Pertence a Guimarães mas separa os dois concelhos, pelo que é uma vila onde se dividem os adeptos dos dois clubes, ao ponto de alguém ter decidido criar a definição de uma Faixa de Gaza
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A dimensão do dérbi entre Braga e Vitória tem particular exposição, uma súbita confrontação, na Vila das Taipas, onde se torce pelo Caçadores das Taipas e onde se dividem paixões pelos guerreiros e conquistadores, mesmo pertencendo a terra ao concelho de Guimarães, o que geralmente determina uma só cor. Taipas separa o eixo geográfico das duas principais autarquias minhotas, uma linha separatória que também se reflete em afetos clubísticos distintos, discussões mais acesas ou animados bate-bocas. Sem desrespeitar o sofrimento de Gaza, onde as mortes, as imagens de massacres e desespero, nos atordoam e agoniam todos os dias...houve quem definisse Taipas, em tempos, como a Faixa de Gaza entre Guimarães e Braga. E o certo é que conseguimos ir ao encontro desse debate, apalpando corações ao rubro pelas duas equipas. Ângelo Freitas, professor nas Taipas, dá a voz pela ligação a Braga.
"Sou um taipense com forte inclinação para ser adepto do Braga. E Isso é comuns aos taipenses puros, pois as verdadeiras famílias das Taipas são muito mais ligadas ao Braga. Também temos vitorianos por cá, mas foram aparecendo nas últimas décadas, fruto do crescimento da nossa vila em termos de habitação. Vieram e colonizaram-nos e agora há essa grande divisão entre taipenses do Braga e taipenses do Vitória", explica Ângelo Freitas, discorrendo a sua visão da sensível adoção do termo Faixa de Gaza.
"Temos algumas picardias aqui, mas de salutar, para que não esmoreçam essas paixões por uma e outra equipa. Fala-se disso da faixa, porque temos um rio que divide Guimarães para um lado, Braga para outro. Mas nós mantemo-nos calmos, não se resvala para comportamentos estúpidos", disseca, analisando o frenesim na vila...o sentimento a disparar.
"Quando se aproximam os jogos, o clima aquece nos cafés, nos bares. Os de Guimarães são mais acesos a lançar provocações. No final quem ganha, fica feliz mas nos últimos vinte anos se o Vitória ganhou ao Braga três vezes foi muito. O Braga distanciou-se muito pela sua estrutura, montou uma grande organização nas últimas duas décadas e está apetrechado à medida do futebol moderno", elogia, já antecipando um desfecho na Pedreira.
"Quanto ao resultado, espero que vença o Braga e o mais natural é que o consiga. Tem bons jogadores, boa equipa e o histórico diz-nos que é difícil que se perca este jogo. O ano passado aconteceu o tal golo do João Mendes, mas espero que o Braga ganhe para bem dos taipenses puros. Braga dá-nos mais felicidade que Guimarães", diz.
Vitorianos dominam nas Taipas
Marco Silva está do outro lado do rio, no que são as emoções e palpitações futebolísticas. Este dono de um restaurante torce inequivocamente pelo Vitória. "Não tenho dúvidas que estamos em maior número, somos uma força maior nas Taipas, apesar dos resultados e do crescimento do Braga. Ganharam expressão de apoiantes mas os vitorianos ainda reinam", relata, refletindo a respeito do bairrismo e das brigas locais, que resultam de traços de identidade e suportes históricos.
"Essas palavras de espanhóis e marroquinos é só uma forma simpática de nos provocarmos ou provocar o inimigo. É uma rivalidade, mas podemos ser amigos. Eu vivo em Guimarães mas faço vida em Braga, tendo mulher bracarense. A tensão tem de ficar só no campo. E isso da Faixa de Gaza é por ser o ponto central entre Braga e Guimarães. Cerca de 90 por cento das pessoas do concelho são do Vitória, o Braga realmente só aparece a partir de Taipas", confessa Marco Silva.
"Sendo um ponto central com muitos cafés, bares, restaurantes, as pessoas reúnem-se muito, picam-se um pouco, mas sem extremismos", evidencia, espreitando as intenções nas quatro linhas.
"É um dérbi quente, aguardo duas equipas a jogar bom futebol e espero que o Vitória faça uma grande partida, ao nível do que tem feito. Que ganhe para alegria de todos que vão a Braga, pois vão 40 autocarros. Há sítios nas Taipas onde convivem mais vitorianos, outros com mais bracarenses mas, no final, somos amigos na mesma. Estes jogos fazem falta e deviam ter mais ênfase no calendário. Este é um dos grandes ambientes do futebol português", observa Marco Silva.