior deslocação e custos extraordinários para os adeptos, o que não é justo, nem correto. Se os clubes não têm condições para disputar jogos nos estádios, então, por que estão inscritos em determinadas ligas? Deve ser regulamentado com os respetivos promotores antes de se comprometerem”, defendeu. Ainda segundo Martha Gens, a definição de uma distância limite não chega. Os clubes, acrescentou, deveriam “indemnizar” os adeptos, designadamente através da disponibilização, sem condições, de transporte e bilhete gratuitos para os encontros. “Quem compra lugar paga para assistir a uma frequência de jogos, portanto, o promotor tem que repor”, rematou.
Casos
Tondela
Direção: Rio Maior (215 km)
Tempo danificou relvado
As condições climáticas adversas terão sido responsáveis pelo mau estado do relvado do Estádio João Cardoso, o que obrigou, explicou o clube, “a uma intervenção profunda” no tapete. As obras vão prolongar-se “mais do que inicialmente previsto”, não estando, por isso, descartada a possibilidade de os outros jogos em casa serem relocalizados, o que prolongará o transtorno dos adeptos. E não é claro se Rio Maior será sempre a alternativa, porque não foi apresentado à Liga como tal.
Casa Pia
Direção: Rio Maior (85 km)
O estádio que não anda
Sem data definida para começar as obras no Estádio de Pina Manique, situação que se arrasta há quatro anos, o Casa Pia começou por receber os adversários da I Liga no Jamor, antes de lhe ser garantida morada fixa no Municipal de Rio Maior. Ano após ano, o clube tenta começar as remodelações. Projeto já há, custo estimado de 15 milhões também, e o cenário mais otimista (tem sido sucessivamente esticado...) aponta agora para a época 2026/27. Os adeptos nunca viram um jogo de I Liga em Pina Manique.
Belenenses
Direção: Jamor (6 km)
Concertos estão primeiro
Determinado a rentabilizar o Estádio do Restelo para concertos e outros espetáculos de verão, o Belenenses vê-se sujeito a disputar alguns jogos na condição de visitado no Jamor. No entanto, revelou em comunicado Patrick Morais de Carvalho, o presidente, tal só deverá acontecer quando a equipa receber o Atlético, na sétima jornada, diante do Caldas, e contra o Marítimo, se vencerem o Amora num jogo a contar para a Taça de Portugal. Tal deve-se à calendarização de espetáculos para o recinto.
Lourosa
Direção: Olival (8km)
Sem bancada nem cobertura
A depressão Martinho, em março, destruiu a cobertura e parte de uma bancada, que cedeu, da Academia José Manuel de Oliveira. O Lourosa vai, por isso, jogar a segunda jornada da II Liga frente ao Chaves no Olival, casa do FC Porto B. A outra alternativa seria o reduto do Gil Vicente, mas, por questões de proximidade geográfica, os lusitanistas aceitaram a oferta de André Villas-Boas.
Oliveirense
Direção: Vizela (90 km)
Tapete novo protegido
A Oliveirense herdou a vaga do Boavista na II Liga e teve de disputar a primeira jornada, contra o Farense, no terreno do Vizela. O relvado do Estádio Carlos Osório foi mudado e não estava ainda pronto para o arranque oficial da temporada, que fora inicialmente programada para ser na Liga 3. Essa receção ao Farense terminou com um empate (1-1).