"Tem de se deixar de olhar para o guarda-redes como elo mais fraco em Portugal"
Palavras de Beto, antigo internacional, e um dos grandes padrinhos da instituição do Dia Nacional do Guarda-Redes, celebrado hoje como ideia concebida por Roberto Rivelino
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Surgido em 2015, o Dia Nacional do Guarda-Redes é uma ideia de Roberto Rivelino, atual treinador de guarda-redes dos sub-17 do Al Ula, da Arábia Saudita, e detentor da página "O Mundo dos Guarda-Redes". O projeto concebe uma homenagem ao posto, bem como ao transcendente papel desempenhado num jogo por um personagem único, que pode, sozinho, mudar o cariz de um encontro. Procurando ser também uma base de união e partilha de ferramentas no que toca à valorização do guarda-redes e exaltação das suas competências, o dia tem merecido o envolvimento de vários destacados guarda-redes do futebol português, que aprovam este meio agregador do trabalho feito em diferentes clubes e distintas realidades.
"É algo que surge no seguimento do trabalho de valorização dos guarda-redes em Portugal que fui fazendo ao longo dos anos. Senti que além daquilo que fiz pelos guarda-redes e pelos seus treinadores específicos, ao dar-lhes uma cara, uma imagem e uma voz, seria muito importante que houvesse um dia em específico para a celebração de uma função muito específica no desporto e na sociedade", justifica Roberto Rivelino, o rosto entusiasta desta iniciativa que rapidamente acolheu notável aceitação.
A definição de um tributo no calendário também teve a sua razão de ser. "Pensei bastante na data específica para criar este dia, pensei em muitas datas de nascimento ou outros marcos importantes para os guarda-redes, mas não descobri nada maior do que a data em que houve um guarda-redes a defender a baliza de Portugal pela primeira vez. Daí cheguei à figura do Carlos Guimarães, ainda desconhecida, e ao primeiro jogo oficial da federação, em 1921, contra a Espanha", explica Rivelino, um jovem que tem procurado abrir portas seja a principiantes como a profissionais. "O guarda-redes vive uma vida de uma forma diferente dos restantes, não só pela sua especificidade, mas também pela exigência e cobrança que lhe impingem. Às vezes olhámos para eles como algo muito diferente, mas nós, na nossa vida social. muitas vezes sentimos o que um guarda-redes pode sentir no jogo ou no treino: quando nos acometem alguma injustiça, quando somos quase perfeitos num trabalho e só por uma coisa que nos falhou somos julgados", atesta, impondo a necessária reflexão. Também empresta o balanço. "Nove anos depois de ter criado a data, e apesar de já ter sido celebrado em grande escala, especialmente para a dimensão do país, sinto que é algo ainda um pouco desconhecido, mas cabe aos guarda-redes tomarem este dia como deles, porque este dia dignifica-os e eleva-os", sublinha.
Quem nunca falha no suporte à causa é o antigo internacional Beto, campeão europeu em 2016. O homem que defendeu a baliza do Sporting, FC Porto, Braga e Sevilha curva-se a quem procura enaltecer e oferecer outro prestígio aos heróis da baliza. "Faltam treinadores que valorizem a posição e lhes entreguem também, não só a responsabilidade de defender, mas, igualmente, o protagonismo e voz. À parte de ser cultural, não é algo que não se possa mudar. Dou o exemplo da Turquia, em que se começou a valorizar a contratação do guarda-redes estrangeiro, sempre que fosse uma mais valia e, desde esse momento, começamos a olhar para a importância que tem esse elemento no jogo", realçou ao JOGO, centrando-se na realidade mais próxima. "Em Portugal, falta deixar de olhar para o guarda redes como o elo mais fraco na hora de criticar. Sinto que falta conhecimento de jogo. Aqui todos percebemos que é mais fácil criticar um que 10, porque a maioria não sabe analisar o jogo.