"Tiago Morais chegou a um nível bom para começar a pensar em estágios superiores"

Tiago Morais é a cara do novo Boavista. O avançado regressou ao Bessa após um ano de empréstimo ao Leixões e aproveitou a oportunidade para jogar num ataque que ficou sem Mangas, Gorré e Yusupha. O jogador de apenas 20 anos foi titular nos dois jogos da I Liga, soma 335 minutos e contabiliza dois golos, o último dos quais decisivo na vitória (2-1) na última jornada e que garantiu a liderança no campeonato no dia em que festejou o aniversário.

"O golo que marcou ao Estoril é de um avançado desinibido, que tem uma boa capacidade de drible, com uma potência boa para a idade que tem e com facilidade em jogar com os dois pés", analisa Jesualdo Ferreira, o treinador que lançou o avançado na I Liga, no dia 28 de dezembro de 2020, contra o Braga. Nessa dia passou a ser o atleta mais jovem de sempre a jogar pelo Boavista na I Liga, com 17 anos e três meses, superando João Vieira Pinto, que fez a estreia com 17 anos e cinco meses.

Ao ver o crescimento do atacante, Jesualdo Ferreira sente que este é um momento de enorme importância na carreira do jogador. "Chegou a um nível bom para começar a pensar em estágios superiores. Atenção, ele ainda não está lá, ninguém lhe diga que está, porque é mentira. Ele não pode acreditar nisso. Mas tem todas as condições para chegar lá cima. Quando lá chegar, vai discutir outros temas que, neste momento da carreira, são pouco importantes, como os contratos, as escolhas que tem de fazer e a pressão que vai ser exercida sobre ele. Sob o ponto de vista mental, se perceber isto e se estiver sempre focado em treinar e depois chegar ao jogo e pensar nele e na equipa, e não apenas nele e noutras coisas, o Tiago vai chegar a um nível muito alto."

Em declarações a O JOGO, o experiente treinador fala com carinho de Tiago, como preferia chamar-lhe, numa altura em que todos o tratavam por Morais. Nessa época de 2020/21, Jesualdo estava ao comando dos axadrezados e gostou do que observou na equipa de sub-23. "Vi dois ou três jogos e fiz questão de puxá-lo para cima. Naquela altura, na cabeça dele, era o maior. A verdade é que chegou um pouco com esse ar, mas quando começou a trabalhar connosco percebi que era mais humilde do que parecia e que tinha uma vontade muito grande de ser alguém no futebol. Era um miúdo que ouvia bem, que tinha muita qualidade e que acreditava que ia chegar a níveis muito altos", recorda o treinador de 77 anos, elogiando a atitude do avançado. "No grupo não fazia ondas, ia atrás daquilo que ele entendia que seria o melhor para ele. Nunca teve um comportamento fora daquilo que é desejável para um profissional."

Nessa época do batismo na I Liga, em 2020/21, Tiago Morais começou por jogar em casa contra o Braga, seguindo-se três jogos fora, diante de Marítimo, Benfica e Sporting. Jesualdo Ferreira quis ver, desde logo, a resposta do jovem em testes de elevado grau de dificuldade. "A primeira perspetiva que tive foi no sentido de perceber como é que ele era e o que podia ser em jogos de intensidade mais alta, com maior carga de emoção. Era importante saber se se tratava de um jogador que se sentia mais pequeno contra as grandes equipas em estádios como a Luz e Alvalade", explica Jesualdo, recordando a conversa que teve com o atleta após esses testes. "O que ele me disse foi que aqueles ambientes não o atormentaram. Com 17 anos, e tendo em conta a situação difícil em que o Boavista se encontrava, deu uma excelente resposta."

Desde a estreia na I Liga passaram quase três anos e Jesualdo nota uma evolução no avançado. "Evoluiu sob o ponto de vista técnico, mas, acima de tudo, no entendimento do jogo. A partir daí foi fácil adquirir os conselhos que lhe dava", sublinhou, revelando ainda algumas indicações que lhe deu quando trabalharam juntos. "Sempre lhe disse que era importante que ele percebesse as qualidades que tinha, porque não tinha de jogar apenas por fora".

"Agora é a fase de afirmação, a mais difícil para ele"

Cedido ao Leixões na última época, Tiago Morais bateu todos os recordes como sénior em termos de jogos (33), golos (4) e assistências (2). "Teve oportunidade de jogar mais. Esteve na II Liga e não desaprendeu, bem pelo contrário", destaca Jesualdo Ferreira, deixando algumas palavras em jeito de conselho. "Teve uma boa evolução, sustentada, e agora é a fase de afirmação, provavelmente a mais difícil para ele. Ainda não tem estatuto e tem é de pensar em treinar bem todos os dias, continuar a ser humilde e tentar melhorar o seu jogo".