Com 29 anos, Hugo Falcão é um dos treinadores mais jovens do Campeonato de Portugal. Recentemente, após um ano em que rejeitou propostas, assumiu o Sintrense, que quer elevar de escalão
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O nome de Hugo Falcão não é estranho para os mais atentos ao que se passa no futebol português. Tornou-se no treinador principal mais novo a orientar uma equipa nos campeonatos profissionais em Portugal (Cova da Piedade) e agora aventurou-se no Campeonato de Portugal, com o Sintrense. Após duas vitórias, perdeu com o União de Almeirim a fechar o ano.
Esteve um ano sem treinar e agora escolheu o Sintrense. O que o levou a aceitar este projeto?
Essencialmente, o tipo de projeto, que tem como objetivo potenciar jovens. É um desafio aliciante. Mostraram-me tudo bem claro e definido e eu também gostava de treinar no Campeonato de Portugal, isso pesou na minha decisão. Não há projetos perfeitos, há coisas a melhorar, e a minha função também é tentar deixar as coisas melhores do que estão agora. O tipo de oportunidades que me foram dando neste último ano não eram de projetos com que eu me identificasse, porque não estavam reunidas as condições para fazer um bom trabalho.
Em três jogos, soma duas vitórias e uma derrota. O que pode fazer com esta equipa e o que mudou desde a sua chegada?
Tentamos perceber que tipo de jogadores tínhamos, o tipo de experiências que tiveram e o que nos podiam dar. Aproveitámos o modelo de jogo que tinha sido trabalhado - porque o trabalho realizado anteriormente também teve coisas boas. E agora podemos melhorar a nossa forma de jogar. Para valorizar jovens, temos de jogar como os melhores jogam. Vamos ser uma equipa que vai andar entre o meio da tabela, mas sempre com noção de que pode chegar aos lugares de play-off para a Liga 3.
O plantel do Sintrense é muito jovem. Falta alguma experiência para atacar este que é um campeonato tão difícil e competitivo?
Acho que falta e isso está já identificado. Vamos mexer e atacar janeiro de forma diferente, buscando reforçar o plantel. Temos de nos reforçar com três ou quatro jogadores. Mais experientes, mas entre os 24 e os 25 anos.
Destaca algum jogador que possa dar o salto?
David Teles, António Xavier e Bernardo Monteiro.
Quais são os objetivos do Sintrense para esta época?
O principal objetivo é estar na Liga 3 no próximo ano.
Depois de duas vitórias nos primeiros dois jogos com o novo treinador, o Sintrense perdeu, mas a ideia mantém-se
É um dos treinadores mais jovens do Campeonato de Portugal e detém o recorde de mais jovem a treinar nos profissionais. Os jogadores olham para si de forma diferente no balneário?
No Cova da Piedade tinha um plantel com gente com mais oito anos que eu. E foram jogadores que se calhar mostraram mais respeito, porque o jovem não é capaz de valorizar tanto o que é trabalhado fora e dentro do campo. Eu sou um tipo de treinador que não gosta de perder, mas quando ganho, não está tudo bem. E costumo dizer aos jogadores que não posso ter mais pressão que eles. E acho que os mais velhos se refletem nessa ideia, porque já passaram por mais coisas e sabem que o futebol pode dar muitas oportunidades, mas que fica difícil se não forem aproveitadas. Não existe isso de estar de pé atrás desde que mostres competência e esclareças tudo de forma frontal. Sou direto, não guardo para dizer e as pessoas valorizam essa sinceridade e frontalidade. A vida feita através do futebol não é para toda a gente e quem não estiver preparado para abdicar do extra e não pensar só no futebol, dificilmente vai jogar comigo. Levo isto muito a sério. E talvez tenha tido oportunidades mais cedo, porque defini bem o meu caminho. Tive propostas no último ano, mas não me identificava e não aceitei. Temos de justificar o nosso trabalho e acho que as coisas podem correr bem, independentemente da idade.
Como é que avalia a experiência no Cova da Piedade? O facto de ter assumido a equipa tão jovem trouxe alguma pressão extra?
Não mudou. Foi uma experiência fantástica. Tinha lá estado como adjunto e depois estava na hora certo e no lugar certo, as pessoas confiavam em mim, então queriam ir buscar outro treinador e eu fiquei e as coisas correram bem. Acho que foi positivo, treinei num campeonato profissional e acredito que tenho valor para voltar lá. Mas há muita gente com valor também e sei que as oportunidades para mim só vão surgir daqui a quatro ou cinco anos, porque agora optei pelo semiprofissional. Mas aprendi muito. Vou ter de subir a pulso e espero estar no lugar certo para me darem uma nova oportunidade.
Em Portugal dão-se oportunidades suficientes aos jovens treinadores?
Acho que há oportunidades para os treinadores jovens. Há muitas oportunidades. Mas às vezes o futebol é ingrato, uns fazem um bom trabalho e nunca são valorizados. E há mais oportunidades para quem foi jogador do que para quem vem da formação académica. Há muito com qualidade e depois acabam no estrangeiro. E nós somos um país pequeno, não há espaço para todos.
A vontade de treinar esteve sempre presente? Quando decidiu que queria ser treinador?
Quando passei ao futebol sénior. Naquela altura ou estudava ou jogava e preferi gastar dinheiro numa licenciatura. Decidi por este caminho e não me arrependo.
Quem é o seu exemplo de treinador?
Tenho duas referências. O Mourinho, fui muito adepto e acho que continua com coisas boas. E o Klopp, que é uma pessoa fantástica e com quem aprendi muito. É muito bom. Já não sou muito fã do Guardiola, por exemplo.
Onde gostaria de treinar no futuro?
Não sei se treinarei fora de Portugal, mas gostava de treinar em Inglaterra. É um dos campeonatos que mais me fascina. Ou na Alemanha. Gosto muito da forma como olham para o futebol nesses países.
Qual é o seu maior sonho no futebol?
O meu maior sonho é fazer de treinador de futebol a minha vida e estou a conseguir. Depois, seria, a longo prazo, vir a treinar numa equipa de I Liga. Tinha outro e já consegui, que era ser treinador principal numa liga profissional e no clube do coração.