Taremi fascina iranianos: "Devia ser candidato ao Puskás das assistências, foi fenomenal"
Ali Hajisalem, jornalista e compatriota do avançado, ajudou O JOGO a tomar o pulso ao impacto que a exibição do portista em Roma teve no Irão. Horário do embate com a Lázio colou milhares à televisão.
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O estatuto de herói que Taremi detém no Irão não é um fenómeno recente, mas o avançado do FC Porto continua a encontrar formas de surpreender o país onde nasceu.
Consistência de Taremi na hora de assistir espanta os compatriotas. Passe para Uribe visto como "uma espécie de Puskás"
A mais recente teve Roma como palco, com Mehdi a assumir-se como figura decisiva no empate (2-2) com a Lázio, que selou o apuramento dos dragões para os oitavos de final da Liga Europa. O atacante marcou o 15.º golo da época através de uma grande penalidade, mas foi o lance do segundo tento, anotado por Uribe, que ficou na retina dos compatriotas.
"A assistência foi fenomenal. Uma espécie de candidatura ao prémio Puskás das assistências", atirou a O JOGO e entre risos o jornalista iraniano Ali Hajisalem, numa alusão ao galardão que o camisola 9 dos azuis e brancos viu fugir para Erik Lamela na recente gala da FIFA.
A consistência demonstrada por Taremi no capítulo do último passe tem sido motivo de fascínio entre os persas e leva o colaborador da agência "Fars" a categorizá-lo como "um avançado completo e total". "As pessoas estão espantadas com a precisão e o progresso que ele tem demonstrado nesse aspeto", refere, ainda sob o encanto do passe açucarado com que o dianteiro brindou Uribe.
E não se pode dizer que é só no Irão que Mehdi vai merecendo destaque. A assistência na capital italiana foi a 11.ª que Taremi fez na presente temporada e colocou-o como segundo melhor entre os avançados-centro que atuam no "top-6" das ligas europeias. O internacional iraniano surge a par de Benzema (Real Madrid) e o duo só é superado por Mbappé, estrela do PSG que soma 13 ofertas em 2021/22. O portista surge, portanto, ao lado de duas grandes figuras do futebol mundial. "As estatísticas falam por si. Ficamos orgulhosos com este tipo de comparações", sublinha Ali Hajisalem.
Em termos pessoais, Taremi está a um passe para golo de igualar o registo da época passada e a competência que tem demonstrado é recebida como uma boa notícia pelos iranianos, que, para lá dos golos, esperam ver a mesma qualidade a definir ao serviço da seleção.
"Ainda não tinha visto esta faceta dele. Está a melhorar noutros aspetos do jogo e nós, como povo dele, só podemos estar felizes com isso. Deixa-nos esperançosos em relação à seleção. A evolução não deixa de surpreender, especialmente nas assistências. Mas o Taremi sempre foi muito bom em termos técnicos", ressalva o jornalista.
No decorrer da conversa, foi também possível perceber que o horário do Lázio-FC Porto permitiu que milhares de adeptos iranianos pudessem ver Taremi em ação em direto, algo que nem sempre é possível, fruto da diferença de três horas e meia entre Portugal e o país do Médio Oriente. Porém, na quinta-feira, o pontapé de saída foi dado às 21h15 iranianas.
"Trata-se de um dos jogadores mais populares da atualidade. O horário foi bom, porque permitiu que muita gente pudesse acompanhar o Taremi ao vivo. A exibição deixou-nos ainda mais felizes", rematou Ali Hajisalem.
De resto, a Imprensa fez eco da grande atuação do avançado. O portal "Varzesh3" escreveu que Taremi "silenciou o Olímpico de Roma", enquanto a agência "Fars" destacou a "exibição brilhante". O avançado do FC Porto foi, aliás, nomeado para Jogador da Semana da Liga Europa, mas o mais votado acabou por ser Ricardo Horta, do Braga. Sem essa distinção, Taremi "recebeu" outra, quiçá mais valiosa: o reconhecimento reforçado do país onde é idolatrado.
Portista e Sardar Azmoun dividem esperanças persas na Liga Europa
É sabido que os adeptos iranianos vibram sobremaneira com o sucesso dos compatriotas no Velho Continente e, no que à Liga Europa diz respeito, as esperanças da conquista do troféu estão depositadas em Taremi... mas não só. Sardar Azmoun, recentemente transferido do Zenit para o Leverkusen, é a outra estrela persa do momento.
"São os dois jogadores iranianos mais populares e todos querem que as coisas lhes corram bem", explicou Ali Hajisalem, que admite indecisão na hora de optar. "Se FC Porto e Bayer se defrontarem, não sei por quem é que os iranianos vão torcer. As pessoas estão divididas, mas, se um deles vencer a prova, haverá motivo para celebrar no Irão, isso é certo", finalizou.
3 questões a Bruno Moreira, avançado do Trofense
"No Rio Ave já via que ia muito além do golo"
1 - O Bruno jogou com o Taremi no Rio Ave. Como foi o processo de adaptação dele ao futebol português? Já se percebia que não ia tardar a dar o salto?
-O processo de adaptação foi relativamente fácil, devido à personalidade dele, a um caráter cinco estrelas, tranquilo, trabalhador... Um pouco à imagem do que era o balneário do Rio Ave na altura. Adaptou-se com relativa facilidade e logo na primeira semana de trabalho vimos que estava ali um jogador diferenciado. Com o passar do tempo, percebemos que tinha margem de progressão para ser um avançado de topo. A chegada à Europa foi algo tardia, mas há jogadores que se sentem confortáveis a jogar em casa, no caso dele na Ásia. Depois lá surgiu a oportunidade e o desafio de jogar em Portugal.
2 - Não foi preciso muito tempo para perceber que o futebol português tinha um novo goleador. Porém, no FC Porto, Taremi tem juntado muitas assistências aos golos que marca. Foi algo que adquiriu após a mudança de clube?
-O Taremi é um avançado com golo, mas eu treinei e joguei com ele e, sinceramente, já via que ia muito além disso. Dá muito mais à equipa do que os golos que marca. Daí a importância dele neste FC Porto do Sérgio Conceição, por tudo aquilo que dá para lá da finalização. Tornou-se num elemento fundamental, porque é um jogador muito inteligente, que percebe o jogo, os tempos, os espaços, as movimentações dos colegas. Tem essa capacidade de ler o que se passa em campo.
3 - Enquanto trabalharam juntos no Rio Ave, era exigido algum tipo de trabalho mais específico ao Taremi em termos de movimentações na frente de ataque? Ele sempre demonstrou vontade de evoluir?
-Trabalhávamos muito a parte ofensiva, no aspeto da finalização, da procura de espaços nas costas dos defesas e em apoios... Nesse tempo, o Taremi cresceu muito e isso também se deve ao trabalho que o míster Carlos Carvalhal fez com ele. Foi a primeira experiência dele no futebol europeu e conhecemos um Taremi mais tímido, recatado, em adaptação, sempre disposto a receber ensinamentos e a aprender. Acredito que, neste momento, esteja mais desinibido, mas continua humilde. Isso é importante para todos os jogadores, ainda mais para quem vem de uma cultura diferente. Nota-se que tem a confiança das pessoas do FC Porto e o melhor dele está à vista.