Último jogo sem restrições foi há um ano: "Sinto falta de puxar as orelhas aos árbitros"
Último jogo com público - e sem restrições - foi há 365 dias num Leixões-Farense, da Liga Sabseg, que teve 4234 espectadores. O JOGO juntou alguns dos adeptos que puderam ir ao futebol antes de as portas dos estádios se fecharem e todos eles falaram da falta que o desporto faz, essencialmente pelo convívio que desapareceu
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Faz esta terça-feira um ano que em Portugal se realizou o último jogo com público (e sem restrições). Foi num Leixões-Farense (1-1), no Estádio do Mar, a contar para a Liga Sabseg, que 4234 pessoas puderam ir à bola sem a obrigatoriedade da utilização de máscara ou a preocupação de manter o distanciamento social.
"Nem sequer consigo ver jogos na TV e só vejo os do Leixões. Sinto falta de puxar as orelhas aos árbitros"
Há um ano, parecia que o futebol - e o desporto, em geral - vivia numa dimensão diferente. Havia abraços, beijos, cumprimentos, lágrimas e tudo o que faz parte de quem sofre nas bancadas e é o sal e a pimenta do desporto. No entanto, a covid-19 mudou realidades e não deixou só os estádios vazios.
Um ano depois, O JOGO juntou cinco adeptos que estiveram presentes nesse encontro e deu-lhes a oportunidade de voltarem a entrar no Estádio do Mar. "Ai que saudades, até estou a tremer", afirma Carla Tavares, 43 anos, acompanhada de Valdemar Silva, Paula Sousa, Rita Bruneć e Tó Manuel. O barulho das máquinas que fazem parte das obras ao redor do recinto mudou a paisagem. A 9 de março de 2020, ainda havia o topo Norte do estádio, que ontem foi demolido.
Nessa altura, também ninguém sonhava que uma das paredes seria utilizada para pintar um mural de homenagem a Vítor Oliveira, o rei das subidas natural de Matosinhos falecido a 28 de novembro. É uma época cujo futebol só passa na televisão, mas nem isso serve. "Nem sequer consigo ver jogos na TV. Faço um esforço para ver os do Leixões. É estranho olhar para o Mar e não poder vir cá. Até sinto falta de puxar as orelhas aos árbitros", sorri Valdemar, 64 anos.
"Somos uma família e conhecemos quase toda a gente que vem ao estádio. É uma comunhão de amizades"
"O Leixões está enraizado em mim desde os 3 anos. Sou sobrinha, neta e bisneta de jogadores e fui tenista. Isto diz-me muito", acrescenta Carla Tavares. "Somos uma família e conhecemos quase toda a gente que vem ao estádio. É uma comunhão de amizades", valoriza Tó Manuel, 52 anos.
A Paula, 40 anos, ir ao futebol é mais do que ver um simples jogo. "A emoção alivia o stress da semana. Faz-me muita falta o convívio", conta, ideia partilhada por Rita, 24 anos, para quem o Leixões é melhor do que um químico para combater o transtorno de ansiedade, de que sofre. "Piorei desde que deixei de ver o Leixões e choro muitas vezes sozinha com saudades dos jogos e das pessoas", revela a adepta, que no pé esquerdo tem tatuado 1907, a data de fundação do Leixões.
"Um dos meus maiores desejos é voltar ao futebol", sublinha um desejo abafado pelo barulho de um avião em voo baixo, não fosse o Aeroporto Francisco Sá Carneiro ficar a poucos quilómetros de distância. "Quando passa um avião, é porque o Leixões vai marcar", brinca Paula. Só que neste momento onde estão adeptos, não estão jogadores e o esse anseio ainda tem que esperar. "Até já falam numa quarta vaga", lamenta Paula, ao lado dos amigos que acreditam ser uma espécie de "porta-voz" dos "milhões de adeptos" dos vários clubes desejos de que as portas do desporto se abram.
Obras geram preocupação
A reportagem efetuada no Estádio do Mar permitiu que estes cinco adeptos vissem de perto as modificações que o recinto está a sofrer. E não agradam. "Estamos preocupados com o futuro", avisa Tó Manuel. "Estas obras fazem-me muita confusão", considera Paula. "O Mar nunca mais será o mesmo", suspira Valdemar.