"Treinadores do FC Porto são maus, arruaceiros, malcriados. Quando saem para outro clube são uns génios"
Pinto da Costa, presidente do FC Porto, deu uma entrevista ao Porto Canal este sábado.
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Continuidade de Sérgio Conceição: "Esperava e espero mais, porque uma das responsabilidades que me cabe diretamente é a escolha do treinador. Penso que não tenho escolhido mal, porque, se repararem, tivemos um treinador que era o mestre dos mestres, que infelizmente em janeiro de 1985 faleceu e uns meses antes teve de deixar a direção do FC Porto. Mesmo assim, com o seu trabalho, em maio de 1984 fomos a uma final europeia, que era uma coisa que constava do meu programa. Infelizmente, ele partiu e criou-se uma ideia nos sócios que agora nunca mais ganharíamos nada e que seria uma desgraça. Foi realmente uma desgraça perder um amigo, mas em termos de FC Porto não foi uma desgraça, embora ele pudesse ter feito um trajeto brilhante e posto o FC Porto ainda mais cá em cima. Mas é Deus quem escolhe quando nós partimos e escolheu esse fatídico dia de 7 de janeiro de 1985. Sabe quantos treinadores o FC Porto teve campeões a partir daí? Doze. Depois de se pensar que nunca mais iríamos ter um treinador que ganhasse, o FC Porto teve doze treinadores campeões. Teve o Artur Jorge, o Ivic, o Bobby Robson, o António Oliveira, o Fernando Santos, o José Mourinho, o Co Adriaanse, o Jesualdo Ferreira, o André Villas-Boas, o Vítor Pereira e, finalmente, o Sérgio Conceição. Portanto, não se pode dizer que nenhum treinador veio salvar... O FC Porto ganhou cinco provas europeias e, dessas cinco, sendo que duas são internacionais, porque são duas Intercontinentais, quatro foram ganhas por treinadores portugueses, que, até virem para o FC Porto, não tinham ganho nada. Portanto, o FC Porto recebe e recebeu muito de todos os treinadores, mas todos os treinadores se projetaram também com o FC Porto. O que é preciso é escolher um treinador que seja capaz, que tenha e sinta a mística. Se não a tiver, que perceba o que é o FC Porto e rapidamente a ganhe. Tivemos treinadores do FC Porto, como atualmente, que sentem o Porto, quer sejam treinadores ou não. Tivemos, por exemplo, o Artur Jorge, mas também tivemos treinadores, como o Mourinho, que não tinha nenhuma afinidade com o FC Porto e vestiu a camisola, viveu e transmitiu essa mística a todos. Agora, os nossos treinadores têm de saber uma coisa: quando estão no FC Porto, são maus, arruaceiros, malcriados e antipáticos. No dia a seguir saem para outro clube e são uns génios. O Mourinho era dos treinadores mais perseguidos pela comunicação social. No dia em que foi para o Chelsea, era o number one. Passou do atrevido, do insurrecto para o number one. Isso é o que os treinadores têm de saber: que vir para o FC Porto tem esse custo. Agora, quando se tem de escolher o treinador, tem de se sentir que o treinador é capaz de resistir a tudo isto e que se vai focar, como o Sérgio Conceição, apenas no seu trabalho. E o seu trabalho tem um objetivo, é ganhar. Pode não ganhar e, se tiver um bom trabalho, naturalmente que o respeitamos sempre. Agora, tem que ganhar. E felizmente, repito, depois do José Maria Pedroto tivemos 12 campeões no FC Porto."
FC Porto não joga sozinho: "Não, joga como diz o Pepe, que vamos ser o alvo a abater. E quando o Pepe diz que vamos ser o alvo a abater, não está a pensar que o ponta de lança do Arouca vai jogar com mais vontade contra o Porto do que contra o Benfica ou contra o Sporting. O que sabe é que um qualquer erro de um jogador do FC Porto vai ser martelado, um erro ou uma palavra do treinador vai ser explorada, uma palavra do presidente... Ui, isso vai dar para muitos programas. Felizmente nunca falo, porque eles também não querem que eu fale e nunca me convidaram para dar entrevistas. Outro dia um amigo meu me dizia: "Só falas para o Porto Canal". E eu disse-lhe: "Mas o que é que tu queres? Que chegue lá e diga estou aqui, sou o presidente, quero falar? Não me convidaram, não vou falar sem me terem convidado". Sei que sou persona non grata nesses sítios, falo onde querem. Não tenho nenhuma proteção ao Porto Canal. No dia em que fomos campeões, houve um canal, a SIC, que teve uma ideia que achei interessante, que foi acompanhar o meu dia a dia e disse que sim. Pediram-me e disse que sim. Se tivesse a dar um protecionismo ao Porto Canal, podia dizer que tinha tido uma boa ideia e fazer aqui. Não. Faço sempre com quem quer. Agora, não me ofereço, nem falo com qualquer pessoa. Se agora me viesse pedir para falar com esses artistas que andam ali a decifrar e vociferar, é evidente que não. Mas em todas as televisões dignas, capaz e que merece o meu respeito."