"Toda a gente falava no Uribe, podia jogar como central, lateral, box to box..."
O JOGO viajou pela carreira do médio que vai recuperando influência e deve jogar em Alvalade. A infância em Medellín e as inúmeras posições que lhe deram conhecimento total do jogo.
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Foi pelos caminhos de San Cristóbal, entre hortas, campos de flores, cascatas e riachos do bairro que se estende pela cordilheira nos subúrbios de Medellín que Matheus Uribe começou a moldar o talento que no verão o trouxe até ao Dragão.
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As ruas desta zona bucólica exigem força e o colombiano começou a evidenciá-la "com uns 10 ou 11 anos", quando alinhou no localmente famoso Torneio Pony. "Foi aí que o vimos pela primeira vez e ficámos impressionados", conta a O JOGO o preparador físico de Envigado, John Hernández. "Matheus era de estatura média e muito magro, mas tinha uma grande condição física, corria por todo o campo durante todo o jogo. Tinha muito carácter e já demonstrava algo que até hoje o caracteriza: destaca-se em qualquer posição de jogo e é um líder natural dentro das quatro linhas", sustenta.
A afirmação na posição atual (médio), porém, surgiu muito mais tarde na carreira, no regresso ao Envigado após uma passagem fugaz pelo Desportivo Espanhol, de Buenos Aires. A experiência não correu bem, mas deu-lhe outra determinação. "Foi um ponto de viragem", garante Ramiro Ruiz, presidente do clube onde os ex-portistas James Rodríguez e Quintero também se notabilizaram. "Todos os anos a Liga Antioquiana de Futebol organiza um torneio entre as várias equipas da região e, no de 2012, o agora portista ainda não era um jogador consolidado. Mas mesmo assim deixou-nos de boca aberta", recorda o jornalista desportivo de Medellín, Juan Carlos Rodríguez. "Toda a gente falava nele, perguntava quem era... Estavam impressionados, porque ele podia jogar, e bem, como central, lateral, box to box interior numa linha de três, trinco... Em todas as posições", explica.
Matheus é um herói no seu bairro, San Cristóbal, e, em menos de quatro anos, saltou dos subúrbios de Medellín para o Dragão. Uma ascensão gigante e que os amigos acreditam não ter terminado
De resto, o primeiro jogo que fez, em 2012, foi como... lateral-direito. Depois, passou pelas restantes até se fixar no meio. Afinal, é a zona de maior influência e Uribe conhece a forma de pensar dos jogadores de todas as outras posições. Só lhe falta mesmo ir à baliza. "Rapidamente o puseram no miolo, onde se destacou com um bom futebol aéreo e um bom posicionamento", diz o preparador físico do emblema colombiano, John Hernández. "Foi uma ascensão muito rápida", acrescenta.
América como ponte para o FC Porto
Depois de 102 jogos e 10 golos no Envigado, o salto para outro clube tornou-se inevitável. "Já o conhecíamos de jogos anteriores e estava impressionado pela seriedade do Matheus. Tinha muita potência, era muito versátil e tinha uma boa interação com os outros jogadores", lembra Ricardo Salazar, diretor-desportivo e olheiro do Tolima, clube onde Uribe confirmou o talento de centro-campista com tiradas de goleador, como se percebe pelos 13 golos marcados em 64 jogos. O Atlético Nacional agarrou-o pouco depois e o sucesso foi quase imediato. Apenas um mês após entrar na nova equipa, o colombiana já levantava a Copa Libertadores. "Foi uma época muito boa para ele. Começou a marcar a diferença mal chegou, com uma técnica impecável, aliada à parte física e a uma grande visão de jogo", relembra o jornalista colombiano Juan Carlos Jiménez.
Golo: conhecido pela facilidade em marcar no América, ainda não se estreou no FC Porto
Os títulos pelo Atlético (ainda ganhou a Copa Colômbia e a Recopa Sul-Americana) e a estreia pela seleção "cafetera" (2017) despertaram a cobiça de emblemas internacionais e, em 2017, a bomba-relógio explodiu: Uribe queria jogar no México. "Ele tinha-se convertido numa peça-chave do Atlético Nacional, que não o queria deixar ir, mas Matheus estava decidido", refere o jornalista da Rádio Múnera Eastman. Em agosto de 2017, o América, do México, confirmava a contratação, depois de um braço-de-ferro silencioso com o Tigres, outro clube mexicano que estava na corrida pelo internacional colombiano. Nos dois anos seguintes, Uribe foi batizado pela imprensa mexicana como "o motor do América". "A intensidade, dinâmica e alta competitividade do futebol mexicano são ideais para o futebol dele", nota o amigo do jogador e ex-futebolista Andrés Orozco, que também jogou na liga mexicana entre 2004 e 2007.
Depois de 79 jogos e 18 golos pelo América, o jogador partiu choroso rumo à Invicta com o vídeo de despedida que os mexicanos lhe dedicaram, mas determinado a triunfar. O clássico com o Benfica, na Luz, em agosto, fê-lo cair no goto dos amantes do futebol nacional. Domingo, com o Sporting, terá nova oportunidade para mostrar que o lugar que outrora foi de Herrera lhe assenta como uma luva.
"H" no nome por causa do estilo
A razão que leva Uribe a pedir para que o nome de Mateus seja estampado na camisola dos clubes com um "h" no meio é um enigma para os amigos. Há quem diga que a mãe do jogador, Adriana, sugeriu um dia infiltrar a letra muda no nome do filho para lhe dar mais estilo. Outra versão sugere que "Matheus" é uma alusão a Lothar Matthaus, o mítico jogador alemão que os pais do médio admiravam e que decidiram homenagear ao batizar o filho como Andrés Mateus Uribe Villa.