Gustavo Affonso Sauerbeck, 26 anos e já um trota-mundos: do Joinville, no Brasil, para a Arménia (Gandzasar), Coreia do Sul (Daejeon) e Bulgária (Botev Plovdiv) antes de pegar de estaca no Boavista.
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Gustavo Affonso Sauerbeck - conhecido por Gustavo Sauer -, 26 anos e já um trota-mundos: do Joinville, no Brasil, para a Arménia (Gandzasar), Coreia do Sul (Daejeon) e Bulgária (Botev Plovdiv) antes de pegar de estaca no Boavista. O percurso aguça uma curiosidade confirmada pelas respostas. Entre muita aprendizagem, houve sonhos e pesadelos até ao cenário ideal no Bessa.
Como é que um brasileiro vai parar à Arménia?
Não tive muitas oportunidades quando deixei a formação e isso no Brasil é normal. Tinha o sonho de jogar fora e tive a oportunidade de ir para a Arménia. No primeiro dia parti um pé, não joguei.
Foi sozinho?
Sim. Vivia com um colega mexicano. Sempre que íamos para a capital eram seis complicadas horas de viagem. Pensava que ia encontrar uma coisa e encontrei outra. Tive a lesão e pensei "E agora? O que vou fazer à minha vida?". Disse à minha família que ia ficar e dar o meu melhor para mudar a situação e levá-los para lá, mas não deu. Foi o pior momento da minha carreira. Sofri muito, a minha esposa teve problemas de ansiedade e depressão, só quem vive isso é que pode compreender.
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Essa experiência fortaleceu-o de alguma maneira?
Sim. Hoje, vejo as coisas com outros olhos. Quando se passa por uma situação dessas, uma pessoa fica chateada e triste, mas serve como experiência. Passei a valorizar coisas que antes não valorizava tanto.
Seguiu-se a Coreia do Sul. Como foram as coisas lá?
Fui muito bem recebido, eles tinham um respeito enorme, apesar de não ter um nome muito conhecido no Brasil. Consegui mostrar o trabalho. A cultura deles é muito diferente. Respeitam-te ao máximo. Uma vez perdemos um jogo por três ou quatro zero e os nossos adeptos aplaudiram-nos de pé, pela luta, entrega e respeito. Tinha uma ideia dos coreanos, mas vi que era totalmente diferente. São muito profissionais, muito qualificados, mas não têm muita confiança naquilo que podem fazer. Se eles tivessem um pouco mais de confiança, talvez tivessem uma liga mais conceituada.
Depois de as coisas terem corrido mal na Arménia, não teve medo de ir outra vez para um país muito distante?
Até tinha, mas tinha mais vontade de mudar esse cenário. Tentei tirar coisas mais positivas do que negativas. Isso fez-me mais forte, mais preparado, mais experiente para esse novo desafio.
Porquê a Bulgária a seguir?
Não tinha muitas possibilidades, não tinha muito mercado e a única coisa que apareceu era da Bulgária, por isso não podia pensar muito. Quando cheguei lá fiquei muito surpreendido, passei um ano e meio lá, mas os seis primeiros meses foram difíceis, por causa do frio e neve... treinar com neve... enfim. Mas no geral foi muito bom, foi uma experiência que valeu a pena.
Finalmente, cidade do Porto. Surpreendido?
-Não só eu fiquei surpreendido com a qualidade de vida aqui, como a minha família. A minha esposa disse que não sai daqui tão cedo [risos].
E o Gustavo pensa o mesmo?
-Sim, sim! Sinto-me muito bem, quando uma pessoa joga e tem uma sequência como estou a ter no Boavista, tudo ajuda. Influencia muito estar feliz. Têm sido, sem dúvida, os melhores meses da minha carreira, pela visibilidade que o campeonato português dá e por jogar numa equipa grande como o Boavista.
"O Mateus parece um jovem e já tem 30 e tal anos..."
Pedimos a Gustavo Sauer para apontar três jogadores que o surpreenderam no Boavista. O extremo ia lançado, mas parou antes do último. "Depois os outros ficam com ciúmes", disse entre risos. Ainda assim, destacou dois colegas de sector: "Mateus [na foto], pela maneira como encara o jogo, parece um jovem e já tem 30 e tal anos. O Yusupha, que estava lesionado quando cheguei e depois conseguiu apresentar um nível grandíssimo." Já Neris e Rafael Costa facilitaram a adaptação: Sauer foi colega do central no Metropolitano e do médio no Paraná.
"Sabia que o clube era grande, mas os adeptos..."
Quando o Boavista lhe bateu à porta, Gustavo já sabia ao que ia, mas nem por isso deixou de ficar impressionado com os adeptos, eles que foram fundamentais para segurar a equipa na I Liga
Os adeptos do Boavista começaram por acarinhar Gustavo Sauer logo à chegada e impressionaram-no com as sucessivas enchentes no Bessa, que foram fundamentais para somar pontos preciosos na luta pela permanência, admite o jogador. Os mais experientes ajudavam a afastar os nervos de uma camisola com peso.
O que lhe passou pela cabeça quando surgiu a proposta do Boavista?
Quando apareceu o convite, já conhecia a história do Boavista, já sabia que tinha sido campeão e alguns familiares já me tinham dito o quão grande é este clube, o quanto pesava esta camisola. E isso influenciou muito a minha decisão.
Houve algum aspeto no Boavista que o tenha impressionado?
Os adeptos. Desde o momento em que cheguei, fui muito bem recebido, tanto nas redes sociais como pessoalmente. Vejo um apoio muito grande.
Que importância teve a grande afluência de adeptos ao Bessa para o Boavista conseguir a permanência?
Todos os jogadores do Boavista, quando jogam aqui no Bessa, sentem que é algo diferente. Eles empurram-nos de uma maneira que só percebe quem está ali dentro. Quem joga e quem está no banco, sente da mesma maneira. Foi um ponto determinante para o Boavista estar onde está hoje.
Sentiam que antes de começar o jogo já estavam a ganhar?
Não digo isso, mas era o ponto mais importante, de certeza. Sentíamo-nos mais confiantes, com uma força a mais. Eles são o 12.º jogador.
Que jogadores mais conversavam e se preocupavam em não deixar a equipa ficar nervosa durante a luta pela permanência?
-Os jogadores mais experientes, como o Fábio Espinho e o Idris. Mas, no geral, todos sentiam que não podiam deixar passar a oportunidade que tínhamos a cada jogo em casa.
Trio ilustre serve como referência
Como jogador do sector ofensivo, não é surpresa que Gustavo Sauer tenha Messi, Neymar e Ronaldo como referências, ainda que cada um por motivos diferentes. "Gosto muito do Messi, apesar de ser argentino [risos]", atirou o jogador do Boavista, que a seguir enumerou um compatriota: "Neymar, pela forma como encara o jogo. Não é uma brincadeira, mas ele joga com alegria, com ousadia e isso encanta-me". Por fim, não podia faltar um nome português: "Cristiano Ronaldo, claro, pela força, vontade e profissionalismo."
Uma pilha de nervos na estreia
Gustavo fez a estreia com o Sporting, acabou de touca depois de um choque, mas deixou boas impressões. Crê que fazer a pré-época será uma grande ajuda. Reforço de inverno, Gustavo chegou com problemas físicos e teve de recuperar terreno. A ansiedade ia aumentando e atingiu o pico no primeiro jogo, mas valeu a pena esperar.
Entre a chegada e a estreia foi preciso esperar mais de um mês, mas o primeiro jogo foi logo em casa com o Sporting. Sentiu-se nervoso?
Para dizer a verdade, estava muito ansioso. Queria muito estrear-me e jogar. Passei seis semanas à espera e já não aguentava mais [risos], mas respeitava a opção, porque cheguei muito mal fisicamente. Tive uma lesão quando saí da Bulgária e, por isso, a adaptação foi um pouco mais demorada, tive de voltar à forma física que precisava.
O que lhe dizia o treinador?
Sempre tentou motivar-me ao máximo, chamava-me e dizia que tinha de estar preparado para quando chegasse a hora, porque a oportunidade surge de repente. E assim foi.
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Por tudo isso, sentia que tinha mesmo de deixar uma boa impressão?
Sim. Cheguei em baixo fisicamente, mas com muita vontade de mostrar o meu trabalho e sabia que a primeira imagem, como era um jogo com o Sporting, era a minha chance. As coisas correram bem, foi um grande jogo, não fosse a maneira como terminou...
Surgiu a lateral-esquerdo com o FC Porto. Já tinha feito a posição?
Não, foi a primeira vez.
E pode evoluir nessa função?
Acho que sim. Não é a minha função característica, mas se um dia o treinador precisar tenho de estar preparado. Todos os jogadores têm de ter duas ou três funções nas quais podem acrescentar.
Está nas condições ideais para crescer ainda mais?
Posso estar bem, mas acredito que posso render mais. Cheguei sem fazer a pré-época e isso conta muito. Agora, vou poder melhorar e subir o rendimento.
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