Todos os números e uma surpresa: liga portuguesa é mais renhida do que a inglesa
A liga espanhola 2018/19 foi a mais competitiva da Europa, mas nem todas ficaram à frente da portuguesa. Por uma vez, a feroz Premier League saiu a perder e com boas razões, antes que torçam o nariz.
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Os 25 pontos entre o Liverpool (segundo classificado) e o Tottenham (terceiro), ou os 40 entre a equipa de Klopp e o Wolverhampton, sétimo classificado, são números mais habituais em Portugal, e os 16 do último classificado (Huddersfield) nem isso. São muito baixos seja qual for o termo de comparação.
A competitividade está muito atrás da liga espanhola, mas mantém-se ao nível dos titãs. Graças à Premier League.
Quem o diz é a fórmula matemática Noll-Scully, a mais reconhecida de todas as métricas para avaliar os balanços competitivos, a partir do desvio-padrão de pontos ou vitórias de cada liga. Quanto mais longe o resultado estiver do 1 (que corresponderia a uma repartição equitativa dos pontos por todas as equipas), menos competitivo é o campeonato.
A época 2018/19 foi a terceira menos competitiva deste ciclo de campeonatos a 18 equipas, sendo que só em 2016/17 os números colocariam Portugal entre as ligas mais renhidas. Dessas cinco temporadas, a anterior a esta, dominada pelo FC Porto de Sérgio Conceição, foi a mais desequilibrada, embora ainda longe da desproporção inglesa.
Estes resultados podem soar estranhos à primeira vista (a liga francesa equilibrada?), mas o primeiro lugar não faz o campeonato. Apesar do Paris Saint-Germain, o campeonato gaulês foi muito disputado, tanto na Europa como na zona das descidas.
Em Portugal, reduziu-se o distanciamento entre o quarto classificado (sempre o Braga) e o quinto, cifrado desta vez em 15 pontos. Tinham sido 24 em 2016/17, e apenas três em 2014/15. A regularidade suíça está na diferença do quinto classificado para o primeiro, desde essa época: 27 pontos, 30, 28, 37 e agora 35.
A estatística também nos descreve bem as diferenças entre candidatos. O ex-campeão FC Porto destaca-se nos remates que não consente e nos golos que não sofre; o novo campeão nos remates que faz e nos golos que marca. Aliás, estes dois só não repartem os primeiros lugares num item que dificilmente surpreenderá a crítica e os adeptos: a eficácia remate/golo. Nessa matéria, até o Sporting superou a equipa de Sérgio Conceição, com a qual se vai encontrar no Jamor, este sábado, para decidir a Taça de Portugal.
Na Premier League foram 25 os pontos que separaram o Liverpool (2.º) do Tottenham (3.º).
E se começámos por falar de equilíbrio, não se pode esquecer o Rio Ave, que pode ter sido a equipa decisiva no título e foi quinta em golos marcados, ou o quinto lugar do Portimonense no ranking dos remates tentados. O V. Setúbal foi a equipa mais faltosa e o candidato Braga perdeu a mão, como o FC Porto, na eficácia do remate, com um cinzento sétimo lugar, atrás de Rio Ave, Belenenses e Santa Clara.
Pizzi lidera seleção com o Benfica em maioria
O campeão Benfica é a equipa com a maior representação no onze que resulta das pontuações atribuídas pelos jornalistas de O JOGO ao longo da época. A pontuação mais elevada foi do regularíssimo Pizzi, que alinhou em todos os 34 jogos (sempre a titular), tendo sido o jogador da prova com mais assistências (19) e marcado ainda 13 golos.
Arrumados num sistema 4x4x3 - aquele que acomoda melhor os craques encontrados por esta estatística -, só três nomes não pertencem aos grandes. Ninguém teve direito à nota máxima - 10 - num jogo e Bruno Fernandes (Sporting), João Félix (Benfica), Douglas (Guimarães), Nakajima (Portimonense) e Rashidov (Nacional) foram os únicos a merecer uma nota 9.
Golos: melhor do que a Itália, mas ainda longe da Holanda
O campeonato português tem recuperado do marasmo e voltou a entrar numa fase expansionista, atirando a média de golos para os 2,7. Na Europa da bola, valeria um quinto lugar entre os campeonatos mais relevantes, ou um terceiro, se contabilizarmos os cinco principais. A Holanda (3,47 por jogo) é um caso à parte.
Golos aumentaram
Os 2,7 golos por jogo são a terceira melhor média das últimas 30 épocas. Se já espreitou o quadro acima, deve ter reparado que o número de golos deste campeonato é igual ao da edição anterior - não, não é gralha. A título de curiosidade, isto só aconteceu uma outra vez em todas as 85 edições do campeonato português: 1972/73 e 1973/74. Um dos fatores que contribuíram para o fermento dos números desta época foi o das goleadas fora de uso: os 10-0 do Benfica-Nacional ou os 1-8 do Belenenses-Sporting.
Suíço ficou longe dos anteriores reis do golo, mas fez a melhor época da carreira.
Um outro Seferovic
Seferovic chegou à Luz como goleador em potência e até teve um bom arranque, mas o modelo de jogo e o acerto de Jonas, bem como o de Jiménez, o primeiro suplente na hierarquia dos pontas de lança, roubaram-lhe o palco. Tanto assim que, no início desta época, mesmo já sem Jiménez mas com as chegadas de Castillo e Ferreyra, foi dado como dispensável.
Ficou por teimosia e fez a aposta da vida dele. Teve oportunidade depois de os outros e foi capaz de a agarrar com golos. Então desde que Lage lhe pôs o miúdo João Félix junto aos calcanhares descobriu-se um novo Seferovic. Instinto, capacidade física, disponibilidade para trabalhar e acerto. Em 29 jogos assinou 23 golos, todos de bola corrida.
NÚMEROS E DESEMPENHOS
8 chicotadas - Metade (nove) das 18 equipas mudou de técnico (o Chaves duas vezes) e oito dessas mudanças tiveram a ver com os maus resultados. Bruno Laje (Benfica) foi o treinador com a maior média de pontos por jogo (2,89).
22,5% bola parada - As jogadas de laboratório (bolas paradas, entenda-se) valeram 22,5% dos golos (186 em 826, 101 penáltis não contabilizados). Na época passada foram 23,5%.
24 de Soares Dias - Artur Soares Dias foi o árbitro mais vezes nomeado para jogos da I Liga: 24. Tiago Martins o que mostrou mais cartões (113) e João Capela o que mais puxou do vermelho (13).
3,5 milhões - Foram 3,5 milhões (3 577 720) de espectadores que assistiram ao vivo às emoções dos 306 jogos. Ainda assim, houve uma perda de 105 280 relativamente à época anterior.
115 penáltis - Foram assinalados 115 penáltis (101 deles convertidos), o que é o máximo das últimas cinco épocas, desde o regresso ao formato do campeonato com 18 equipas.
Título até ao fim
Com o FC Porto numa perseguição feroz, o título do Benfica, que fez uma grande recuperação com Bruno Lage, foi selado na última jornada, com uma vitória folgada sobre o Santa Clara.
Braga: queda abrupta
O Braga esteve na corrida maior. Quando começou a ceder, ainda apontava ao pódio, mas na fase final não aguentou o andamento dos grandes e ficou-se pelo quarto lugar.
Tondela: uutra salvação
Em quatro épocas na I Liga, só em 2017/18 o Tondela não se salvou da descida na última jornada. Desta vez aconteceu em casa, frente ao Chaves, num desafio a dois de matar ou morrer.