"Tinha um jeito de bater na bola muito característico, ela fugia dos guarda-redes"
A propósito do reencontro entre Estrela da Amadora e Vitória de Guimarães, recordamos o brasileiro tristemente falecido em 2016, quando era treinador da Chapecoense
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O Vitória perdeu as últimas três visitas à Amadora, como também perdeu a primeira, que aconteceu na época 1988/89, com um golo de Paulo Jorge. Foi no início dos anos 90 que se acentuaram os despiques entre amadorenses e vimaranenses, jogos sempre convidativos até pela presença de vários jogadores de nome na Liga, que vestiram ambas as camisolas.
Não faltam exemplos como Dimas e Paulo Bento, como Basaúla e Ricardo Lopes, ou como o malogrado Caio Júnior, o extraordinário avançado falecido em 2016, quando era o técnico da Chapecoense, que viu o avião despenhar-se na Bolívia.
Serve este encontro para recordar estes atletas e tributar o futebol refinado do brasileiro que chega a Portugal para atuar em Guimarães, vindo do Grémio. Caio marca 16 golos pelo Vitória em 1987/88, fazia o primeiro ano em Portugal, brilhando depois em 1992/93 no Estrela com um total de 13 golos, naquelas que foram as duas temporadas mais coloridas do seu futebol . O génio brasileiro desponta no castelo, chegando como sucessor de Paulinho Cascavel. Ademir Alcântara acolhe o compatriota, os dois juntos rendem 35 golos em 1987/88 dos 74 oficiais dos conquistadores: 19 de Ademir e 16 de Caio.
Ademir esteve na época goleadora de Guimarães em 1987/88 e Ricardo Lopes na grande resposta do avançado na Amadora, em 1992/93. Os dois viajam ao tempo do futebol refinado de Caio Júnior.
"Um jogador inteligente e um grande artilheiro. Tinha uma finalização muito boa e uma personalidade muito forte. Lembro-me dele de querer bater os livres, os penáltis, sempre foi de assumir o jogo. Nunca se escondia, era intenso no que fazia. Fez muito sucesso no Vitória, ficou um bom período e contribuiu na vinda de mais brasileiros. Deixou-nos muitas saudades", elogia Ademir.
"Era um homem de estudo e coragem, em tudo o que fazia. Destacava-se por unir os grupos, era inteligente e com grandeza de caráter. Tinha o dom da palavra que o ajudou a ser um grande treinador. Tinha o grupo nas mãos e os jogadores estavam sempre com ele. Nunca lhe faltou liderança como jogador e técnico", recorda outro dos mágicos do Vitória, conhecedor privilegiado de Caio Júnior.
"Tinha um jeito de bater na bola muito característico, ela fugia dos guarda-redes. E tinha um instinto apurado no posicionamento. Fez muitos golos e deixou saudades nos adeptos do Vitória e do Estrela", reconhece.
"Com ele era jogo bonito e muito vistoso. Tínhamos um entendimento muito bom, as características encaixavam, movimentava-se muito bem e abria espaço para os extremos", evidencia, lembrando a delicadeza do amigo falecido em 2016.
"Havia uma afinidade grande e sempre que ele vinha a Coritiba como treinador, chamava-me para nos recriarmos com a bola e sempre me entregava a camisola do clube onde estava. Era espetacular!", resume.
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"Fazia a diferença"
Depois do sucesso em Guimarães, Caio Júnior encontra uma segunda morada em Portugal, transita para a Reboleira e o impacto é imediato, empurrando o Estrela para um título da 2ª Divisão e consequente subida de escalão. Está com 28 anos e assina 13 golos numa época maravilhosa sob o leme de João Alves. Figura dessa equipa é também Ricardo Lopes, um avançado que mais tarde chega a Guimarães.
"Fiz uma carreira inversa à dele nos clubes. Era uma pessoa fantástica, como jogador nem se fala, tecnicamente de excelência. Fomos campeões no Estrela. É triste lembrar que já não está presente", desabafa.
"O Caio foi determinante para nós, fazia a diferença. Era ótimo privar com ele e ainda melhor jogar com ele, o entendimento era fácil, já sabíamos que ele ia fazer", argumenta Ricardo Lopes, enumerando um episódio ilustrativo.
"Lembro o jogo em Campo Maior em que subimos, foi uma grande festa na viagem e o Caio, como bom brasileiro, adepto de um samba, foi um dos que tomou conta das músicas na camioneta. Era assim, sempre esteve em todos os convívios", recorda o antigo atacante, compreendendo o salto para o banco.
"Percebia-se nos treinos que queria seguir carreira de treinador, tinha essa curiosidade e fez o seu percurso no Brasil. Adequou-se ao que se previa."
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