Técnico do Vizela entende que as manifestações dos adeptos nos dois primeiros dias "foi algo histórico" e, quando assumiu o lugar de Álvaro Pacheco, sabia que tinha de ganhar "num curto espaço de tempo."
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Depois de ser contratado para treinar os sub-23 do Vizela, Manuel Tulipa assumiu a responsabilidade de substituir, ainda na primeira volta, o histórico Álvaro Pacheco. Um treinador que ninguém no clube esquece.
Como é que foi a adaptação a um mundo novo?
-Este é um passo que já tinha dado muito jovem. Na altura, com 37 anos, fui dos treinadores mais jovens na I Divisão, quando fui para o Trofense. Agora, estou muito mais preparado. Esta transição, dos sub-23 para a equipa principal, tem um grau de dificuldade elevado, por tudo o que se fez no clube e pelo excelente trabalho do Álvaro. Chegar ao clube nesta altura carecia de ter uma pessoa com características muito próprias e que soubesse não abandonar as suas ideias e lidar com a pressão inerente à destituição de um treinador que foi marcante na história do clube.
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A herança de Álvaro Pacheco era pesada. Fez história e tinha um carinho especial dos adeptos. Sentiu alguma animosidade nos primeiros dias?
-Eu compreendi a posição dos adeptos. O que aconteceu no meu primeiro dia e também no segundo foi algo histórico, nunca acontecera em Portugal. Tínhamos cá os adeptos a manifestarem-se até contra mim, sem eu ter alguma responsabilidade. Mas eu percebo-os.
Porquê?
-Estas regiões têm pessoas com uma envolvência muito grande em relação ao que gostam e não podiam abandonar quem lhes fez muito bem. Tinha dois caminhos: ou ficava no conforto dos sub-23, e era uma demonstração de medo perante o cenário, ou aproveitava a oportunidade convicto das minhas ideias e da minha competência. Mas sabia que tinha de ganhar num curto espaço de tempo, porque inicialmente era uma aposta interina da administração.
Foi difícil...
-São os tempos difíceis que tornam as pessoas fortes. Foi um tempo difícil, mas fomos atrás dele. Foi importante ter todas as pessoas do clube a mostrar confiança e vontade de ajudar. E, depois, contámos com o mais importante de tudo: a comunicação com os jogadores, porque são eles que põem em prática as ideias do treinador. Houve uma simbiose muito grande que nos permitiu encontrar o nosso caminho. Se agora fizermos melhor ou muito melhor, as pessoas não podem esquecer-se do que foi feito pelo Álvaro. Fez coisas importantes e vai continuar a fazer na sua carreira.
Muitos entendidos davam-lhe três ou quatro jornadas para sair e afinal...
-Isso é muito comum ao futebol. Fazem-se juízos de valor muito rápidos das pessoas. Um treinador não pode ser um bom treinador se não tiver força, energia, as coisas bem arrumadas na cabeça e uma família forte. Eu tenho essa sorte. Vivo com a minha esposa há 32 anos, está lá nos momentos bons e nos mais apertados tenho a sorte de ter alguém que me ajuda.
Como ultrapassou a desconfiança com que foi encarada a sua promoção?
-Para quem não me conhece, na época passada, nos sub-23 do Marítimo, fomos às meias-finais da Liga Revelação. Viemos para os sub-23 do Vizela, saímos no primeiro lugar, com nove pontos de diferença para o segundo. E foi isso que fizemos: trabalhar e melhorar. Os resultados não podemos resolver, esses acontecem, o que podemos tratar é do jogo e do jogador. E foi isso que aconteceu. Quando me pediram para assumir a equipa principal foi por entenderem que tinha algumas virtudes. Fomos atrás do que gostamos que aconteça no jogo, foi muito bem assimilado pelos jogadores e, felizmente, as coisas têm corrido bem.