O JOGO analisou as estatísticas e confirmou a suspeita de Conceição: nunca o FC Porto tinha sido tão avassalador na casa do rival.
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Sérgio Conceição saiu da Luz como o único treinador do FC Porto com duas vitórias em casa do arquirrival, em jogos do campeonato.
Sérgio Conceição tornou-se no primeiro treinador da história do FC Porto a vencer dois clássicos da Liga em casa do Benfica, depois do 1-0 alcançado na época de estreia no banco portista
Mas, o que a equipa portista fez no último clássico foi histórico por mais razões: este foi o jogo entre os dois candidatos com a maior diferença de remates a favor do FC Porto no novo Estádio da Luz (desde 2003), e, acima de tudo, nunca o Benfica tinha terminado um clássico com os dragões em casa - neste milénio e, provavelmente, desde que há registos - sem ter feito qualquer remate enquadrado com a baliza.
Neste ainda fez dois, mas em lances que foram anulados por fora de jogo. As cinco tentativas foram todas para fora e até esse número constitui um recorde desde 2000, como se pode ver na infografia publicada aqui ao lado. Já agora, outro dado curioso: a última vez que o Benfica tinha ficado em branco numa partida do campeonato diante dos seus adeptos fora a 15 de abril de 2018... precisamente diante do FC Porto de Sérgio Conceição.
Deixando as questões táticas de lado, as estatísticas são elucidativas: a diferença esteve na finalização e na capacidade que os portistas tiveram para travar os ataques do adversário.
Foi a vitória mais gorda do milénio - e desde 50/51- num clássico em que os dragões não consentiram um único remate à baliza de Marchesín. Noite histórica para o FC Porto, superior em toda a linha
"Talvez tenha sido a vitória mais categórica que me lembro de ver. E digo isto sem vaidade; mas no sentido de ver uma equipa a chegar e a dominar o adversário. Fizemos jogo de grandíssima qualidade, ao limitar os pontos fortes do Benfica e a explorar as fragilidades que esta equipa também tem. Acho que o jogo posicional do nosso duplo pivô [Danilo e Uribe] foi irrepreensível. Obrigámos o Benfica a circular por fora. Em termos ofensivos, tivemos critério no processo, chegámos de várias maneiras, e é uma vitória justíssima da nossa equipa", analisou o técnico dos dragões, após um triunfo por 2-0, mas com mais três excelentes ocasiões de golo desperdiçadas. Uma opinião partilhada por Manuel Machado. "Não me recordo de que, em momentos anteriores, alguém tivesse ganho com uma superioridade tão evidente, fruto de uma estratégia ousada, baseada numa pressão alta e na superioridade na disputa dos duelos", referiu a O JOGO Manuel Machado, atualmente sem clube.
Três questões a Manuel Machado
1 - Qual foi o segredo para o FC Porto vencer no Estádio da Luz?
-Passou por três coisas. Primeira: a atitude e o alto nível de motivação com que o FC Porto se apresentou, que teve que ver com um passado recente de rendimento mais baixo; havia a necessidade de dar uma resposta e de fazer deste jogo um ponto de viragem. Segunda: a estratégia ousada, baseada numa pressão alta e na superioridade na disputa dos duelos. Terceira: a estrutura tática, com aquela superioridade no terço central, onde o Benfica só apresentou dois médios.
"Não me recordo de superioridade igual"
2 - Sérgio Conceição revelou que terá sido o jogo em que o FC Porto exerceu um domínio mais categórico na casa do Benfica. Lembra-se de algo semelhante em clássicos?
-Francamente, já vi o FC Porto ganhar no Estádio da Luz e o Benfica no Estádio do Dragão, mas não me recordo de que, em momentos anteriores, alguém tivesse ganho com uma superioridade tão evidente. Digo isto sem qualquer tipo de cor e com o máximo de respeito pelos dois emblemas. Já o disse: ganhou quem melhor jogou.
3 - Que tipo de efeito produzirá este resultado e esta exibição nas duas equipas?
-Acredito que vá dar outro moral ao FC Porto. Agora, estas equipas não podem apresentar flutuações. Não subscrevo o que foi dito do FC Porto após os jogos menos conseguidos com o Gil Vicente e o Krasnodar, nem o que, de certa forma, alguns analistas diziam do Benfica antes deste clássico. Nem o FC Porto era uma equipa muito fraca, nem este resultado faz com que seja uma superequipa; e o inverso também acontece com o Benfica. Eventualmente, poderá levar a uma quebra do alto rendimento e do futebol de alta qualidade que o Benfica vinha apresentando no último terço da época anterior, que transitou para esta pré-temporada e que continuou com o início da época oficial. Mas a amostra ainda é muito pequena. O campeonato só está na terceira jornada. A telha não faz telhado, nem a parte é o todo.
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