Clube transmontano apostou em Tony para o comando técnico, após descida ao Campeonato de Portugal. Antigo lateral esteve perto de treinar na 2.ª Divisão da Roménia; Ao fim de 14 anos tendo o mesmo técnico, José Manuel Viage, o Montalegre entregou um novo ciclo a Tony, ex-adjunto no Paços e uma das mais ilustres figuras desportivas da região barrosã.
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Barrosão de gema, Tony já treinara o Vilar de Perdizes numa primeira experiência como técnico principal e quer, agora, disparar de vez para uma carreira sem reservas no banco, comandando e procurando o mesmo sucesso que teve como jogador.
Depois da passagem pelo Paços, este convite do Montalegre que efeito anímico teve?
-O Paços queria que ficasse na estrutura. Agradeço o tratamento do presidente, um grande homem. Aceitar o convite do Montalegre vai ao encontro das minhas origens, a vontade de estar perto dos meus pais, derivado a problemas de saúde que têm. Junto o útil ao agradável. Gosto de treinar, de estar no campo e ao mesmo tempo fico próximo da família. Agradeço o convite do Montalegre, pois tenho relação muito forte com a terra.
Chega a Montalegre após trabalho na seleção dos Camarões e, agora, o Paços. Isto qualificou-o mais?
-Gosto muito de aprender e faço tudo ao meu alcance para evoluir como treinador. Já vivi várias experiências enriquecedoras, como foi, sobretudo, estar na seleção dos Camarões a trabalhar com Onana, Anguissa, Choupo-Moting e Aboubakar. Com todos tive bom debate de ideias e ficarei sempre agradecido ao António Conceição. Esta passagem pelo Paços também foi boa, apesar dos resultados não terem sido os esperados. Foi um privilégio estar com Gaitán, Luiz Carlos, Antunes e ver jovens a evoluir como Holsgrove, Matchoi ou Nigel. Cresci imenso na aprendizagem.
É verdade que esteve para treinar na Roménia?
-Não posso esconder isso. Mal acabou a época tinha tudo certo para ingressar num clube da 2.ª Divisão da Roménia. Cheguei a ter viagens marcadas, tudo acertado. Para mim e para a minha equipa técnica. Na véspera de apanhar o avião, contactaram-me e só queriam que fosse eu. Teria de trabalhar com adjuntos romenos, que não conhecia. Nada sabia do seu caráter e essência. Para dar esse passo é preciso ter gente de confiança e competente. Achei por bem não aceitar, mesmo que, financeiramente, fosse um convite muito bom. Há valores que prevalecem e dei a palavra aos meus homens. Estávamos a delinear um caminho em conjunto. Recusei... e sem tristeza.
Preparado para esta mudança de ciclo no clube?
-O Montalegre fez um excelente trabalho durante anos, mas a época passada foi um ano não, pela descida e perdas humanas. Houve um crescimento enorme, o presidente levou o clube a patamares inimagináveis e o Benfica jogou cá para a Taça. É de tirar o chapéu e valorizar. Agora é um virar de página, novas ideias, uma nova forma de pensar e organizar. Temos de ser competentes e trabalhadores. Dentro das dificuldades, sabemos o peso da interioridade para trazer jogadores. Os resultados serão conseguidos com seriedade. Sempre fui ambicioso. Tenho um trajeto exterior a esta região, embora agarrado às minhas raízes barrosã e transmontana. Quero transmitir a minha experiência aos jogadores num campeonato competitivo, onde temos orçamentos três vezes superiores aos nossos.
Aprender com Simeone e Guardiola
Tony valoriza a sorte de ter tido vários treinadores marcantes, enriquecendo-se em cada passo dado e não enjeitando a busca de mais conhecimento por conta própria, contactando com alguns dos melhores técnicos do planeta.
Conhecendo essa carreira de futebolista e a importância de vários treinadores, como se pode definir essa busca de conhecimento na pele de treinador?
-Fui um felizardo na vida, porque tive excelentes treinadores na minha carreira. Obviamente, destaco o António Conceição e o Paulo Fonseca. E ainda tive o privilégio de jogar as melhores competições, inclusive a Champions. Trabalhei com treinadores italianos, conhecidos pelo rigor tático. Mas também tive oportunidade de estagiar com Simeone, Guardiola, Galtier, De Zerbi... Acho que consegui acumular uma significativa bagagem, bebendo o máximo possível. Parecia uma esponja a absorver tudo.
"Identidade ousada e uma equipa ofensiva"
Com uma longa carreira, em que foi sempre uma carismática figura de balneário, Tony agarrou maior sucesso no Paços de Ferreira de Paulo Fonseca, que terminou com impensável acesso às pré-eliminatórias da Champions, bem como no Cluj, sucessivo campeão romeno e participante na prova milionária. "Identidade ousada e uma equipa ofensiva. Para termos resultados, os jogadores têm de sentir prazer no que fazem e no papel que agarram. Quero que se sintam confortáveis e expressem o que fazem com um sorriso na cara. Só quero mostrar uma caminho para um crescimento coletivo", indica.