Targino trabalhou na construção civil, nas Caraíbas, numa fábrica de produtos de higiene e, depois de “Os Sandinenses”, aceitou em boa hora ser adjunto de Quim Berto no Brito, clube que alcançou a permanência no Campeonato de Portugal
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Tiago Targino vive, no Brito, onde é adjunto de Quim Berto, a segunda experiência como treinador. Antes, estivera em “Os Sandinenses”, com Júnior Santos, filho de Paulo Ricardo (jogador, nos anos 80, de Vitória, FC Porto, Marítimo, Portimonense, Varzim e Ac. Viseu).
“Quero agradecer o convite do míster Quim Berto e do Brito. Estou muito feliz por fazer parte da história: batemos o recorde de pontos do clube no Campeonato de Portugal”, começou por dizer, resumindo “uma experiência incrível”. “Aprendi bastante, com o míster, mas também com o Miguel [Campos, o outro adjunto], que entende bastante do jogo e do treino, e com o Parauta [Ismael Lopes, treinador de guarda-redes], que tinha sido meu colega no Os Sandinenses. Sinto que também tive um papel importante, ao fazer a ponte entre a equipa técnica e os atletas, que não é fácil, mas foi bastante agradável”, afirma, revelando que já tirou o curso UEFA B (Nível II), em Vila Real.
Após uma carreira de jogador com muitos pontos altos e baixos, Targino está a dar tudo para desempenhar o papel pretendido. “Estou a preparar-me para ser um bom adjunto. Sempre admiti isso, nunca tive a ambição de ser o líder de uma equipa. Sei o perfil que tenho, Quim Berto foi bom por me dar funções que não estava à espera e consegui corresponder. Com os jogadores, tentei passar-lhes boas mensagens do que fiz em tantos anos que joguei futebol, procurei ajudá-los psicologicamente para que estivessem mais preparados para enfrentar os treinos e os jogos”, detalha. “As experiências negativas fazem-nos aprender”, acrescenta. “O que tento sempre passar aos jogadores é que, num contexto amador, devem treinar como profissionais [todos do plantel são semi-profissionais]. É essa a filosofia que Quim Berto tem passado. Tenho outra sensibilidade com os jogadores; se entram em caminhos menos bons, consigo antecipar mais rapidamente, porque tive momentos menos bons na minha carreira, mas também tive bons. Essa experiência fez com que crescesse e esteja agora mais preparado para integrar uma equipa técnica e ajudar os jogadores”, sublinha.
Pai de três filhos (o Santiago e a Maria, gémeos com três anos, e a Pilar, de um ano), Targino está “num contexto gratificante”. “O futebol é a minha vida, sei o que podia e prefiro focar-me no que posso dar do que tentar ser o que se calhar não vou conseguir”, defende. Em Guimarães todos conhecem a sua história, assume. “Nunca escondi, dei sempre o corpo às balas e as pessoas gostam disso. As pessoas de Guimarães sabem que luto por um futuro melhor, sem medo de enfrentar algumas situações menos boas da vida. Muitos antigos jogadores têm alguma dificuldade em enfrentar situações adversas, não foi fácil entrar na vida laboral, tive alguns trabalhos mais pesados, trabalhei na construção civil, nas Caraíbas, e numa fábrica de produtos de higiene, aqui na região. Foi um aprender a respirar novamente, porque nunca dependi de ninguém”, declara, com orgulho. “Tenho uma família para cuidar e fui em frente. Tinha sempre o desejo de voltar ao futebol, e conciliar isto tudo não é fácil, mas quem gosta do futebol tem de pensar dessa forma. É essa resiliência que nos faz crescer e ser melhores treinadores e melhores pessoas”, finaliza, com um sorriso tímido.
Três referências a servir de modelo
O “grande segredo” da equipa técnica de Quim Berto foi saber “inverter a situação e liderar os treinos”. “A intensidade que exigimos a todos os jogadores poderia não surgir no primeiro ou no segundo jogo, mas daria frutos mais adiante”, salienta o treinador, que aponta três grandes referências do passado. “Vou dar um exemplo daquilo que é liderar um grupo: Vítor Oliveira. Foi das melhores coisas que tive na vida. Não olhava para o Vítor como treinador, mas como um líder. Também aprendi muito com Jaime Pacheco, Quinito, Marinho Peres, pessoas que tiveram carreiras de excelência como jogadores e que atingiram altos patamares. O Quinito era o treinador do charme, aquele que jogam estes 11 e os outros têm de esperar para agarrar o lugar”, recorda, acrescentando sobre o malogrado Vítor Oliveira o que Diogo Cunha, agora no Espinho (AF Aveiro), disse, recentemente, numa entrevista. “Nunca o ouvi dar um berro, quando entrava no balneário ficava tudo em silêncio”. “O Vítor era mais do que isso, só a forma de olhar para nós e a reação dele dizia-nos muita coisa. Não precisava de falar muito, transmitia-nos gestualmente o que queria. Olhávamos para ele com muito respeito, como um líder que, independentemente de tudo, era um homem de princípios que só funcionava pela cabeça dele”, conta, emocionado.